Para Belluzzo, câmbio valorizado minou indústria

Tatiane Correia
Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.
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Jornal GGN – A valorização da moeda brasileira frente ao dólar desde o Plano Real foi um “erro crasso”, que, ao ser utilizada para evitar a inflação, acabou por prejudicar o desenvolvimento da indústria nacional e “expôs o Brasil a uma competição internacional que mudou de natureza nas últimas décadas e apresenta uma agressividade inédita”. A afirmação foi feita pelo economista Luiz Gonzaga Belluzzo, durante audiência realizada pela Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado.
 
Um dos efeitos do câmbio valorizado é o incentivo às importações (que ficam mais baratas) e o desestímulo às exportações (que ficam mais caras). “Nunca vi um exemplo de economia em desenvolvimento que tenha crescido ao manter a taxa de câmbio valorizada por 20 anos”, declarou. Ao lembrar que o câmbio foi utilizado sistematicamente para estabilizar a inflação desde 1994, o economista disse que, “se houve uma herança do governo de 1994 [de Fernando Henrique Cardoso] para o de Lula, foi essa”.
 
No início da audiência, Belluzzo fez uma análise histórica e afirmou que, a partir da década de 1980, houve um processo de reconfiguração da indústria manufatureira mundial que resultou, entre outras coisas, na concentração da produção industrial no Sudeste Asiático, principalmente na China. “Hoje, a China exporta para o resto do mundo mais que os 27 países da União Europeia”, frisou. Por outro lado, Belluzzo disse que o Brasil “andou na contramão”, pela falta de políticas industriais ativas e pelo câmbio, fazendo com que o país perdesse “importantes elos” de cadeias produtivas essenciais.”Tivemos desindustrialização. Pois desindustrialização não significa apenas que perdemos setores, mas também que não avançamos em novos setores, que hoje são a vanguarda da estrutura industrial no mundo”, ponderou.
 
Peso da indústria

Quando questionado sobre a importância do setor industrial, Belluzzo destacou que esse setor “não é apenas um conjunto de fábricas, mas um sistema de relações” que envolve da agroindústria a segmentos da área de serviços, como os setores financeiro e de transportes. Ele observou que, no ano passado, a atividade industrial registrou queda em todos os trimestres e a economia cresceu apenas 0,9%, “puxada por um setor, o de serviços, que não tem força suficiente para generalizar o crescimento para outros setores”.”O setor industrial é o elo dinâmico da economia. Ou os chineses, com todos os seus investimentos na indústria, são idiotas?”, questionou, reiterando que “o peso da indústria no crescimento brasileiro sempre foi muito alto”.

 
Além disso, Belluzzo argumenta que a valorização do câmbio deu início a uma sucessão de erros na política econômica do país: com o real valorizado prejudicando a indústria nacional (seja porque aumenta o custo dos insumos ou porque prejudica as exportações), o governo concede uma série de desonerações tributárias, “para permitir um mínimo de competitividade”. Mas, assinala, isso fragiliza o sistema fiscal.
 
Com a fragilização da situação fiscal, Belluzzo explica que a política monetária passa a ser “sobreutilizada”: quando as pressões inflacionárias ameçam a economia, o Banco Central aumenta a taxa básica de juros, que aumenta o custo da dívida pública. No entanto, lembra ele, o superávit fiscal tinha justamente a função de diminuir ou evitar o aumento da dívida pública.
 
Tatiane Correia

Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.

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