FMI e a defesa da ortodoxia

Do Valor Online

FMI defende ajuste fiscal em economias avançada

Por Alex Ribeiro | Valor

Se as economias avançadas cortarem gastos, será ruim para as demais economias do mundo. Mas se perderem a credibilidade porque deixaram de agir, será pior. Essa é uma das conclusões de um documento divulgado nesta sexta-feira pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), que avalia como medidas econômicas tomadas nas cinco maiores economias do mundo afetam os outros países.

“Os efeitos na demanda externa de uma consolidação fiscal nas economias avançadas seriam pequenos em comparação aos efeitos decorrentes do comprometimento da credibilidade fiscal”, afirma o documento do FMI.

Ou seja, se os países avançados cortarem gastos públicos, irão reduzir a demanda por produtos exportados por outros países, o que prejudica o crescimento de outras economias. Mas esse efeito é pequeno, afirma o FMI, comparado com os prejuízos causados a terceiros se, ao não agirem, os países avançados perderem a credibilidade, causando pânico nos mercados financeiros.

Em teleconferência, Ranjit Teja, subdiretor do departamento de estratégia e políticas do FMI, disse que, mais do que a economia real, o mercado financeiro é o principal canal de transmissão de choques de um país aos demais. “Essa é a mensagem crucial”, disse ele.

“Você realmente precisa dirigir a polÍtica econômica de forma a melhorar o estresse que existe no setor financeiro.” Para tanto, afirma o relatório, os Estados Unidos, Europa e Reino Unido devem ter uma ação coordenada para fortalecer a regulação financeira.

No documento divulgado hoje, o FMI consolida e tira ensinamentos de análises que fez em meses anteriores sobre efeitos em terceiros países de medidas econômicas tomadas pelas cinco mais importantes economias do mundo: Estados Unidos, zona do euro, China, Japão e Reino Unido. Esse conjunto de documentos é conhecido pela expressão em inglês “spillover reports”.

Hoje, afirma o FMI, a situação é diferente da observada em 2008 e 2009. Naquela época, quando as economias avançadas tinham espaço fiscal para medidas de estímulo, a expansão fiscal fez sentido e causou efeitos positivos nos demais países.

Nos “spillover reports”, o FMI deu algumas indicações de como uma agravamento na crise da Europa pode afetar o Brasil. Se o sistema bancário central da Europa for atingido, por exemplo, o Brasil sofreria efeitos semelhantes ao da quebra do banco Lehman Brothers, apontou o FMI.

No documento sobre a economia americana, o FMI disse que as expansões quantitativas patrocinadas pelo Federal Reserve (Fed) tiveram efeitos decrescentes nos demais países. A primeira expansão quantitativa, conhecida como QE1, teve efeito mais poderoso do que a segunda, QE2.

Teja, do FMI, esclareceu que o efeito foi menor, mas isso não quer dizer que foi nulo ou desprezível. Ele não quis comentar quais seriam os efeitos de um eventual QE3. “Seria pura especulação”, afirma ele. “Dependeria das medidas tomadas.”

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, tem sido um dos principais críticos das expansões quantitativas feitas pelo Fed, que, segundo ele, engrossam o fluxo de capitais aos emergentes e levam à apreciação da moeda brasileira ante o dólar.

No relatório divulgado nesta sexta-feira, o FMI levanta algumas questões que, sugere o organismo, devem ser debatidas pelo G-20, o grupo de economias mais importantes do mundo. Uma delas é se as economias avançadas com moedas de reserva, como os Estados Unidos, devem levar em consideração os efeitos em terceiros países de suas medidas monetárias.

Outra questão colocada pelo FMI é se, ao optarem pela consolidação fiscal, não aumentaria a inclinação das economias desenvolvidas para adotar mais medidas de expansão monetária, atingindo os emergentes.

(Alex Ribeiro | Valor)

Luis Nassif

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