Rui Daher
Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor
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Anarriê, alavantú XIV – Um ano de uma tentativa de golpe frustrada, por Rui Daher

Em 2023, o que tivemos foi o Brasil olhando sua história no espelho retrovisor. Encontrou o seu RG, emitido há 523 anos

Banksy

Anarriê, alavantú XIV – Um ano de uma tentativa de golpe frustrada

por Rui Daher

Já foi muito falado e escrito o que aconteceu no Brasil um ano atrás. Até se pretendia manifestações populares indignadas no domingo 7, deste novo ano, para que nunca mais alguns baderneiros se insurgissem contra o Estado Democrático de Direito no país. Como se o evento de 2023 fosse a primeira vez em que o direito cidadão de pobres e frações minoritárias do território nacional tivessem sido conspurcados.

São atos do cotidiano, “golpitos”. Aquele foi por “Um Dia de Domingo”. Ver e ouvir Tim Maia (1942-1998) e Gal Costa (1945-2022), na composição de Michael Sullivan e Paulo Massadas (1985), este sim foi um golpe de bom gosto musical, como foi a triste morte prematura da dupla intérprete.

Em 2023, o que tivemos foi o Brasil olhando sua história no espelho retrovisor. Encontrou o seu RG, emitido há 523 anos, passados os períodos do Descobrimento, Colonização, Império e República. Para quem estiver estudando na área de Humanas ou para leitores interessados em entender o País, recomendo a coleção “História Geral da Civilização Brasileira”, dirigida pelo professor Sérgio Buarque de Holanda (DIFEL, Difusão Editorial, SP, 5ª edição, 1982). Verão que não minto e que golpes mesmo, na acepção correta do termo, com mudanças radicais nas formulações de Estado, foram poucos, sempre com participação ativa das Forças Armadas.

Para os menos pacientes ou interessados em análise antropológica nada melhor do que o mineiro Darcy Ribeiro (1922-1997) em “O Povo Brasileiro – A Formação e o Sentido do Brasil” (Companhia das Letras, SP, 1995).  Sou suspeito. Vibro com essa obra de Darcy, que conta ter levado 30 anos para escrevê-la.

Se no RG dos brasileiros tivesse um espaço para colocar o ideário político, o bolsonarismo seria maioria. Este o golpe. Realmente, escrevo na noite que antecede em um ano a data que reuniu, em Brasília, malfeitores para um movimento similar a arrastão de praia em Copacabana.

“Ele galhofa sem entender o perigo que passamos naquele domingo. Não viu imagens da TV, as fotos nos jornais e revistas, nas plataformas digitais, indignação da Rede Globo, sempre a favor da direita e contra Lula”, dirão os marque-jornalistas remunerados das mídias corporativas e alternativas.

Claro que vi. Tanto que passei anos registrando o perigo em minhas colunas, não como possibilidade, mas fato, inclusive denunciando, explicitamente, a liberação para uso e compra de armas e a formação de milícias, como corolário de um golpe de Estado real.

Se não foi o que esperavam, de um lado, faltaram as Forças Armadas e, de outro lado, nunca contem com manifestações “populares”, que não dependam de CUT, MST, MTST e UNE. Capacidade de mobilização para um golpe de Estado, somente aí.

Não, o perigo daquele domingo de 2023, comecei a ver ainda em 2018, quando tive certeza de que Jair Messias Bolsonaro, clã e apoiadores, negros, mulheres, católicos, evangélicos, gays, políticos oportunistas, o viam como o oposto de um “Lula ladrão” incentivados pelo descarado Sérgio Moro e Operação Lava-Jato, comprada pela mídia como ‘anticorrupção’, e assim terminaria na baderna de um ano atrás.

Nenhuma base político-partidária ou ideológica. Então, neste domingo, 7 de janeiro de 2024, sobrou um flope para a mídia tupiniquim, salva pela morte do grande Mário Jorge Lobo Zagallo.

Inté!

Rui Daher – administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor

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