A contestação às vacinas continua ativa no Telegram

Os resultados do estudo têm implicações importantes para a saúde pública e para a luta contra a desinformação em tempos de crise pandêmica.

Eduardo Matysiak – Futura Press

na InTexto – da UFRGS

A contestação às vacinas continua ativa no Telegram

por Lídia Raquel Herculano Maia, Thaiane Oliveira, Luisa Massarani e Marcelo Alves dos Santos Júnior

A disseminação de informações falsas e a contestação às vacinas contra a Covid-19 têm sido um desafio enfrentado por autoridades de saúde em todo o mundo. No Brasil, um estudo recente analisou a circulação do tema “vacina” em grupos do Telegram, revelando os principais argumentos e tendências utilizados pelos grupos de contestação. Neste artigo, pesquisadores dos Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia em Comunicação Pública de Ciência e Tecnologia (INCT-CPCT), de Disputas e Soberania Informacional (INCT-DSI) e Estudos Comparados de Administração de Conflitos (INCT-InEAC) exploram os resultados desse estudo e discutem a importância de compreender e combater a desinformação em tempos de crise pandêmica.

O estudo teve como objetivo aprofundar a análise dos grupos que contestam as vacinas no Telegram. Uma das descobertas mais significativas do estudo foi a identificação de três eixos argumentativos utilizados pelos grupos de contestação às vacinas no Telegram.

O primeiro eixo diz respeito aos receios quanto à segurança e eficácia das vacinas. Os participantes desses grupos expressam preocupações sobre possíveis efeitos colaterais graves e questionam a confiabilidade dos estudos científicos que comprovam a eficácia das vacinas.

O segundo eixo argumentativo está relacionado a alegações de que existem interesses obscuros na gestão da pandemia e no desenvolvimento das vacinas. Os participantes desses grupos acreditam que há uma conspiração por trás das vacinas, envolvendo governos, indústrias farmacêuticas e outros atores poderosos. Essas alegações contribuem para a disseminação de teorias da conspiração e a desconfiança em relação às vacinas.

O terceiro eixo argumentativo é relacionado à defesa da liberdade e privacidade individual. Os participantes desses grupos acreditam que a vacinação é uma imposição do Estado e que as pessoas devem ter o direito de escolher se querem ou não se vacinar. Essa linha de argumentação é frequentemente associada a discursos antivacinação e a uma visão individualista da saúde.

Além dos eixos argumentativos, o estudo também identificou a quantidade de mensagens trocadas nos grupos analisados. O grupo “Antivacinas 🔞 – CHAT” concentrou a maior parte das conversas, com 4.970 inputs, demonstrando seu protagonismo no contexto observado. Os outros grupos apresentaram quantidades similares de mensagens: o primeiro e o terceiro grupo tiveram 855 e 847 mensagens, respectivamente, enquanto o último grupo teve apenas 265 entradas. Outra descoberta importante do estudo foi a homogeneidade das posições dos participantes dos grupos de contestação às vacinas. Poucos momentos de dissenso ou discordância foram observados, sugerindo que esses grupos são formados por pessoas que compartilham visões de mundo semelhantes e que buscam reforçar suas crenças e valores em um ambiente virtual.

Por fim, o estudo também destacou a criação de uma linguagem própria e o uso de códigos e referências comuns pelos usuários dos grupos, visando fortalecer os vínculos identitários do grupo e evitar a visibilidade imposta pelos mecanismos de busca. Essa estratégia sugere que esses grupos buscam se proteger e se fortalecer em um ambiente virtual que pode ser hostil às suas crenças e valores.

Os resultados do estudo têm implicações importantes para a saúde pública e para a luta contra a desinformação em tempos de crise pandêmica. A identificação dos principais argumentos e tendências utilizados pelos grupos de contestação às vacinas pode ajudar as autoridades de saúde a desenvolver estratégias mais eficazes de comunicação e de combate à desinformação. Além disso, a homogeneidade das posições dos participantes dos grupos de contestação às vacinas sugere que esses grupos são formados por pessoas que compartilham visões de mundo semelhantes e que buscam reforçar suas crenças e valores em um ambiente virtual. Isso pode dificultar a persuasão dessas pessoas a se vacinarem e a adotarem medidas de prevenção contra a Covid-19. Por outro lado, a criação de um léxico próprio e o uso de códigos e referências comuns pelos usuários dos grupos também pode ser uma oportunidade para as autoridades de saúde se comunicarem de forma mais eficaz com esses grupos. Ao entender a linguagem e as referências utilizadas pelos participantes dos grupos, as autoridades de saúde podem desenvolver estratégias de comunicação mais direcionadas e eficazes.

O estudo sobre a contestação às vacinas contra Covid-19 no Telegram no Brasil revelou importantes insights sobre os principais argumentos e tendências utilizados pelos grupos de contestação. A identificação desses argumentos e tendências pode ajudar as autoridades de saúde a desenvolver estratégias mais eficazes de comunicação e de combate à desinformação. No entanto, é importante lembrar que a contestação às vacinas não é um fenômeno exclusivo do Telegram ou de outros grupos virtuais. Uma das pesquisadoras do estudo, Thaiane Oliveira, ressalta que “a desinformação e a desconfiança em relação às vacinas são problemas que afetam a sociedade como um todo e que exigem uma abordagem multidisciplinar e coordenada por parte das autoridades de saúde e da sociedade civil”. Ela afirma que é fundamental que as autoridades de saúde invistam em campanhas de comunicação claras e eficazes, que levem em conta as diferentes perspectivas e preocupações da população. Além disso, é importante que a sociedade civil se engaje na luta contra a desinformação e na promoção da saúde pública, por meio de ações de conscientização e de apoio às medidas de prevenção e de vacinação contra a Covid-19.

A versão completa do artigo está completo em: https://doi.org/10.19132/1807-8583.55.127361

  • Lídia Raquel Herculano Maia – Fundação Oswaldo Cruz
  • Thaiane Oliveira – Universidade Federal Fluminense
  • Luisa Massarani – Fundação Oswaldo Cruz
  • Marcelo Alves dos Santos Júnior – Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro

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Redação

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  1. Tenho 37 anos e tomei a vacina atrasada e chorando, influênciada pelas fases News e pelo governo anterior. Cheguei a tomar duas doses. Mas gostaria de tomar as que restam. Mas tenho dúvidas, pois agora tem as bivalentes. Onde posso me informar com segurança de como proceder? Também, tenho uma filha de 6 anos e não vacinei. Por medo bobo. Droga! Ainda preciso trabalhar minha mente.

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