A recuperação do Instituto Butantan e suas pesquisas

Da Folha

Uma história de inovação

Marcelo de Franco

A recuperação das plantas produtivas após o incêndio no Instituto Butantan foi imediata. Já entregamos os primeiros lotes de vacina

O Instituto Butantan nasceu da necessidade de reunir pessoas competentes em saúde pública para combater a peste negra no início do século 20, em São Paulo.

Seu nome significa terra firme em tupi guarani. A veia inovadora apareceu logo. O primeiro diretor, Vital Brasil, foi um grande pesquisador da especificidade dos venenos de cobra e demonstrou a necessidade de soros exclusivos para cada espécie, o que na época era ignorado.

Desde então, o instituto cumpre a missão de produzir conhecimento e insumos para a saúde pública.

Nos anos 80, o Programa Nacional de Imunização do Ministério da Saúde incentivou o Instituto Butantan e a Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) para que o Brasil obtivesse autossuficiência em soros e vacinas. As instituições responderam à altura com a instalação de plantas produtivas de alto nível para a época.

No entanto, as demandas regulatórias aumentaram e os investimentos diminuíram nos anos seguintes. Problemas surgiram.

A evasão de pesquisadores, infraestrutura precária e problemas de gestão levaram o Butantan a uma crise violenta em 2009, culminando no incêndio das coleções biológicas em 2010.

Uma instituição em coma requeria um tratamento intensivo. Foi nessa linha que o governador Geraldo Alckmin destacou dois médicos, como ele, para cuidar do paciente: Giovanni Cerri, secretário da Saúde, e Jorge Kalil, empossado diretor do Butantan em 2011.

Eles estudaram a complexidade do caso com auxílio da Fundação Getulio Vargas, para a melhoria de governança administrativa, e da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, elaborando um plano diretor para os próximos 20 anos.

Também recuperaram a Fundação Butantan com um novo gestor de alto padrão administrativo e o auxílio de uma consultoria externa, redefinindo sua característica de apoio às ações científicas, produtivas e culturais do instituto.

O enfrentamento da recuperação das plantas produtivas foi imediato e as ações culminaram no primeiro certificado de boas práticas de produção da vacina da gripe no segundo semestre de 2012. Com isso, foi possível entregar, neste ano, ao Ministério da Saúde, os primeiros lotes da vacina produzidos integralmente no Butantan, finalizando o ciclo de transferência tecnológica.

A nova gestão retomou projetos parados como o de hemoderivados e está em vias de fechar um acordo com a Hemobrás e a General Electric para finalização da fábrica de processamento de sangue.

Hoje diretor substituto, mas pesquisador científico desde 1990, nunca havia visto tanto planejamento, estruturação organizacional e entusiasmo dos servidores. Reabsorvemos valores como os de Isaias Raw, inovador por excelência, em nosso comitê de gestão estratégico, assim como os de diretores do IPT e dos hospitais Sírio-Libanês e Albert Einstein em nosso conselho diretor.

O projeto anunciado recentemente pelo governo federal de fomento à inovação biotecnológica será um marco na história do setor no Brasil.

O Instituto Butantan está pronto para responder à demanda com projetos consolidados como as vacinas para dengue, coqueluche de baixo efeito colateral e pneumococos, os produtos que aumentam a eficiência de vacinações (adjuvantes) e os anticorpos monoclonais utilizados em terapias de câncer e artrites.

Além disso, apresentamos ao Ministério da Saúde um projeto, em conjunto com a Merck, para uma vacina de largo espectro de proteção contra o vírus do papiloma humano, o HPV, agente etiológico do câncer de colo uterino, agente etiológico do câncer de colo uterino, com preço competitivo.

Assim se faz inovação para saúde pública, com competência, qualidade e ousadia.

MARCELO DE FRANCO, 49, é diretor substituto do Instituto Butantan

Luis Nassif

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