PT vai arrastar o drama em torno de Lula até onde não puder mais, por Tereza Cruvinel

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Foto: Adonis Guerra/SMABC

Por Tereza Cruvinel

No Jornal do Brasil

O tempo do PT

Por Tereza Cruvinel, no JB – Amanhã faz um mês que o ex-presidente Lula foi preso mas na cena política ele continua presente. A eleição segue tão ou mais incerta do que antes. Há quem veja o PT numa sinuca de bico: se mantém Lula candidato, pode ficar tarde para apresentar e trabalhar o nome por ele ungido. Mas antecipar a desistência, jogando Lula na invisibilidade, seria abdicar do precioso ativo eleitoral que ele representa.

Este é um dilema visto de fora mas, dentro do partido, a disposição é para fazer com Lula, sob seu comando, o jogo do tempo.

Se nestes últimos 30 dias, com todo o isolamento, Lula fez política valendo-se dos advogados, seja para receber notícias políticas, mandar cartas aos apoiadores ou recados aos petistas, agora então ele terá mais controle do processo.

A partir de hoje, poderá receber duas visitas de não familiares por semana.

Nem todos serão petistas, pois a demanda é grande. Amanhã receberá Leonardo Boff, é possível que receba Ciro Gomes em breve. Mas a brecha será usada principalmente para orientar seu partido.

Iniciativas como o encontro de Fernando Haddad com Ciro, ou a declaração de Jacques Wagner, admitindo o apoio a Ciro com um petista de vice, foram movimentos individuais e nada mais.

Levaram bordoadas. Valter Pomar, da tendência Articulação de Esquerda, acusou Jacques de não propor um plano B, mas um plano S. S de suicídio.

A senadora Gleisi Hoffmann acrescentou que Ciro “não passa no PT nem com reza brava”.

Jacques, depois de visitar Lula, corrigiu-se, dizendo que vai com ele “até o final da linha”.

E o plano é o já conhecido: mantê-lo como candidato, para preservar o cabedal de votos, e tratá-lo como preso político até agosto, quando o pedido de registro de sua candidatura deve ser impugnado pelo TSE.

Até lá, muitas águas vão rolar, e a decisão será tomada no calor da conjuntura.

O plano tem custos, como a ausência de um candidato petista nos eventos da pré-campanha.

Na sexta-feira, Gleisi protestou contra a exclusão de Lula da série de entrevistas que UOL, Folha de S. Paulo e SBT farão com os presidenciáveis, lembrando que ele não perdeu os direitos políticos e está em primeiro lugar nas pesquisas.

Mas preso ele não pode comparecer e outro não pode representá-lo. No curto prazo, pode crescer a migração de votos lulistas para outros candidatos, como indicado pela última pesquisa Datafolha: Lula passou de 34% para 31% na média dos cenários.

Mas o grosso de seus eleitores, quando ele foi excluído da cartela, migrou mesmo foi para brancos, nulos ou nenhum dos candidatos.

Nas próximas semanas, avaliam os petistas, não deve haver forte movimentação de votos. Em junho começa a Copa do Mundo, desviando o foco das atenções. E logo estaremos em agosto, haverá o pedido de registro da candidatura.

Observados os prazos para recursos, a decisão só virá no início de setembro.

O horário eleitoral já estará no ar, com Lula candidato. Negado o registro, será hora de optar entre lançar o ungido ou esticar a corda judicialmente, com recurso ao STF, um jogo mais arriscado.

Estes cálculos levam a uma concordância entre os petistas e o pré-candidato do DEM, Rodrigo Maia, para quem a disputa será decidida nos últimos 15 dias da campanha.

Assim, por ora o debate sobre substitutos está interditado no PT. Seria jogar a toalha antes da hora, fazendo o jogo dos que desejam Lula fora da política. Para ficar fora, ele mesmo teria dito, teria se exilado.

Não errando no tempo, o PT acha que pode levar seu candidato ao segundo turno, convertendo os votos lulistas em votos petistas. Segundo o Datafolha, dois em cada três eleitores de Lula admitem votar em nome por ele indicado.

Mas disso o PT não quer tratar agora, pelos motivos acima mas também por saber que a fumaça branca virá de Curitiba.

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

8 Comentários

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  1. Primeiro Turno

    Temos até agora um quadro hegemônico do PT e Lula (ou de quem ele indicar) no lado da esquerda, com boas conversas e negociações com todos os setores populares e de esquerda. Até os movimentos sindicais estão unidos. Os partidos próximos ao PT devem ter os seus candidatos para o primeiro turno apenas para cobrir eventual cláusula de barreira e poderem manter um mínimo de votação, mas nunca se afastarão do PT e estarão com ele no segundo turno, sem ambição de disputar com Lula (ou com o seu indicado) no quadro eleitoral, já desde o primeiro turno.

    O Ciro Gomes está entrando para disputar já no primeiro turno pensando que poderia ir para o segundo, tentando ganhar uma vaga, que em tese já está ocupada por Lula (ou por quem ele indicar) e um anti-Lula, que poderia ser o Bolsonaro. Nesta tarefa similar ao Ciro já existe a candidatura de Marina, querendo entrar no mesmo espaço central.

    Na direita, a luta é para alguém substituir o Bolsonaro como anti-Lula. Com os tucanos em frangalhos uma opção seria o Barbosa (já tentaram até o Huck). Ciro tenta entrar pelo centro, querendo acenar para ambas as partes, tanto para o mercado financeiro como para tentar levar de graça o patrimônio eleitoral do PT e da esquerda. Se achando….

    Com Lula (ou quem Lula indicar) já assegurado para o segundo turno, a maior tarefa do primeiro turno é a unidade para escolher uma enorme bancada progressista de esquerda, na câmara de Deputados e no Senado. Lula deverá pedir ao eleitor, junto com o voto a ele (ou a quem ele indicar) que este vote em congressista do PT ou de aliado, claramente um congressista “de partido”, de espírito de equipe e não aqueles franco-atiradores que acham que o cargo é pessoal, deles mesmos, ávidos por negociatas.

    Com o PT representando algo em torno de 20% dos eleitores, um mínimo de 103 deputados e de 16 senadores teria o PT no congresso nacional, além dos aliados.

  2. Maior que as urnas

    Lula mesmo encarcerado conseguiu o inimaginável dias atrás, a união das sindicais.

    Um perigo esse homem.

    Qualquer um menos o Lula, dizem as oligarquias e os impérios tupiniquim e o da banca sediado no eua.

    Rentista$ parasitas, elites e fascistas o odeiam, a confirmação de que estou do lado certo.

  3. Ciro e a sua Caixa de Pandora

    Todo mundo tem a sua Caixa de Pandora. Ciro tem a dele e até hoje não foi totalmente aberta. Muito se fala e implora para que o PT apoie Ciro e se esqueça de Lula. Ciro hoje é uma saída da esquerda para aqueles que desistem facilmente da luta por Lula Livre. Ciro é um cara sério, do bem. Até quando? A direita guarda estrategicamente a sete chaves a sua Caixa de Pandora para abrí-la na hora certa. Resistirá Ciro à abertura da sua Caixa de Pandora?

  4. Independentemente de nomes, a

    Independentemente de nomes, a desequlibrada Gleisi Hoffman et alii estão demonstrando o que já se sabe há muito tempo: o núcleo duro das lideranças petistas não tem e nunca teve qualquer compromisso com um projeto de Nação, apenas com um projeto de poder. Por isso, a histeria. Cedo ou tarde, terão que confrontar-se com o óbvio: Lula está inelegível e insistir na sua “candidatura” apenas desmoralizará ainda mais o partido.

  5. O título “drama”, “arrastar”, etc, foi dela ou do GGN?

    Que o Nassif tome posiçao em tópicos de tipo Editorial está super OK. Mas posiçoes implícitas em títulos? Frnacamente, vamos imitar a velha mídia agora?

  6. Isto tem um lado muito bom: desgasta, divide e atrasa a direita

    Os golpistas vão sofrer bastante com o processo eleitoral de 2018, com STF e com tudo

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