Maira Vasconcelos
Maíra Mateus de Vasconcelos - jornalista, de Belo Horizonte, mora há anos em Buenos Aires. Publica matérias e artigos sobre política argentina no Jornal GGN, cobriu algumas eleições presidenciais na América Latina. Também escreve crônicas para o GGN. Tem uma plaqueta e dois livros de poesia publicados, sendo o último “Algumas ideias para filmes de terror” (editora 7Letras, 2022).
[email protected]

A busca pela mudança da própria escrita, por Maíra Vasconcelos

Para terror de quem escreve, assunto sempre haverá aos montes e à disposição de quem queira encontrá-los. A questão é fazer disso um texto

Anita Malfatti

A busca pela mudança da própria escrita

por Maíra Vasconcelos

Buenos Aires, 18 de fevereiro, de 2024.

Às vezes, a questão parece ser encontrar assunto para esses textos publicados no jornal. E tendo o assunto, escreve-se. Mas isso é apenas aparentemente. Pois, após muitos anos provando uma escrita experimental para essas crônicas, e desses textos salvei alguns poucos, acredito, como quem aposta a partir da prática, que a questão é o ritmo. E com ritmo quero dizer, como se sabe, essa constância frente ao exercício da escrita. Tanto é assim que, agora, neste caloroso domingo portenho, com supermercados que nos oferecem uma hiperinflação em cada gôndola, em cada guloseima, com infinitos assuntos à vista observadora de quem escreve, aqui estou a falar sobre a obediente disciplina de um ofício. E essa questão passa a ser um assunto, que, sinceramente, não sei quão interessante pode parecer a quem ler essas palavras, como se Buenos Aires não estivesse pululando de temas sociais, como qualquer outra metrópole.

Para terror de quem escreve, assunto sempre haverá aos montes e à disposição de quem queira encontrá-los. A questão é fazer disso um texto, e, de novo, outro texto. E assim sucessivamente. Então, a questão é escrever, não importa exatamente o assunto. Afinal, com tudo o que já escreveu na história da literatura, quão inovador pode ser aquilo sobre o qual se escreve? Como se costuma dizer, tudo já foi escrito. A questão é a escrita em si e como levar esse barco. Como dito por Clarice Lispector, “pode-se ter vocação e não ter talento, isto é, pode-se ser chamado e não saber como ir”. Principalmente, após um hiato. Esses hiatos que são comuns na prática da escrita. Mas, ao desejar escrever de outra maneira, ainda é preciso encontrar essa nova escrita. Se é que se encontra uma outra escrita, se é que tanto se muda o modo de escrever, isso depende de cada caso, e, além do mais, se é que continuamos a escrever. Tantos “se” quanto possam caber em uma só oração.

Mas voltando à questão inicial, alguns se deparam com esse desejo de mudança em relação ao seu modo de expressão. Essa negação por escrever como anos atrás, mas ainda sem saber como irei escrever amanhã, se este período longe das crônicas, antes semanais, foi um hiato ou será um ponto final. A regra básica é voltar a ter ritmo, voltar a se deparar com a tarefa de sentar para escrever. Digo, escrever prosa, porque a poesia é um mundo à parte.

Mesmo que uma hiperinflação, vivida em outro país que não seja exatamente o seu, possa impedir muitas coisas, como também escrever. Mas, ainda assim, escreve-se. E todos sabemos que mesmo sob condições limitadoras, é possível escrever. E seguir em busca do que impulsiona a mudança ou mesmo estar dispostos ao hiato ou a estagnação da escrita. E essas situações podem ser nada mais que movimentos próprios desta árdua tarefa. Quando envolvidos em seus ires e vires, ainda precisamos parar e refletir, fazer pausas que podem durar anos, medir, decidir, talvez, voltar a escrever sobre o ato da escrita. E assim, quem sabe, encontrar um novo respiro com o qual andar pela vida.

Maíra Vasconcelos – jornalista e poeta, mora em Buenos Aires, publica matérias e artigos sobre política argentina no Jornal GGN e cobriu algumas eleições presidenciais na América Latina. Seu último livro de poemas,“Algumas ideias para filmes de terror” (editora 7Letras, 2022).

O texto não representa necessariamente a opinião do Jornal GGN. Concorda ou tem ponto de vista diferente? Mande seu artigo para [email protected]. O artigo será publicado se atender aos critérios do Jornal GGN.

Maira Vasconcelos

Maíra Mateus de Vasconcelos - jornalista, de Belo Horizonte, mora há anos em Buenos Aires. Publica matérias e artigos sobre política argentina no Jornal GGN, cobriu algumas eleições presidenciais na América Latina. Também escreve crônicas para o GGN. Tem uma plaqueta e dois livros de poesia publicados, sendo o último “Algumas ideias para filmes de terror” (editora 7Letras, 2022).

0 Comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador