Discutindo o racialismo e o uso do termo ‘negro’ nos EUA

Por Danilo Morais

Comentário ao post “ EUA abandonam o uso da classificação de ‘negro’ no censo

De antemão peço desculpas (aos leitores) pelo tom, pois esta discussão é muito importante para minha prática e reflexão. Portanto, posso ser um pouco duro nesta resposta.

Vamos do começo: os “argumentos” contra um suposto “racialismo” que estaria sendo implantado no Brasil são peças ideológicas alimentadas por pessoas do porte de Ali Kamel e Demétrio Magnoli (que utilizam argumentos de matriz gilberto-freyriana supostamente atualizados em antropólogos que citarei mais abaixo). Assim, quem isto defende está lado a lado com estas figuras “super progressistas” – fora o impagavel ex-Senador Demóstenes Torres, admirador do penasmento de Kamel, Magnoli e Militão (não vou mais colocar os links, quem se interessar procure). Quem fica falando muito em “racialismo” ao contrário de estar preocupado com o racismo está de fato contra as conquistas mais recentes da sociedade brasileira que felizmente está cada vez mais consciente da necessidade de medidas que superem as desigualdades raciais (para aqueles que diziam que os brasileiros não queriam as “cotas” devem ter tido um baque na última pesquisa do IBOPE, né?)

Em relação às respostas ao meu post:

1) O termo “negro” contemporaneamente nos EUA é muito pejorativo. Quem tiver dúvida pergunte a qualquer um que conhece os EUA – e pessoas negras de lá (afro-americanas). “Nigger” sempre foi mais pejorativo, só isso. Querer dizer que “negro” no português do Brasil tem o mesmo significado que “negro” no inglês dos EUA é ridículo.

2) A melhor tradução do inglês “black movement” para o português é “movimento negro”. Por favor, alguém me apresente UM, só UM tradutor que entenda algo de história e ciências sociais (tenha produção acadêmica na área) que traduza de forma diferente. Por exemplo, de “black movement” para “movimento preto” (e não movimento negro…), ou “black panters” para “panteras pretas” (e não “panteras negras”, como se sabe ser a tradução correta). Quem já viu estas traduções?? Não venham me dizer que é coisa da “conspiração racialista” traduzir este “black” corretamente para negro.

3) Voltando ao tal “racialismo” (termo adorado pelo Magnoli como mencionei). Quem começou a falar esta bobagem foram antropólogos como Yvone Maggie e Peter Fry. Estes diziam que o movimento negro no Brasil é que estava querendo racializar o país… bla bla. Sabe quem dava muito financiamento para estes dois? A Fundação Ford! Inclusive Peter foi diretor da F. Ford no Brasil (quem quiser conferir veja o currículo Lattes deles). Bueno, respondam-me os arautos do caos (que veem “racialismo” em qualquer proposta do PT ou do movimento negro): quando a Ford financiava os opositores ao movimento negro tudo bem? Ela ficou má e quer “racializar” o Brasil quando começou a financiar pessoas que dialogam ou são do movimento negro? Dois pesos e duas medidas…

4) Reafirmo: “É a luta social contra o racismo e pela afirmação étnico-racial positiva que fez com que hoje se entenda no Brasil como importante pelos movimentos socias – e nos principais estudos sobre as relações étnico-raciais – utilizar atualmente o termo negro, assim como estes movimentos nos EUA preferem o termo “black”.Toda a história da luta por reconhecimento dos afro-descententes nas américas e dos indígenas está baseada, de início, na busca de uma “afirmação étnico-racial positiva” – a partir de uma afirmação cultural. Para ser RECONHECIDO! Para dizer “ESTOU AQUI, NÂO SOU INVISÍVEL!” Posteriormente ou concomitantemente esta luta se soma à busca de superação da desigualdade racial. Assim concretamente se busca a superação do racismo.

Luis Nassif

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