Rui Daher
Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor
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Desistir nunca! Apenas menos seriedade a quem não merece, por Rui Daher

Desistir nunca! Apenas menos seriedade a quem não merece

por Rui Daher

Não sei quanto tempo ainda poderei continuar a escrever para o GGN e CartaCapital. Até mesmo continuar um projeto de livro sobre causos curiosos que recolhi em mais de 40 anos no mundo agropecuário. A tudo penso desistir ou adiar.

Já tentei, mas não consigo abandonar publicações como essas. Hoje em dia, além de escrever amiúde, como “sócio” ou assinante disso e daquilo, não sei quanto tempo conseguirei ainda aguentar. O tempo que elas me tomam, começa a fazer falta para a fatura.

Ademais, são milhares a fazer o mesmo e sinto que de mim ninguém sentirá falta. Burro não sou. O Brasil é cada vez mais qualquer nota e as escritas há muito tempo caíram abaixo do medíocre 6,5.

Preciso correr atrás de grana, como, parece, todos os brasileiros honestos concordam e precisam. As quadrilhas, tanto faz se on the rght or left side of the street.

Os mecenas que, há 50 anos, vêm patrocinando minha constância de trabalho, honestidade e uso de cultura humanística (rara) na administração de empresas, se bandearam para o rentismo vilipendioso que tomou conta do País, de forma descarada e cruel. Nem aqui mais querem morar. Pasmem, se não der Miami, Portugal serve. Porra, custava frequentar por alguns anos a Cultura Inglesa ou similares?

Na gestão das empresas não se precisa mais entender “o outro”. Uma planilha serve, mesmo que circunscrita à mais medíocre ignorância sociológica.

Estamos liquidados e, como muitos outros, preciso vender (alugar já não basta) a minha mais valia. Quem vai querer? Retribuo com trabalho e honestidade. Sou burro para roubar. Meus trejeitos logo me entregam.

Não que assim vá morrer, mas ficarei triste. Já troquei a Heineken pela Itaipava. As salineiras pela 51. O bacalhau do 53, na Castelo, pelos biscoitos de polvilho de beira-estrada. Futebol? Que NET, que nada. Alguma várzea da Rede Viva.

Consolou-me o “Balaio do Kotscho”. Ricardo relembra o espaço que as Redações davam ao bem escrever. Hoje, as impressas são infestadas de analfabetos funcionais, impossíveis de construir alguma frase com sentido claro. Nas digitais, bastou o cara ver lá seu nome em destaque, precedido de um “por” e, pronto, surgiu um novo escritor, filósofo, cientista político, cronista, contista, crítico de arte.

Alguns de vocês irão lembrar, independente de opção política, os textos publicados no Estadão, Folha, Última Hora, em São Paulo, ou no Jornal do Brasil e Tribuna da Imprensa, no Rio de Janeiro. Preciso mencionar os alternativos Movimento, Opinião, Pasquim, Bondinho, Sol, quando na ditadura? Preciso?

Não tenho mais espaço, nem acho que muita gente boa o tenham. Como escreveu Ricardo sobre as Redações na época de Audálio Dantas, coragem e boa escrita, estão em falta. Nem mesmo são necessários.

Hoje em dia, comparo certo Kim Katakifeiúra a Il-Jong Kim, algo assim para rimar e ser solução. Assim, peço licença aos ouvintes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro e do “Aviso aos Navegantes”, da Voz do Brasil, e entro na fila dos desempregados.

Minha festa de despedida faço de bom alambique de Minas Gerais, cachaça a R$ 10,00 a garrafa pet d 2 litros. Pensam o quê? Os mesmos 250 ml de azeite português para temperar a salada, ou derramar em bacalhau inexistente. Prazer que Henrique Meirelles, o Coringa, tem, mas os tirou com sua austeridade burra.

Fico com CD antigo (salve Juncal), com Jorge Ben Jor e a Banda do Zé Pretinho, que me aceitam num agogô inaudível e nada expressivo. Aqui, com Maggie, Maggie, Magnólia, temos a melhor mão direita da guitarra brasileira.

No dia da vingança a AK-47 só mirará orelhas. Sorte aos que mais orelhudos forem.

https://www.youtube.com/watch?v=k3A-Iq82D_o

 

Rui Daher

Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor

22 Comentários

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  1. terapia

    A globo mais uma vez deu pronta para o povo coxa a tese que justifica as agruras pelas quais o Brasil passa: A kulpa de tudo que acontece é de voces, petralhas. Afinal o Treme ladrão (PHA) era vice de quem? Eles não, eles votaram no santinho Laércio. Entrega do território nacional, fim da CLT, do Minha Casa, do Bolsa (dinheiro para vagabundos), mais médicos, Petroleo, Base Alcantara, Submarino nuclear, Empregos, etc. não os comove. É tudo uma chuva, que logo há de passar. Nem deve ter muita importância, afinal o Bonner nada disse. Ainda que tivesse, fazer o que? Político é tudo igual, mesmo!

    Escrever tem pouca importância mas é fundamental. Ainda que não apresente resultados significativos para o pais, serve como terapia para a conservação da saúde mental.

    Não há de ser inutilmente… 

     

    1. Caro Emerson,

      “É tudo uma chuva, que logo há de passar”. Não, Emerson, esta é exatamente a tempestade que eles queriam ver. Nela, só naufragamos nós. Abraços.

  2. A SAUDADE E A ESPERANÇA

    Penso que a saudade é o refúgio da esperança.

    Sempre que esta parece escapar-me dos pensamentos, volto lá no tempo, e a tenho, novamente,  em meu aconchego.

    E, via saudade, a esperança nos traz novamente o amor, a paz, a solidariedade, o perdão, a fé, a humildade, a misericórdia a coragem de combater, com estes valores, o ódio, o egoísmo, a vingannça, as guerras, a corrupção, os maus governantes, os privilégios.

    Sei que está, este comentário, um pouco poético, fugindo à realidade, mas a minha esperança, lá no passado, estava diante de graves injustiças sociais, mas, comigo ela estava, a esperança.

    Penso que o mundo gira e gira e tudo isto que houve estamos presenciando, um quadro caótico, não só aqui em nosso País, como em todo o mundo, já rodou por diversas vezes, na história. E, por incrível que pareça, Rui, das tragédias nasceram as grandes obras, como, v. gratia, menciono, Beethoven, que na sua fase pessimista, diante do desencanto com Napoleão, traindo seus ideais, tornou-se imperador.

    Aí Beethoven, deprimido pela sua decepção, máxime com as milhares de mortes que custaram a revolução, que nada resolveram, produziu sua arte inesquecível, na música, exteriorizando a sua profunda tristeza e pessimismo.

    É como cantava Carlos Galhardo: a vida é uma roleta, gira, gira…….

     

     

  3. Perfeito!

    Quando uma minoria radical toma o poder surge algo como “nazismo”!

    Nos dias de hoje é muito fácil uma minoria gritar e reverberar seu grito pela internet e mídia!

    Devemos ser pluralistas?

    Sim!

    Mas uma minoria ativa e radical pode levar milhões de famílias que não são radicais para a miséria!

    Que eles tenham preservada sua liberdade! 

    Sim!

    Mas que eles não possam oprimir, escravizar, tornar miseráveis todo o resto!

     

    1. Marcos Antônio,

      Das desigualdades e injustiças sabemos há décadas. Mas, hoje, pós-golpe 2016, a destruição é total. Abrange aparelhos culturais, de ciência e tecnologia, de comunições e divulgação, etc. Estamos sendo devastados e, confesso, não saber o que fazer.

      Abraços

    1. Ô Jackson,

      que presente! Há muito tempo não ouvia o genial benfeitor Atahualpa Yupanqui. Penitencio-me por tê-lo esquecido. Vídeo essencial, inclusive para a Cristiane que nos escreve acima. Abraços

  4. Contemplemos o mundo pelos olhos das crianças

    Não desista, por favor.

    Quando não der tempo de produzir um texto apropriado para seu talento ou para o momento do país, compartilhe conosco suas  indicações culturais – obrigada pela oportunidade de ouvir pela primeira vez, como pude nunca antes tê-lo feito?, João do Vale em sua própria voz!

    A criança que você colocou na imagem, que representa todos nós material ou espiritualmente famintos, precisa daqueles que

    não desistem, e quando cansados, se voltam para as fontes sensíveis de sua existência: viva a arte e o lúdico! 

    Quando os adultos ficarem cansativos ou ingratos, conviva com crianças, elas nos relembram do milagre da vida e

    pertencem a  um mundo em que os sonhos ainda são possíveis. 

    Permita-me indicar um livro que, ao retratar a importância dos adultos que não se rendem para a formação moral e afetiva

    das crianças, é também uma fábula sobre paciência e esperança para todos. E se passa numa paisagem que você deve

    conhecer bem, a lida com a terra e com os ruralistas que promovem assédio ecológico sem serem responsabilizados

    socialmente por isso: o livro é “O jardineiro fiel”, de Clarissa Pinkola Estés.

    Como sei que você acredita em Deus – ainda assim espero não invadir sua intimidade espiritual ou intelectual – ofereço-lhe

    uma oração do livro “Viver em Oração” (São Francisco de Sales, editado por John Kirvan, Ed. Vozes, 2017):

    “Início do meu dia

    Um coração livre é o companheiro fiel de uma alma tranquila.

    Coração livre é aquele que não é apegado ao seu próprio jeito de agir, que não se impacienta quando as coisas dão errado.

    Um coração livre certamente gozará de consolos espirituais, mas não dependerá deles e aceitará, da melhor forma possível,

    problemas no seu lugar. 

    Um coração livre não é preso a cronogramas ou modos de orar, afirmando que qualquer mudança é perturbadora e fonte de

    ansiedade.

    Um coração livre não é apegado ao que está além do seu controle.

    Um coração livre ora a Deus para que o seu nome seja consagrado, que o seu reino venha, que a sua vontade seja feita

    assim na terra como no céu. 

    Pois, se o nome de Deus for consagrado, se o seu reino estiver em nós, 

    se a sua vontade for feita,

    um espírito livre não precisa se preocupar com nada mais.

    Durante o dia

    Liberte o meu coração

    (…)” (págs, 60-61)

    Obrigada pelas suas crônicas cheias de vida e de memória pessoal e cultural a recuperar as extintas “conversas entre

    vizinhos”, com que tanto aprendemos, nos divertimos e consolamos. Esqueça a AK-47, brinque de amarelinha. 

     

    SP, 19/10/2017 – 13:00

     

     

     

    1. Olhos infantis,

      Cristiane, com todas essas suas verdades, indicações e pensamentos, nunca eu poderia desistir. O que desanima é que a forma como a escrita se desenvolveu pós-internet, para quem muito gosta de ler, começou a fazê-lo muito cedo, e já ter vivido bastante, para vê-la sendo banalizada, é duro.

      Vou procurar as leituras por você indicadas e tenha certeza de ainda me ver bastante por aqui.

      Abraços 

  5. terapia….

    Caro sr. Rui, onde está a Imprensa a esconder Picolé de Chuchu. De nada adianta. Mesmo escondido, derrete. Fecharam Araçatuba/SP por 3 horas, explodiram Empresa de Valores e fugiram pela Marechal Rondon SP 300. Araçatuba não é cidadezinha qualquer. E Mal. Rondon é uma das principais rodovias do estado de SP (cheia de pedágios). Todo mundo fugiu, ninguém fala nada. Secretários e Governador fingem não ser nada com eles. Na Grande São Paulo, região de Caieiras, Francsico Morato, Jundiai surto de FEBRE AMARELA, mortal em 80% dos casos. Já fez vitimas na região. Onde o pânico? Onde Postos de Saúde abarrotados? Onde na Imprensa? E Surto de Hepatite na Grande SP e Capital? (P.S. A Casa Portuguesa do Km 53 da castelo é ótima. Mas poderiam aliviar um pouco nos preços. Fica a dica do freguês. abs.) 

    1. ração pra cachorro….

      Eu posso escrever “Ração parecida àquelas que alimentam animais…” Talvez D´roa e CNBB fiquem mais felizes com isto. Onde podemos descer mais?

    2. Caro Zé Sérgio,

      A imprensa brasileira é altamente dependente da publicidade obrigatória (publicação de balanços, avisos aos acionistas, etc.) e da autônoma (obras, etc.) governamental. Ainda mais em momentos da conjuntura em que a iniciativa privada está pererecando. Nunca serpa crítica aos governos. Abraços  

          1. retirada…..

            Estava publicado e retiraram. As ofensas que fiz estavam estre aspas. Representava o pensamento e ações desta gente para a  qual só faltava oferecer ração para as pessoas. Agora não falta mais nada. Talvez explicitar esta indignação seja pior que o próprio ato de oferecer ração com prazo de validade a vencer a seres humanos. 

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