Sem preparo: Brechas do GSI, Exército e PRF permitiram invasão de bolsonaristas

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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GSI e Exército falharam sem Batalhão da Guarda Presidencial suficiente e demora em plano. PRF teve falta de comandos para prever riscos

Batalhão da Guarda Presidencial era insuficiente para conter criminosos invadem Congresso, STF e Palácio do Planalto – Foto: Marcelo Camargo/ABr

Atos suspeitos de dentro de comandos da segurança institucional e do Exército abriram brechas para a invasão e a demora na reação da força policial contra os bolsonaristas que tentaram golpe de Estado, no úlitmo domingo (08).

Um dia antes à invasão, no sábado, um pelotão de 36 homens do Batalhão da Guarda Presidencial foi dispensado, por escrito. O Batalhão é uma unidade do Exército, vinculada ao Comando Militar do Planalto (CMP). Mas a ordem de dispensa teria vindo do GSI, Gabinete de Segurança Institucional, segundo releva reportagem do Estadão.

O jornal informa que o GSI convocou apenas o efetivo normal do Batalhão, retirando cerca de 36 guardas – que são armados com fuzis – de sábado para domingo.

O efetivo mobilizado foi muito inferior ao que acionado em outras situações – em 2017, por exemplo, quando Michel Temer foi alvo de uma ação de Black Blocks, foi acionado um contingente 15 vezes superior.

Somente quando os bolsonaristas já estavam dentro das sedes dos Três Poderes, no Planalto e Granja do Torto, por volta das 15h do domingo, é que o chefe do Comando Militar do Planalto (CMP), general Henrique Dutra Menezes, ativou mais 133 homens e equipementos de choque para o Planalto.

Ainda, segundo o jornal, o pedido não deveria partir do chefe do CMP, mas do próprio GSI. A atuação única do general é que teria motivado o Gabinete de Segurança Institucional a começar a reagir e formalizou o Plano Escudo.

O Plano prevê a proteção do Planalto, Alvorada, Jaburu e Granja do Torto. No caso deste domingo, a ativação permitiu o envio de mais duas tropas de reforço, com 93 e 118 militares, que chegaram ao local posteriormente.

O ministro do GSI escolhido por Lula é Marco Edson Gonçalves Dias, general da reserva. Tem a confiança do presidente e chefiou a segurança de Lula nos 8 anos de seus mandatos anteriores, ainda dirigindo a Coordenadoria de Segurança Institucional do governo de Dilma Rousseff.

Mas o Gabinete não é formado somente por Dias, que tampouco havia conseguido nomear os demais membros de sua equipe. O ex-chefe do GSI, general Augusto Heleno, substituiu boa parte dos integrantes da pasta, muitos deles ainda permanecendo.

Em um primeiro momento, o governo não conseguiu identificar todos os integrantes de todos os gabinetes dos Ministérios que seguirão a cartilha de Lula ou que, possivelmente, ainda podem apoiar estratégias a favor do ex-presidente Jair Bolsonaro.

A desconfiança sobre estes servidores e nomeados só aumentou após a tentativa de golpe frustrada no último domingo, como mostramos aqui.

Por outro lado, outros órgãos estratégicos e de inteligência também falharam para o desfecho ocorrido.

A Polícia Rodoviária Federal (PRF), por exemplo, sofreu diversas exonerações do governo Lula, desconfiado com o ex-comando da PRF, Silvinei Vasques, investigado de omissão e de ter contribuído para ilegalidades durante o segundo turno das eleições e a não desobstruição das vias públicas pelos bolsonaristas.

Além de Vasques, o governo Lula exonerou 6 dos 14 membros do núcleo de inteligência da PRF. E apesar de a medida pretender diminuir riscos, na prática, membros da PRF narraram à colunista Malu Gaspar, de O Globo, que houve brechas e vácuos no trabalho de investigação e detecção de riscos das rodovias, justamente pela falta de funcionários.

De acordo com integrantes da PRF, a demissão massiva impactou setores de inteligência em, pelo menos, 50 pontos regionais. Sem estes comandos superiores, servidores de nível hierárquico abaixo teriam ficado sem ordens ou direcionamentos para realizar estratégias e trabalhos.

A atuação da PRF no domingo, por exemplo, poderia identificar o mapeamento das caravanas e ônibus, a obtenção da lista dos passageiros, a identificação dos financiadores do aluguel dos veículos, o monitoramento das viagens e até a infiltração de policiais e agentes em aglomerações, como o acampamento do QG do Exército no Distrito Federal e nos transportes.

No dia do segundo turno das eleições, quando caminhoneiros paralisaram estradas em 16 estados do país, a cúpula da PRF já teria conhecimento do que ocorreria uma semana antes. Sob o comando de Vasques, a corporação, contudo, não tomou providências. Mas para o episódio atual, a trabalho de inteligência sequer foi feito de forma eficaz, como indica o membro da PRF, à colunista.

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Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

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  1. “Além de Vasques, o governo Lula exonerou 6 dos 14 membros do núcleo de inteligência da PRF. E apesar de a medida pretender diminuir riscos, na prática, membros da PRF narraram à colunista Malu Gaspar, de O Globo, que houve brechas e vácuos no trabalho de investigação e detecção de riscos das rodovias, justamente pela falta de funcionários.” Quer dizer: se, além dos 8 possíveis bolsonaristas que restaram no núcleo de inteligência da PRF, fossem acrescidos os 6 certamente bolsonaristas exonerados, então, aí sim, a PRF teria cumprido a sua função, “sem brechas e vácuos e bla-bla-bla”? Que a bem-remunerada e rançõsa antipetista Malu Vera Magalhães Gaspar tenha acreditado nessa lorota de bolsonaristas da PRF não é de espantar, é mais de se esperar. Que o GGN repasse a lorota aos seus leitores acriticamente, aí sim, é de se espantar!

  2. Faz sentido então, as mensagens que diziam que General Heleno estava no comando.

    “Mas o Gabinete não é formado somente por Dias, que tampouco havia conseguido nomear os demais membros de sua equipe. O ex-chefe do GSI, general Augusto Heleno, substituiu boa parte dos integrantes da pasta, muitos deles ainda permanecendo.”

  3. A “porta de entrada” da administração federal foi arrombada em 2019, quando pelo menos 6 mil militares foram “empurrados” para dentro em 2019.

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