Izaias Almada
Izaías Almada é romancista, dramaturgo e roteirista brasileiro nascido em BH. Em 1963 mudou-se para a cidade de São Paulo, onde trabalhou em teatro, jornalismo, publicidade na TV e roteiro. Entre os anos de 1969 e 1971, foi prisioneiro político do golpe militar no Brasil que ocorreu em 1964.
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Venturas e desventuras do teatro brasileiro (II), por Izaías Almada

O teatro sofreu, durante os anos 60 e 70, perseguições, invasões de espetáculos, censura e prisão de atores, autores, técnicos e diretores

Augusto Boal

Venturas e desventuras do teatro brasileiro (II)

por Izaías Almada

         Quero dizer, antes de tudo, que o fosso educacional e cultural provocados pelos anos de ditadura em nosso país (1964-1985) e a nova realidade criada a partir desse buraco, que tirou o norte de muita gente, teve que ser analisado, discutido e revisto em muitos dos seus aspectos.

         Arte é comunicação, mas nem toda forma de comunicação é aliada à arte. Conhecer uma coisa e outra é dever de todo artista e esse é, à partida, um cidadão, um ser político, um ser pensante.

         Não adianta querer identificar algumas incertezas e mazelas do teatro brasileiro contemporâneo sem entender o significado dessa passagem de um estágio ao outro, dessa ruptura ideológica que se fez entre os anos de 1960 ao ano 2000, quarenta anos de choro e ranger de dentes, de lutas e conflitos de toda espécie, mas também de esperanças, ruptura essa motivadora de novos caminhos, mas também de descaminhos e dúvidas.

         Ignorar esse aspecto é fazer a política do avestruz, é tapar o sol com a peneira…   

INDIVIDUALISMO: CADA UM NA SUA

         Os jovens brasileiros dos anos 60 não foram, política ou artisticamente, melhores ou piores do que as gerações que lhes antecederam ou sucederam. Apenas tiveram em muitos momentos a acuidade e as condições necessárias para sentir e interpretar o momento histórico em que viviam. Momento esse consubstanciado, entre outros fatores, na derrota do nazi-fascismo e o pós-guerra na Europa e na alternativa do socialismo revolucionário.

Do fundo do palco novos atores vieram à cena, onde o Tribunal de Nuremberg e as vitórias das revoluções Chinesa e Cubana pontificaram.

         Juntaram-se todos às inúmeras vozes que se ouviam por toda a parte, conclamando-os à luta pela valorização do homem (falava-se mesmo na criação de um novo homem), pelas lutas de libertação nacional (particularmente em África e na América Latina), pela emancipação feminina, pelo rompimento de dogmas e estruturas fechadas de pensamento, religiosos ou não, pela alternativa do socialismo e pela paz no mundo. O slogan paz e amor tomou conta dos cindo continentes.

         Apesar do recente fim de uma guerra que destruiu países e matou milhões e milhões de pessoas, ainda assim a humanidade, buscando a paz, envolvia-se em vários conflitos: Coréias, Vietnans, guerrilhas na América do Sul, lutas aniticolonialistas em África.

         A China em 1949 e Cuba dez anos depois, deixaram o mundo capitalista, ocidental e cristão, com os cabelos em pé e as barbas de molho. A guerra fria tornava-se mais quente do que nunca. E tudo isso, é claro teve suas repercussões no Brasil. A tal ponto que o pensamento reacionário e conservador caboclo resolveu dar um basta às novas ideias e rompeu com o convívio democrático entre nós…

         Como toda arte é também política, mesmo aquela que nega esse enunciado, era natural que tudo que cheirasse a socialismo, humanismo cristão, solidariedade de classe entre oprimidos, emancipação de direitos, coletivismo, fosse combatido pelo pensamento repressivo que tomou conta do país. Pensamento esse que já trazia a semente de um impiedoso individualismo.

         ‘Fazer a cabeça’, foi a tradução óbvia e simplória para o “make your mind” dos colonizadores. A imprensa, a televisão e mesmo a escola contribuíram para “fazer a nossa cabeça”. (*)

         O teatro sofreu, durante os anos 60 e 70, perseguições, invasões de espetáculos, censura e prisão de atores, autores, técnicos e diretores, mas também criou um bolsão de resistência e desobediência civil.

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(*) – Sobre o assunto podem ser consultados, entre outros os livros Hamlet e o filho do Padeiro, de Augusto Boal e Em Busca do Povo Brasileiro, de Marcelo Ridente, ambos da Editora Record. 

(CONTINUA)

Izaías Almada é romancista, dramaturgo e roteirista brasileiro nascido em BH. Em 1963 mudou-se para a cidade de São Paulo, onde trabalhou em teatro, jornalismo, publicidade na TV e roteiro. Entre os anos de 1969 e 1971, foi prisioneiro político do golpe militar no Brasil que ocorreu em 1964.

O texto não representa necessariamente a opinião do Jornal GGN. Concorda ou tem ponto de vista diferente? Mande seu artigo para [email protected].

Izaias Almada

Izaías Almada é romancista, dramaturgo e roteirista brasileiro nascido em BH. Em 1963 mudou-se para a cidade de São Paulo, onde trabalhou em teatro, jornalismo, publicidade na TV e roteiro. Entre os anos de 1969 e 1971, foi prisioneiro político do golpe militar no Brasil que ocorreu em 1964.

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