O Ministério do Transportes e a crise do PR

Do Valor

Denúncias teriam como origem conflito interno no PR

Caio Junqueira | De Brasília
05/07/2011

O estágio de conflagração interna que atingiu o PR era ontem apontado por seus integrantes como principal motivo das denúncias que levaram ao afastamento de quatro integrantes do partido da cúpula do Ministério dos Transportes.

O alvo a ser atingido era o secretário-geral da legenda, deputado Valdemar Costa Neto (SP), que tem o controle absoluto de todas as instâncias partidárias da legenda. Em fevereiro, foi dele a decisão de abrir o processo de expulsão da sigla do deputado Sandro Mabel (GO), líder da bancada entre 2007 e 2010, por concorrer à presidência da Câmara contra Marco Maia (PT-RS). À época, não foram poucas as trocas de ameaças entre Mabel e Valdemar antes da eleição para a Mesa da Câmara. Se fosse mesmo candidato, alertava Valdemar, o PR o expulsaria e ele poderia perder o mandato. Se fizesse isso, rebatia Mabel, ele “contaria tudo” sobre Valdemar.

Ontem, negou qualquer interesse em prejudicar o dirigente. “Eu não sei nada da vida dele. Há seis meses não falo com ele, não tenho nada para vazar. É fácil agora jogar as coisas para cima de mim”, disse Mabel ao Valor. Na disputa judicial com o partido, já conseguiu uma liminar em primeira instância que lhe dá ganho de causa e aponta possíveis irregularidades no processo disciplinar movido contra ele.

EntrEntretanto, o diretório regional do PR em Goiás, comandado há anos por Mabel, Valdemar trabalha para oferecê-lo a José Francisco das Neves, o Juquinha, presidente da Valec até sábado, quando Dilma ordenou seu afastamento após as denúncias de corrupção no ministério. Também de Goiânia, ele foi eleito deputado pelo PSDB em 1998, mas no meio do mandato, em 2001, filiou-se ao PL, atual PR.

Outra indicação de Mabel, o Dnit goiano, também estava sob ameaça. Seu indicado, Alfredo Neto, balança no cargo desde os problemas com Valdemar e o diretor-geral afastado do Dnit, Luiz Antonio Pagot, já havia sinalizado sua substituição em breve. O posto é estratégico para qualquer liderança do Estado e havia sido conquistado por Mabel em janeiro de 2009, após ficar sob comando do ex-governador Maguito Vilela (PMDB) por seis anos.

Tamanha sua importância que dentro e fora do PR alguns integrantes já haviam manifestado interesse. O PRB – que com o PR e mais seis “nanicos” formam um bloco parlamentar com 64 deputados – reivindicava algum espaço em troca do bloco idealizado por Valdemar. O Ministério dos Transportes, de acordo com correligionários, era um alvo, embora o presidente do PRB negue esse interesse. No entanto, Valdemar havia sinalizado alguma concessão à legenda e a substituição de quadros dentro da Pasta, o que também acabou por desagradar a setores do PR, já insatisfeitos com a gestão de Pagot.

Ele é criticada pelos correligionários pela falta de atendimento e excesso de privilégios a seu Estado, Mato Grosso, e a concentração de esforços em “Estados-chave” como Amazonas, do ministro Alfredo Nascimento. Além disso, há revolta quanto ao fato de ele não ter devolvido o cargo de diretor de planejamento e pesquisa do Dnit a Miguel de Souza, ex-vice-governador de Rondônia e presidente regional do PR no Estado, que se desligou do cargo para concorrer a deputado federal em 2010. Derrotado nas urnas, Pagot não lhe devolveu o posto e o ministro Nascimento o nomeou assessor especial. 

Luis Nassif

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