Há muita oferta de ativo de petróleo no mercado: não é hora de vender, por Sergio Gabrielli

Com os preços de petróleo permanecendo baixos, muitas empresas do setor estão se desfazendo de parte de seus ativos, aumentando a oferta no mercado internacional. Nesse contexto, como a Petrobras vai conseguir vender ativos de US$ 15 bilhões até 2016 e mais US$ 32 bilhões até 2019?
 
do Brasil Debate
 
Há muita oferta de ativo de petróleo no mercado: não é hora de vender, por Sergio Gabrielli
 
Com os preços de petróleo permanecendo baixos, muitas empresas do setor estão se desfazendo de parte de seus ativos, aumentando a oferta no mercado internacional. Nesse contexto, como a Petrobras vai conseguir vender ativos de US$ 15 bilhões até 2016 e mais US$ 32 bilhões até 2019?

Conteúdo especial do projeto do Brasil Debate e SindipetroNF Diálogo Petroleiro

Mesmo considerando que os mais fáceis ativos de venda no mercado de petróleo são as áreas de exploração, onde as empresas obtêm o direito de encontrar o petróleo, a situação não está fácil para os vendedores. As dificuldades de abertura de novas áreas de exploração não estão presentes apenas no Brasil, o que ficou também evidenciado na recente experiência mexicana.

Como lembrou o ex-diretor da ANP (Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis) Haroldo Lima, em recente artigo, as comparações entre as duas situações mostraram que nem a experiência com empresas internacionais – México como monopólio estatal por 80 anos e abrindo-se pela primeira vez para as multinacionais e Brasil estando na 13a. experiência de leilões –, nem o tipo de contrato, partilha de produção no México com cláusulas de retomada pelo Estado e  concessão brasileira de conhecimento amplo pelas petroleiras do mundo, podem explicar o mesmo resultado. O que há em comum é que ambos os leilões ocorreram numa fase de baixa do ciclo dos preços de petróleo.

Muitas empresas estão ofertando seus ativos. A Rosneft da Rússia quer trocá-los por outros melhor situados na Europa. O Irã coloca muitas novas áreas exploratórias para as internacionais e alguns fundos soberanos, como o do Cazaquistão, estão em programas de vendas de ativos da área de petróleo e gás.

Na área de serviços, as empresas americanas Halliburton e Baker Hughes se fundiram e estão obrigadas a vários desinvestimentos para atender às exigências regulatórias dos EUA, oferecendo muitos ativos à venda estimados em mais de 5 bilhões de dólares. Os negócios, no entanto, parecem estar demorando mais do que o esperado, dado os adiamentos para o closing das operações.

No passado, os ciclos de baixa de preço de petróleo foram acompanhados de ondas de fusões entre as empresas de petróleo com uma consolidação e aumento de concentração no setor. A fusão Shell-BG parecia apontar para esta tendência, no entanto, as perspectivas de um longo período de preços baixos estão criando também dificuldades neste específico mercado de ativos.

A consultoria Energy Intelligence estima que um terço das operações de Fusões e Aquisições de exploração e produção (E&P) em 2015 até setembro, sem a Shell-BG, no valor de quase 50 bilhões de dólares, correspondem a negócios com ativos em produção, um terço são para aquisições corporativas e quase um quarto são para compras de ativos ainda em desenvolvimento, sendo menos de 10% para exploração.

consultoria IHS chamou a atenção para um aumento de 23% em 2014 sobre o ano anterior dos gastos com Fusões e Aquisições de empresas de E&P, apesar de que estas atividades em 2013 foram as mais baixas, desde 2008. Em 2014, estas operações alcançaram 173 bilhões de dólares, quando foram de 250 bilhões em 2012. Para 2015, as expectativas são de que as operações serão muito menores, como os dados até setembro já revelaram.

Com os preços de petróleo permanecendo baixos, muitas empresas de petróleo estão buscando se desfazer de parte de seus ativos, aumentando a oferta no mercado. A Shell e a Repsol, depois das aquisições da BG e da Talisman, respectivamente, estão limpando seus portfólios de ativos e empresas menos atraentes, ofertando grande volume de ativos ao mercado.

Se não há operações de Fusões e Aquisições com o E&P muitas empresas estão tentando se desfazer de seus ativos de midstream e downstream. A Shell está querendo sair do mercado de GLP e está ofertando muitos ativos deste segmento, avançando muito lentamente com operações específicas em alguns mercados.

A francesa Total tem um programa de desinvestimento de 10 bilhões de dólares até 2017, mas vem encontrando muito mais facilidade nos ativos de outros segmentos, como o sistema de dutos e logística de processamento e armazenagem na Europa, procurando preservar seus ativos de downstream, que passam por uma reestruturação, para aproveitar as grandes margens deste momento.

A Chevron anunciou um plano de desinvestir 15 bilhões de dólares até 2017, vendendo ativos de E&P na América do Norte, Europa e África, além de se desfazer de muitas licenças exploratórias na Austrália. Exxon e Statoil, apesar de não anunciarem metas de desinvestimento para os próximos anos, têm sido muito ativas na oferta de ativos ao mercado.

O mercado está muito competitivo, porém há a dificuldade de avaliação dos valores das firmas devido às incertezas sobre o preço do petróleo, o alto grau de endividamento das empresas à venda, e muitas companhias estão simplesmente ajustando seus balanços às novas necessidades financeiras de curto prazo.

As operações de maior sucesso são aquelas em mercados específicos, situações particulares: grande aderência estratégica com portfólio do comprador, segmentos de mercado em que há um sócio estratégico interessado, preços muito baixos dos ativos.

Nestas circunstâncias, é muito difícil implementar um plano de grande volume de desinvestimento, sem depreciar o valor dos ativos da empresa que vende.

Pelo lado da demanda, há uma crescente campanha contra os investimentos na área de combustíveis fósseis . Segundo a consultoria Arabella, que acompanha este movimento, houve um grande aumento no número e tamanho das instituições que decidiram se afastar dos investimentos em combustíveis fósseis, passando de 181 para 436 instituições, com ativos que variaram de 50 bilhões a 2,6 trilhões de dólares de ativos entre setembro de 2014 e setembro de 2015.

Por exemplo, um fundo de pensão dos servidores municipais da cidade de Oslo, Noruega, com mais de 9 bilhões de dólares em seu portfólio, sob pressão do Partido Verde, decidiu não mais investir em empresas de combustíveis fósseis. A mesma pressão sobre o gigantesco fundo soberano do país, com 860 bilhões de dólares de investimentos, já havia afastado, em 2014, os recursos noruegueses de projetos na área de carvão e areias betuminosas e este ano foi anunciado que eles se afastariam também de projetos que transformassem florestas tropicais em plantações de oleaginosas para biocombustíveis.

Pelo lado da oferta, as operações de Fusões e Aquisições têm sido muito mais hostis do que negociais. O valor das ações das empresas de petróleo está muito baixo e as companhias não estão dispostas a se vender por valores tão depreciados. Compradores, que consideram que os preços devem se recuperar mais rapidamente, são potenciais proponentes das aquisições hostis, aproveitando-se da maré de baixos valores de mercado das empresas. Os potenciais alvos estão utilizando dos mecanismos corporativos de defesa, como as poisonpills, nas suas estratégias contra as compras.

Nestas circunstâncias internacionais, como é que a Petrobras vai conseguir vender ativos de 15 bilhões de dólares até 2016 e mais 32 bilhões até 2019?

José Sergio Gabrielli de Azevedo – É professor titular aposentado da UFBa, ex-presidente da Petrobras

 

 

Redação

5 Comentários

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  1. O ex presidente tem toda a

    O ex presidente tem toda a razão. Não é hora de vender e sim de comprar. Que tal uma nova refinaria , de preferencia nos Estados Unidos?

    1. Ilações, salvo repetir, reflete lógica ainda que equivocada

       

      Armandolo (sexta-feira, 04/12/2015 às 11:29),

      Pelo menos você leu o texto o que de início dá para pensar que você não tenha a cabeça vazia. Sua ilação, entretanto, não faz sentido. Sérgio Gabrielli não recomendou que a Petrobras aproveitasse o momento para comprar.

      Agora é preciso ter cuidado com o paradoxo da informação que diz que informação demais é informação de menos, o que leva de novo a se pensar na possibilidade do cabeça oca.

      Clever Mendes de Oliveira

      BH, 04/12/2015

      1. Vejamos então, quando o

        Vejamos então, quando o senhor afirma que informação demais levaria a uma cabeça oca. Pois é exatamente o que o seu primeiro comentario expõe. Começa escrevendo sobre musica,vai até depressão e economia, e finaliza com Gabrielli. Chega até a propor uma compra de dividas da Petrobras (naturalmente pelo erário), para mais adiante revende-la com lucro. É neste ponto que impõe-se outro paradoxo, o do Garrincha : – e o senhor já combinou com eles???

  2. Este é um dos bons posts de hoje sábado aqui no blog

     

    Luis Nassif,

    Para o meu gosto houve bons posts hoje no seu blog. Bom ouvir Urge Overkill cantando “Girl You’ll be a woman soon” lá no post “Sobre posicionamentos diante do quadro político atual” de sexta-feira, 04/12/2015 às 11:00, em sugestão de Vania e que pode ser visto no seguinte endereço:

    https://jornalggn.com.br/noticia/sobre-posicionamentos-diante-do-quadro-politico-atual

    E há também o post “O aprofundamento da crise: da recessão à depressão?, por Rodrigo Medeiros” de sexta-feira, 04/12/2015 às 10:51, com um bom texto do professor Rodrigo Medeiros sobre a economia brasileira, embora eu o avalie como bom mais pela oportunidade das questões que suscita do que por trazer uma proposta. O endereço do post “O aprofundamento da crise: da recessão à depressão?, por Rodrigo Medeiros” é:

    https://jornalggn.com.br/blog/rodrigo-medeiros/o-aprofundamento-da-crise-da-recessao-a-depressao-por-rodrigo-medeiros

    E este post “Há muita oferta de ativo de petróleo no mercado: não é hora de vender, por Sergio Gabrielli” de sexta-feira, 04/12/2015 às 09:45, também é muito bom. E é bom mais pelo que ele traz de proposta, qual seja, a Petrobras e o Brasil não devem vender ativos de petróleo no atual momento. É um texto que nem suscita questões tão óbvio, claro e preciso que ele é.

    A situação brasileira atual faz lembrar a situação da época da introdução do Plano Real. O Brasil precisava de receita e não se sabia bem aonde o Plano Real ia chegar. E para piorar o juro estava às alturas e os ativos só se tornavam lucrativos a preços de banana. Por sorte, agora o país está com o dólar valorizado e com reservas elevadas, e o saldo já voltando a ser robusto na Balança Comercial o que o diferencia da época da introdução do Plano Real.

    Assim, pelo menos no tocante aos ativos da Petrobras há que analisar bastante para saber qual é a melhor alternativa. Dependendo do juro que foi cobrado no empréstimo internacional, eu mantenho a minha proposta de mais de um ano atrás, da compra da dívida externa da Petrobras pelo governo para uma posterior capitalização.

    O governo deve esperar até 2017, quando o país deve voltar a formar reservas. Em 2017 então, em vez de comprar dólares, o governo compra dívida em dólares da Petrobras e capitaliza a empresa e posteriormente vende as ações. Pode ser que uma alternativa mais adequada seria manter a dívida em dólares, mas em mãos do governo, e assim o país receberia os juros enquanto a despesa da Petrobras se manteria elevada reduzindo os lucros da Petrobras e assim pagando menos dividendos tanto ao governo como também ao investidor externo. É uma alternativa a se pensar tendo em vista que atualmente só quem ganha com a Petrobras é o emprestador em dólar.

    Clever Mendes de Oliveira

    BH, 04/12/2015

  3. Estava pensando… petróleo

    Estava pensando… petróleo tem de monte nestas reservas. E se ao invés do Brasil esperar que o valor do barril suba estivesse a utilizar da petrobrás como uma desenvolvementista dos países subdesenvolvidos que não possui matriz energética limpa. OU seja, ao invés do país estar esperando o preço do barril de petróleo aumentar, o Brasil poderia buscar mercado em toda a América do sul e África para vender o petróleo em grande quantidade e assim obter algum lucro! Afina, as reservas não são gigantescas e durariam anos explorando ao máximo? Pois este dinheiro que estivesse vindo acelerado através da aceleração da exploração do petróleo poderia alavancar o país em todas as suas frente até o ponto que tornaria-se alto sustentável e não precisaria mais do petróleo mesmo! Pois esta matriz energética já está para ser substituida daqui pra frente. Creio que essa seria a hora de aproveitar nossa capacidade de extração e extrair o máximo possível e vender o máximo possível criando fluxo de caixa para o país e seus investimentos. Porém antes, é preciso abaixar a taxa de juros e recuperar o país dos banqueiros internacional para que o dinheiro não seja comido por elles e continue a destruir a economia interna. Pois o dólar alto só serve para desenvolver o comercio exterior de commodities e destruir comercio interior de tecnologia. Pois aumentando a taxa de juros a economia interna não desenvolve e por conseguinte o dólar continua alto para exportação de commodities. Ou seja, só manteram o juros alto para que o mercado interno não desenvolve-se e o mercado exterior sobrevive-se de commodities. Tornando o mercado interno uma commoditie assim como a mãe de obra interna uma commoditie para as multinacionais que vêm até aqui e toma conta da indústria interna sucateada por uma taxa de juros alta para que os barões do café possam se beneficiar do dólar alto e exportar seu café. Estamos refém de barões do café em pleno século 21. POis com taxa de juros baixa o empréstimo fica mais facilitado a economia interna cresce e desenvolove-se as empresas com o consequente aumento do real frente ao dólar que prejudica a exportação de commodities. Mas ficaremos refém de meia dúzia que desejam o dólar alto para exportar suas commodities enquanto temos nosso mercado interno sucateado e nossa mão-de-obra privatizada por multinacionais que não encontram concorrência interna de um mercado interno fraco e sucateado? O governo está governando para cabeças de gado?

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