Seminário de Educação Integral em Salvador reúne cerca de 250 profissionais da educação

Por Jéssica Moreira, do Centro de Referências em Educação Integral

Ícone histórico de Salvador (BA), o Colégio Central foi palco do I Seminário Educação Integral, que aconteceu nesta terça-feira (5/11), na capital baiana. Organizado pelo Instituto Inspirare e pela Cipó – Comunicação Interativa, com apoio da Secretaria Municipal de Salvador e da Secretaria Estadual da Bahia, o evento contou com a presença de quase 250 pessoas, entre professores e estudantes das redes municipais e estaduais, além de profissionais das secretarias e gestores de educação.

Realizado em um momento em que a cidade de Salvador e o estado da Bahia se preparam para ampliar a oferta de Educação Integral nas escolas públicas, o seminário foi uma oportunidade de diálogo entre os diferentes setores.

Seminário de Educação Integral Salvador/ Créditos: Jéssica Moreira

Seminário de Educação Integral Salvador/ Créditos: Jéssica Moreira

Iniciado em junho deste ano, o projeto de educação integral do bairro Rio Vermelho, em Salvador, pretende ampliar as possibilidades de aprendizagem dos estudantes a partir da utilização dos variados espaços da cidade.

Segundo a diretora do Inspirare, Ana Penido, uma das responsáveis pela implementação do projeto, a ideia é transformar a cidade em uma grande sala de aula. “A articulação entre as organizações, pessoas e empresas é um esforço coletivo. Um bairro educador é aquele em que toda criança que está caminhando pela calçada encontra oportunidades educativas”.

Para Penido, a educação integral não apenas expande o tempo do estudante dentro da escola, mas sim promove seu desenvolvimento de forma integral. “Estamos falando da multiplicidade dos conhecimentos. Do intelectual, físico, social, cultural e também o desenvolvimento pessoal, para superar os desafios”.

Principais elementos da Educação Integral

Fortalecer os conselhos, fomentar a gestão participativa e envolver a família na construção do Projeto Político Pedagógico (PPP) foram alguns dos pontos levantados pela diretora do Inspirare para a construção de uma Educação Integral, assim como a dedicação exclusiva do professor, protagonismo do estudante, articulação territorial e o uso transversal das tecnologias dainformação e comunicação (TICs) em sala de aula.

Está na LDB

A Lei de Diretrizes e Bases (LDB) da educação brasileira propõe que a educação promova o pleno desenvolvimento do aluno, preparando-o para a cidadania e o mundo do trabalho.

Para inspirar os presentes, a primeira mesa do evento trouxe as experiências de Educação Integral da capital do Rio de Janeiro – com o Ginásio Experimental Carioca – e o processo de implantação do Bairro-Escola de Nova Iguaçu (RJ).

É preciso ouvir o estudante 

Maior rede de ensino da América Latina, a cidade do Rio de Janeiro conta, atualmente, com cerca de 1075 escolas e atende, aproximadamente, 700 mil estudantes. Desse total, 350 mil são adolescentes. Foco de atenção do tráfico de drogas e da violência na cidade, os estudantes dessa faixa etária não se sentem atraídos pelo modelo tradicional de escola, o que aumenta ainda mais os índices de evasão.

Diante dessa realidade, a Secretaria Municipal de Educação do RJ vem implementando o programa de Educação Integral Ginásio Experimental Carioca, destinado aos 7º e 9º anos da rede pública municipal. o objetivo é criar conteúdos educativos que dialoguem mais com a realidade e necessidades dos estudantes. Um modelo de Educação Integral com  foco na escuta estudantes, o objetivo do programa é criar conteúdos na escola que dialoguem mais com suas realidades e necessidades.

+ Sobre os Ginásios Experimentais

O currículo tem mais ênfase em língua portuguesa, matemática, ciências e inglês, além de atividades que ajudam o aluno a construir um projeto de vida e a envolver-se em ações de protagonismo juvenil. Além destas, os estudantes podem escolher entre matérias eletivas temáticas, que podem ser propostas à escola tanto pelos professores, quanto pelos próprios estudantes. Nela aprofundam-se temas da sala de aula e outros de interesse da juventude ou relacionados à região em que os ginásios estão inseridos. Veja mais sobre essa experiência aqui. 

Para a gestora do Programa Estratégico Ginásio Experimental Carioca, Heloísa Mesquita, é preciso perguntar aos meninos e meninas o que eles gostariam que existisse na escola para que a experiência de passar até oito horas na escola seja de fato positiva. “Por que não oferecemos oficinas de vídeo com o uso de celulares ou, então, uma oficina de games?”, questiona a gestora, que acredita que não se deve proibir o uso das TICs na escola, mas sim direcioná-las com foco educativo.

Intersetorialidade entre secretarias

A intersetorialidade entre  as políticas públicas também foi um dos focos do debate. No Seminário, os presentes acordaram que é preciso que haja a participação em todos os níveis na formulação e execução das ações, passando pelo gestor público, equipe técnica, professores, estudantes e demais trabalhadores da educação.

Para Maria Antônia Goulart, secretária municipal de educação de Nova Iguaçu entre 2005 e 2010, o diálogo entre as políticas públicas é um dos maiores desafios dos processos de implantação de programas de Educação Integral. Para Goulart, antes mesmo de envolver outras secretarias, é importante que a pasta da educação esteja alinhada aos seus próprios projetos. “A própria Secretaria de Educação promove projetos isolados, fazendo com que cada projeto tenha algo em si que que  não se integra com os outros e com os projetos da escola”.

Leia +
A importância de políticas públicas articuladas na implantação da Educação Integral

A experiência de Educação Integral de Nova Iguaçu, realizada em 2006, contou com o envolvimento de nove secretarias municipais,  fazendo da educação o ponto de encontro entre as pastas de cultura, esporte, atendimento social e desenvolvimento urbano. Como a secretaria de educação não tinha condições de construir novas escolas, passou a utilizar os espaços das próprias comunidades onde as escolas estavam inseridas. Para isso, houve grande esforço das secretarias de urbanização, para garantir a segurança das crianças e adolescentes  o circularem pelas ruas da cidade.

+ Sobre Nova Iguaçu

Para garantir a segurança e facilidade no trajeto dos estudantes, os espaços utilizados para as atividades não poderiam estar distantes das escolas mais que 1 km. Com isso, moradores passaram a abrir as portas da própria casa para a realização de aulas, que passaram a ter novos significados, aproximando o currículo escolar das realidades vividas pela comunidade do entorno, o que aumentou a relação de pertencimento ao local onde as crianças e educadores viviam. Saiba mais sobre essa experiência clicando aqui.

Para Goulart, essa construção democrática da educação só pode ser possível se houver flexibilidade da gestão pública – um dos pilares da construção do bairro-escola em Nova Iguaçu.  Para ela, a participação da população se dá de formas diferentes, uma vez que cada espaço tem um contexto diferente, Por isso, para Goulart, o gestor deve estar aberto a perceber estas particularidades. “Cada território, profissional ou aluno é um elemento único. Quando se fala em envolvimento dos alunos, é preciso pensar que esse envolvimento vai depender daquilo que já trabalham na escola, daquilo que desejam e daquilo que move as pessoas que estão no local”.

Redação

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