Desigualdade X Eficiência = Esquerda X Direita

Por Oswaldo Conti-Bosso

Desigualdade X Eficiência = Esquerda X Direita

No Blog do Fernando Nogueira da Costa

Comentário: Numa série de artigos, Fernando Nogueira da Costa, Prof. da UNICAMP, faz boa analise de reportagem especial da  The Economist: “Economia Mundial” (Encarte da Revista CartaCapital de 31-10-12 n.:721).  

Estudos mais recentes, no entanto, apoiam a ideia de que a desigualdade pode ser ineficiente. Em uma análise influente, em 2011, dois economistas do FMI, Andrew Berg e Jonathan Ostry, olharam para o comprimento da “manutenção” do crescimento, em vez de simplesmente comparar as taxas de crescimento. Eles descobriram que o crescimento foi mais persistente em países mais iguais, e que a distribuição de renda era mais importante para a sustentação do crescimento, em longo prazo, do que qualquer grau de liberalização do comércio ou mesmo a qualidade das instituições políticas de um país.”

Desigualdade X Eficiência = Esquerda X Direita

Mitt Romney, candidato republicano à Presidência norte-americana, causou revolta, durante sua campanha eleitoral, quando ele descartou as preocupações sobre a desigualdade como elas fossem apenas a propaganda da “luta de classes” que não tinha lugar no discurso público dos Estados Unidos. Ao invés de cultivar a “inveja social“, através do debate sobre a distribuição de renda, ele argumentou em favor da criação de uma mobilidade social “baseada no mérito”, na América, resultante de políticas que incidem sobre a produtividade e o crescimento econômico.

A indiferença Romney sobre as diferenças de renda é controversa, mesmo na América. Mas ele não é o único a assumir quea distribuição e o dinamismo não andam juntos. A visão predominante entre os economistas ortodoxos, há muito tempo, é que há um trade-off entre a prosperidade e a igualdade de renda.

Um século atrás, a desigualdade foi considerada uma condição essencial para o investimento e o crescimentoporque as pessoas ricas poupariam maisKeynes escreveu, em 1919, que era “exatamente a desigualdade da distribuição da riqueza que tornou possível as vastas acumulações de riqueza fixa e os aumentos de capital, que distinguiu [a Idade de Ouro] de todos os outros”.

Mais recentemente, o foco tem sido o efeito incentivoMilton Friedman argumentou que uma maior desigualdade estimularia as pessoas a trabalhar mais e aumentar a produtividade. Gary Becker, da Universidade de Chicago, acha que a desigualdade incentiva as pessoas a investir em sua educação. Redistribuição, em contrapartida, traz ineficiências como altos impostos e regulações do governo que impedem o trabalho duro. Quanto maior o Estado, maior é a distorção em incentivos privados.

Essa lógica ortodoxa continua tão poderosa como sempre. A liberdade econômica e os melhores incentivos impulsionaram o crescimento na China, Índia e em outros lugares [sic]. A experiência recente da Suécia mostra que desregulamentação, impostos mais baixos e menos benefícios aumentam o dinamismo econômico mesmo, pois reduzem a igualdade. No entanto, a análise [neoliberal] neste Relatório Especial da Revista The Economist sugere que essa lógica é incompleta.Alguns efeitos da desigualdade atual podem ser ineficientes, em vez de promotores de crescimento, por várias razões.

Primeiro, em países com as maiores disparidades de renda, o aumento da desigualdade é, em parte, uma função da rigidez e do rent-seeking, seja ele leis trabalhistas, na Índia, o sistema de monopólios estatais, na China, ou bancos grandes demais para falir, na América. Tais distorções reduzem a eficiência das economias.

Segundo, desigualdade alta não tem, de modo geral, sido acompanhada por uma menor participação do Estado (e, portanto, menor distorção, na ótica neoliberal). Os gastos do governo em muitos países ricos tem aumentado desde a década de 1970. A composição foi alterada, com mais dinheiro sendo gasto em cuidados de saúde, seja para a camada mais popular, seja para a mais rica, e relativamente menos se investiu em crianças mais pobres. Transferências modernas são menos progressivas e provocam menos promoção do crescimento.

Terceiro, a experiência recente tanto da China quanto da América sugere que os altos níveis de crescimento e de desigualdade de renda podem se traduzir em crescente desigualdade de oportunidades para a próxima geração e, consequentemente, diminuição da mobilidade social. Essa ligação parece mais forte em países com baixos níveis de serviços públicos e com  financiamento descentralizado para a educação. Desigualdades maiores em oportunidades, por sua vez, significam menos pessoas com habilidades educacionais e, portanto, mais lento de crescimento no futuro.

Não é fácil distinguir entre os tipos eficientes e os ineficientes de desigualdade. O desenvolvimento de grandes análisescross-country com bases de dados estatísticos, na década de 1990, permitiu aos economistas comparar coeficientes de Gini e crescimento do PIB em muitos países, ao longo de muitos anos, mas os resultados foram confusos. Alguns estudos descobriram que as diferenças de amplitude da renda foram associadas a um crescimento mais lento. Outros acharam o contrário. Em um artigo de 2003, intitulado “Desigualdade e Crescimento: O que os dados podem dizer“, Abhijit Banerjee e Esther Duflo do MIT concluíram que a resposta foi “não muito“.

Estudos mais recentes, no entanto, apoiam a ideia de que a desigualdade pode ser ineficiente. Em uma análise influente, em 2011, dois economistas do FMI, Andrew Berg e Jonathan Ostry, olharam para o comprimento da “manutenção” do crescimento, em vez de simplesmente comparar as taxas de crescimento. Eles descobriram que o crescimento foi mais persistente em países mais iguais, e que a distribuição de renda era mais importante para a sustentação do crescimento, em longo prazo, do que qualquer grau de liberalização do comércio ou mesmo a qualidade das instituições políticas de um país.

Outros pesquisadores tentaram isolar os tipos “não saudáveis” de desigualdade, usando os dois índices de desigualdade de oportunidade, primeiramente, desenvolvidos pelo Banco Mundial e descrito anteriormente neste Relatório Especial da revista The Economist. Dois economistas espanhóis, Gustavo Marrero e Juan Gabriel Rodríguez, construíram um índice de oportunidade econômica para os indivíduos dos estados americanos. Eles descobriram que “o crescimento do PIB foi inversamente correlacionado com a desigualdade de oportunidades para os indivíduos, mas não com a desigualdade global”. Em um próximo artigo a ser publicado pelo Banco Mundial, Ezequiel Molina, Jaime Saavedra e Ambar Narayan acharam que países com menor igualdade educacional, medido pelo Índice de Oportunidade Humana, crescem mais lentamente.

Esta linha de pesquisa está em seus estágios iniciais, mas uma segunda cadeia de evidências, que examina a ligação entre desigualdade e mobilidade social, é mais desenvolvida. Há agora muitos estudos que utilizam a elasticidade inter-geracional de renda para medir a mobilidade social em diferentes países. Miles Çorak, economista canadense, foi o primeiro a colocar os resultados destes estudos plotados em um único gráfico. É conhecida como a “Curva Grande Gatsby” (ver gráfico acima), e sugere que os países com maiores coeficientes de Gini tendem a ter menor mobilidade inter-geracional social.

Luis Nassif

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