Relatórios da ditadura dizem que Delfim tinha plano para tomar o poder

Sugerido por Braga-BH

Do iG

Delfim tinha esquema para tomar o governo, dizem documentos da ditadura militar
 
Por Vasconcelo Quadros
 
Relatórios de órgãos de informação da época concluem que ex-ministro – homem forte do regime – teria alavancado esquema de corrupção para chegar ao Palácio do Planalto
 
Dois relatórios de órgãos de informação do regime militar encontrados no Arquivo Nacional, em Brasília – um da Aeronáutica e outro do Exército –, aos quais o iG teve acesso, insinuam que o ex-ministro Delfim Netto, czar da economia da ditadura, teria alavancado um esquema de corrupção para pôr em prática um plano que o levaria ao governo de São Paulo em 1974 e, depois, ao Palácio do Planalto.
 
Os dois informes foram produzidos em períodos distintos. O primeiro, de maio de 1969, é uma espécie de alerta da comunidade de informação ao governo militar. Diz que o homem forte do regime, “movido por ambição pessoal desmedida”, fez pactos com grupos econômicos nacionais e internacionais com a intenção de chegar ao topo do poder.
 
“Seu objetivo imediato é enriquecimento pessoal. Seu objetivo mais remoto é o de sustentação financeira de um plano político que o conduziria ao governo do Estado de S. Paulo, na pior das hipóteses”, descreve o informe. Em seguida o autor sugere: ”Delfim Netto aspira à própria Presidência da República”.

 
Informado pelo iG sobre o conteúdo dos relatórios através de e-mail enviado a sua assessoria na quinta-feira, 17, Delfim não respondeu. Informes, como se sabe, são peças parciais e incompletas de espionagem e, sozinhos, não têm valor jurídico. No caso de Delfim, revelam que ele era bombardeado pelo fogo amigo dentro do próprio regime militar, num período encoberto pela censura imposta pelo Ato Institucional nº 5 (AI-5), do qual foi defensor e signatário.
 
O ex-ministro foi alvo constante de monitoramento. Em sua pasta no Arquivo Nacional, além de um suposto plano de sequestro pela esquerda armada, abortado entre o fim 1969 e início 1970 pelos próprios órgãos de informação, há fartura de referências citando supostos esquemas de corrupção. Em 1974, antes de assumir o governo, o ex-presidente Ernesto Geisel recusou a indicação de Delfim para o governo paulista, embora o pedido tenha partido de seu antecessor, o general Emílio Garrastazu Médici.
 
Em entrevista ao jornalista Roberto D’Avila, da Globonews, sobre os 50 anos do golpe, Delfim contou ter ouvido de Médici que Geisel argumentou que os militares temiam perder o poder com sua eventual ascensão à política. “Não quero porque ele, com a Avenida Paulista, vai tomar o governo”, teria dito Geisel a Médici, segundo Delfim.
 
Joia da coroa
 
O suposto esquema de corrupção é detalhado num relatório de 14 páginas difundido no governo pelo Centro de Informação do Exército (CIE), o informe número 721, de 21 de dezembro de 1971, com o título “Ministro Delfim Neto – Villar de Queiroz”. É uma referência ao ex-diplomata José Maria Villar de Queiroz, que foi embaixador, assessor do Ministério da Fazenda e encarregado de negociações externas. O informe diz que ele foi personagem “indispensável” e “figura mais importante do esquema Delfim, por se tratar de pessoa com importantes ligações na área internacional”. Procurado pelo iG através de um e-mail de contato fornecido pelo Ministério de Relações Exteriores, Villar de Queiroz não retornou.
 
O informante do CIE traça um perfil de Villar de Queiroz para insinuar que o diplomata, em nome do então ministro da Fazenda, atendia pedidos de Delfim e, ao mesmo tempo, representava os interesses de grupos internacionais fortes àquela época, como o Safra, Sammy Cohen, León, José Cândido Ferraz e Pacovitch. “Há, ainda, os grupos internacionais, de banqueiros e operadores em financiamentos na área do eurodólar”, escreve o informante.
 
Segundo o informe, Villar de Queiroz era o responsável pelas negociações internacionais (inclusive do reescalonamento da dívida) de todos os ministérios importantes ao longo dos sete anos (entre 1967 e 1974) em que Delfim reinou como o civil mais importante no regime militar.
 
A estratégia do então ministro, diz o relatório, era controlar integralmente as áreas de fazenda, finanças, comércio exterior e o que na época era considerada a joia da coroa, o Instituto Brasileiro do Café (IBC), a autarquia mais importante do governo no comércio internacional – responsável à época por exportações da ordem de US$ 1 bilhão por ano.
 
Primeiro-ministro
 
O informe diz ainda que para tocar os negócios internacionais Delfim montou o “grupo do Ministério da Fazenda”, que controlavam os mais importantes cargos públicos e comandavam empresas privadas com interesses no governo. Além do ex-embaixador, lista outros onze nomes.
 
Para manter o funcionamento da máquina e a boa imagem da política econômico-financeira de Delfim, o gabinete do ministro, através de um assessor de imprensa, mantinha, segundo o relatório, um esquema poderoso junto aos veículos de comunicação. (…) “Política que interessa, sobretudo, aos grupos internacionais (…) que atua no Brasil em termos de agiotagem oficializada”, escreve o agente.
 
A rede, segundo o informe, mexia em todas as peças sensíveis do governo e da iniciativa privada para garantir poderes a Delfim. “Não resta dúvida de que jamais houve um esquema tão poderoso no Ministério da Fazenda, esquema que reúne a corrupção e a subversão de esquerda; negócios internacionais, intrigas políticas na área do governo; sinecuras para os elementos do grupo; tratamento desigual para os que não se integram ou não cooperam; manipulação de imensas verbas do ministério; permuta de interesses em detrimento do governo”, escreve o informante.
 
O relatório conta que um ex-presidente do IBC Mário Penteado Faria e Silva foi derrubado do cargo porque resistiu aos “negocistas do café”, que queriam fechar transações na modalidade de “contratos especiais” com o governo.
 
O informante detalha um suposto caso de adulteração: um dos homens de Delfim, quando ocupou interinamente a presidência do IBC, teria usado um líquido especial – “um método primário” – para apagar os números de um contrato e, no lugar, colocado uma quantidade bem maior do produto, como supostamente queria o comprador, a extinta gigante americana de alimentos, General Foods. O ex-presidente da autarquia estava em Londres na ocasião e, ao retornar, foi substituído por insurgir-se contra os “contratos especiais”.
 
A conquista do IBC, segundo o relatório, teria multiplicado a influência de Delfim. “Ele representa, sem sombra de dúvida, a maior força dentro do governo, um verdadeiro primeiro-ministro sem as desvantagens da oficialização do cargo de premiê”.
 
O relatório descreve uma teia de conspiração política traçada por Delfim para livrar-se de adversários internos, até tornar-se o ministro mais poderoso do regime militar. A última meta, depois de assumir o controle sobre fazenda, finanças e negócios internacionais, seria conquistar o Instituto de Resseguros do Brasil (IRB), com o que conquistaria “poder total na área financeira”.
Redação

23 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Ué, mas o MOTTA ARAÚJO já

    Ué, mas o MOTTA ARAÚJO já explicou que na ditadura não havia corrupção, que corrupção é produto da Democracia.

    E agora?

  2. O AÉTICO E A EMBAIXADA DOS 10%

    Foi sempre estranho, exótico, displicente, menos em relação a favores para seu grupo e para ele mesmo. Se algum dia morrer – não acredito – duas frases terão que ser encampadas na sua última e definitiva morada.

    A primeira, como Ministro da Fazenda: ‘O GOVERNO É OBRIGATORIAMENTE AÉTICO’.

    Ninguém contestou na época, ele muito poderoso, perigoso, mas dadivoso.

    embaixada

    A segunda, como frequentador da boemia do Rio, ainda ministro, sempre cercado pelos meninos (não da Vila Belmiro) que o adoravam, a reciprocidade era verdadeira. Textual: “Os dias do Poder são extraordinários, mas as noites, ah!, as noites do Poder são embriagadoras”.

    Tendo sido agredido “pelos seus meninos”, o grande jornalista Oliveira Bastos ainda foi processado no STM, (Superior Tribunal Militar) que em plena ditadura, se recusou a julgar o jornalista, arquivou o processo.

    http://tribunadaimprensa.com.br/?p=7446

    ***

    INTRIGA?

    Quem sabe mais sobre?

    Em uma recente entrevista – concedida ao mesmo profissional da imprensa, Roberto D’Avila – Delfim mensionou – de passagem – a tentativa frustrada de um ‘general’ liderar um golpe contra o honorável F.H.CADEMIC CARDOSO.

    1. Ph.Delfim

      Aproximadamente 18 obras de arte sumiram da Embaixada do Brasil em Paris, e nenhum servidor da Embaixada sabe explicar como as obras desapareceram do local.  De acordo com reportagem publicada pelo Correio Braziliense hoje, o assunto vem sendo tratado de forma sigilosa pelo Ministério das Relações Exteriores, que abriu uma sindicância para apurar o caso.  

      Obras procuradas:
      – Tapete Boukara, Royal Russo, feito à mão (3,50m x 2,28m)

      – Tapete Mesched, com borda em rosa, fundo azul (2,30m x 1,60m)

      – Quadro de Marilu do Prado Wang, intitulado Enchaté (0,97m x 0,78m)

      – Quadro de Gilda Basbaum, obra Volume I (0,90m x 0,90m)

      – Quadro de Orlando de Magalhães Mollica, intitulado Mulher espichada (1,80m x 0,70m)

      – Quadro de Orlando de Magalhães Mollica, intitulado Homem espichado (1,80m x 0,70m)

      – Quadro de Chico Liberato, intitulado A vida é da cor que pintamos (1m x 1m)

      – Quadro de Waltrand, intitulado Rodinha (0,40m x 0,50m)

      – Quadro de Gervásio Teixeira (0,25m x 0,25m)

      – Montagem de João Franck da Costa, intitulada Peixe (1,25m x 0,68m)

      – Litografia antiga, com moldura em madeira dourada, intitulada Quinta da Boa Vista (0,68m x 0,63m)

      – Gravura Ana Letícia, de 1967 (0,77m x 0,59m)

      – Gravura representando mapa antigo, com moldura em madeira dourada e vidro (0,71m x 0,55m)

      – Fotografia do Rio de Janeiro (0,60m x 0,45m)

      – Fotografia do Rio de Janeiro (0,70m x 0,55m)

       

  3. O mesmo de sempre.
    Salada de

    O mesmo de sempre.

    Salada de informações de dificil comprovação, algumas verdadeiras e outras não, muitas ilações e conclusão muito provavelmente equivocada.

     

  4. Se Delfim Neto tivesse dado o “golpe”. . .

    Se Delfim Neto tivesse dado o “golpe”, que não poderia ser chamado de golpe, pois o governo voltaria para as mãos de um civil, com certeza o Brasil não teria ficado estagnado por tanto tempo. A década de 80 e início dos anos 90, foram os piores possíveis para a economia brasileira e especialmente para os trabalhadores , graças à ataboalhada política de Geisel de desestimular a prospeção de petróleo no Brasil e de investimento em obras megalômanas como a rodovia transamazônica e outras.

    1. A Transamazônica,

      ou Transamargura para os críticos, não começou com o “Alemão”, e sim com o Médici! O Geisel  certamente nunca iria aprovar um projeto maluco desses.

      E a propósito de Geisel, para não aprovar o Delfim no governo de São Paulo, provavelmente andou lendo esses informes agora divulgados.

  5. Nassif! não me racha a cara.

    kkk…é Nassif,  vai ter que rever certos conceitos; “não me racha a cara!” antes, José Serra deu no que deu! agora o Delfim!!! kkk…

  6. Esta parte entrega tudo: “Não

    Esta parte entrega tudo: “Não resta dúvida de que jamais houve um esquema tão poderoso no Ministério da Fazenda, esquema que reúne a corrupção e a subversão de esquerda.”

     

    Subversão de esquerda com Delfim?

    1. É impressionante mas,

      É impressionante mas, infelizmente, não é surpreendente. Esses malucos estão por aí até hoje. E mais: se reproduzindo e “lutando” pra virar “moda” esse tipo de maluquice… E cheios de disposição pra “pegar mulher”!

  7. O ” GORDINHO SINISTRO “, ja

    O ” GORDINHO SINISTRO “, ja tinha perdido as esperancas dessa figura malevola, homem forte de todos os regimes militares, promiscuo e dissimulado ser desmascarado, muito me alegra o homem dos 30 % ser exposto como o crapula que sempre foi e nao como deputado e comentarista de economia.

  8. Bingo!

    Uai, mas não é por isso que a Dilma tinha um plano de sequestrar o Delfim? Hahahaha! A falha de Sun Paulo tava certa, rapaziada!

  9. Se os fascínoras…

    Se os fascínoras ditadores e seus asseclas torturadores e, verdadeiramente, corruptos, fizeram esse registro sobre o Delfim, dos mares da ditadura, vou começar a rever as restrições que sempre lhe fiz, enquanto, homem e administrador público, porque, certamente, em algum momento o “Gordo” foi de encontro às pretensões do regime ditatorial, ou, teve a intenção de reverter o poder aos civis.

     

  10. O relato pode ter fundo de verdade

    O Brasil é, historicamente, um país de golpistas. Logo, se Delfim já estava mesmo no centro do poder, não é implausível que ele pensasse em tomá-lo dentro das “regras do jogo” . Até o PT entrou no esquema, com o mensalão.

    Se o PT entrou, por que Delfim não poderia?

    A descrição do esquema lembra o mensalão. Tomar e manter-se no poder mediante esquemas de corrupção e aparelhamento, tudo isso como meio que justifica o fim, marcado por políticas de distribuição de renda, combate à desigualdade, etc. Delfim poderia pensar dessa forma naquela época, ao seu modo. Não considero fora de cogitação.

    Delfim, que gosta de se declarar um socialista fabiano, ia dar um golpe nos golpistas. É possível que o informe se reporte a fatos verdadeiros, não duvido.

  11. Delfim & Lorotas

    O Delfim, ao chegar ao ocaso da sua miserável e desprezível existência, inicia a divulgação de uma série de  histórias absurdas como essa. Como o ‘gordinho sinistro’ poderia ameaçar o poder do grupo de generais fascistóides que derrubou o Presidente João Goulart ? O Delfim nunca passou de um pseudo-intelectual e pseudo-economista a serviço – principalmente – dos grandes capitais . Como bom serviçal, seu papel era manter na economia brasileira  as políticas impostas pelo governo dos Estados Unidos para tornar o Brasil dependente dos investimentos estrangeiros e deixar que a ‘escola de Chicago’, liderada pelo Milton Friedmann, comandasse a economia durante a ditadura militar. Na verdade, Octávio Gouveia de Bulhões e Roberto Campos, durante o período ditatorial do renegado Castello Branco, iniciaram as práticas que depois foram consolidadas pelo Delfim. Em nenhum momento é citado o “Relatório Saraiva” que mostra um dos seu esquemas de corrupção. Faço um apelo a este abominável senhor:   DEVOLVA AS OBRAS DE ARTE LEVADAS DA EMBAIXADA  BRASILEIRA EM PARIS !!!

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador