ESPORTE BRETÃO
Torcidas mandam cada vez menos e o capital cada vez mais
por Percival Maricato
Torcidas nunca mandaram nos clubes, mas em vez de crescerem de importância, estão ficando cada vez mais insignificantes nos clube-empresas.
Com milionários árabes e americanos comprando clubes pelo mundo, as decisões sobre os destinos dos mesmos e dos jogadores serão cada vez mais decididas por um ou outro capitalista, em uma reunião deles para decidir sobre o futebol global, a organização das competições, por exemplo, cabendo a torcedores se esgoelar nas arquibancadas, quiçá comprar algumas ações sem direito a voto na bolsa dos que estão se tornando sociedades anônimas e também ganhando algum dinheirinho com as vitórias.
Cobiçada no mercado era a grana dos milionários russos, que chegaram a ser donos do Chelsea, mas com a guerra da Ucrânia os ingleses “descobriram” que eram todos corruptos, e agora sequer a velha e quebrada realeza pode continuar a vender seus velhos e decadentes castelos a essa nova classe de milionários mundiais.
No Brasil, o Botafogo, o Vasco e o Cruzeiro já estão, como diz a palavra mágica da moda, privatizados, em outras palavras, já são propriedade particular, já têm dono. Cem mil ou hum milhão de torcedores podem querer algo e o clube decidir no sentido contrário porque assim quer o dono.
Muito romântico, muito democrático, muito participativo, muito social, não é?
Tem outro caminho que é o do clube receber até o nome da empresa proprietária. São vários os red bulls pelo mundo, Bragança Paulista tem o seu. O Red Bull já teve sede em outras cidades interioranas, mas conforme a conveniência vai mudando. Imaginemos o Maracanã dividido entre as torcidas da Coca-Cola e da Ambev, que lindo seria; Biscoitos Maisena x Pão de Queijo Minas entre os menos cotados, torcedores com desenho dos produtos desenhados nas camisetas e bandeiras ou entoando gritos de guerra: vinagre, vinagre, ou sopa da nona, sopa da nona e por aí vai.
O futebol virou uma “oportunidade de investimento” e ao mesmo tempo de ganhar simpatias para regimes totalitários, como descobriram as ditaduras do Qatar, Arábia Saudita, Emirados Árabes e outros países cujo mérito é ter petróleo; ditaduras que os EUA jamais pensarão em invadi-las enquanto não elas não se sentirem muito à vontade para vender petróleo a quem quiserem, como aconteceu com Saddam Hussein. O que menos importa é se respeitam ou não os direitos humanos. Aliás, são países que nem precisa invadir, pois já há várias bases militares americanas em cada um deles.
No momento, o “presidente” do Qatar, país que já é dono do PSG (Neymar, Messi, Mbappé …), está comprando o Manchester United na Inglaterra, e quem sabe no futuro resolva investir no Flamengo ou no Corinthians…. Como lemos nos jornalões, privatização e investimento estrangeiro são soluções excelentes. Aprenderíamos um pouquinho de árabe para saudar nossos novos colonizadores, agora até no futebol.
Percival Maricato
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