Xadrez de como o sistema judicial alimentou o fascismo à brasileira, por Luis Nassif

A dúvida é sobre o tempo para se atingir o fundo do poço. Os Bolsonaro parecem uma cloaca sem fundo.

A semente da politização e início da escalada fascista no Judiciário nasceram e foram alimentados na Procuradoria Geral da República, com a parceria entre o PGR Antônio Fernando de Souza, seu sucessor Roberto Gurgel e seu colega, ex-procurador, e Ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Joaquim Barbosa no caso conhecido como “mensalão”.

Nos últimos anos foram publicados diversos livros traçando uma radiografia do fascismo na história, identificando os pontos de partida, a incapacidade da sociedade de se dar conta da escalada até o movimento se tornar irreversível e promover tragédias nacionais.

Esse padrão aconteceu nitidamente no Brasil, no período que antecedeu a ascensão dos Bolsonaro ao poder.

As etapas principais desse processo têm como protagonistas o sistema judicial.

Peça 1 – a desorganização dos sistemas de informação

Antes do advento do rádio, a informação e a opinião eram organizadas em torno de partidos políticos, sindicatos, Igrejas. A chamada opinião pública difusa se expressava através de jornais, de posições políticas claras e com corpo restrito de opinadores.

Com o rádio, houve uma explosão de novas formas de opinião. A velha ordem se esboroa e, em seu lugar, entra o caos abrindo novas possibilidades políticas, das quais se valem novas lideranças e novos atores.

Assim como nos anos 20, a recente onda fascista global foi precedida pela desorganização do mercado de opinião com as novas tecnologias de informação e a explosão das redes sociais.

Peça 2 – o papel da Veja e de Roberto Civita

No caso brasileiro, há um fenômeno que acelerou a radicalização: o papel da mídia, liderada por Roberto Civita e pela Veja que, a partir de 2005, inaugura o jornalismo de esgoto, a guerra implacável contra um inimigo fabricado, com uso recorrente de fakenews embalados pelo discurso de ódio, seguindo o modelo do australiano Rupert Murdok.

As bestas das ruas começam a ser alimentadas pela própria cobertura midiática.

Nesse início de processo, o grande modelo do novo-velho jornalismo que emerge foi Olavo de Carvalho. É nele que os primeiros cultivadores de ódio da mídia vão se espelhar, na adjetivação virulenta, nos bordões, nos alvos da esquerda, nos métodos de manipulação dos argumentos.

Nao adianta pretender minimizar sua atuação. Desde os anos 90, ao lado das igrejas evangélicas, foi o único agente político com visão de futuro, percebendo os movimentos subterrâneos que se formavam e entendendo o papel fundamental da formação política para o enfrentamento de ideias. Algo do qual PT, PSDB, Igreja Católica abdicaram. Sem recorrer aos recursos da salvação divina, Olavo conseguiu dar vida a um mundo anti-científico, supersticioso, vingativo que, cooptando um exército de zumbis, o transformou no brasileiro mais influente do seu tempo

Peça 3 – o ovo da serpente do mensalão

A semente da politização e início da escalada fascista no Judiciário nasceram e foram alimentados na Procuradoria Geral da República, com a parceria entre o PGR Antônio Fernando de Souza, seu sucessor Roberto Gurgel e seu colega, ex-procurador, e Ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Joaquim Barbosa no caso conhecido como “mensalão”.

Ali inaugura-se a aliança Judiciário-mídia que aniquila com os limites impostos pelos códigos e pelos princípios de direito individual, que sustentavam o pacto democrático pós-Constituinte de 1988. Nos anos seguintes, essa invasão dos bárbaros, demolindo qualquer vestígio de civilização, encontraria sua mais perfeita tradução no corneteiro Luis Roberto Barroso anunciando o novo Iluminismo, a refundação do país, enquanto bigas selvagens esmagavam direitos, rasgavam a Constituição e demoliam o custoso trabalho de reconstrução social pós-Constituinte.

Com todas suas manipulações, a Lava Jato chegou a fatos concretos, de corrupção e de financiamento de campanha. Já o “mensalão” se baseou em provas falsificadas, manipuladas pelo trio Souza, Gurgel e Barbosa: o suposto desvio de R$ 75 milhões da Visanet, que nunca ocorreu, e a manipulação da chamada teoria do domínio do fato, provocando a indignação do seu próprio autor, o alemão Claus Roxin.

Antes da Lava Jato, um parecer da Pinheiro Neto, dos maiores escritórios de advocacia do país, atestou que a verba da Visanet havia sido totalmente aplicada nas campanhas do cartão. Posteriormente, um relatório técnico da Polícia Federal confirmou o fato.

Em determinado momento, tentou-se centrar o desvio na chamada “bonificação de volume” – sistema criado pelos grupos de mídia para remunerar agências de publicidade pelas campanhas divulgadas. Quando se constatou que o maior beneficiário das campanhas da Visanet eram as Organizações Globo, voltou-se ao mote original.

Ali ficavam claras as intenções da própria cúpula do Ministério Público Federal de começar a manipular investigações e denúncias para se firmar como poder político de cunho conspiratório. E conferia-se a falta de tradição democrática e institucional do país. A semente do golpismo já estava entranhada na corporação, e não apenas nos Ailton Beneditos da primeira instância.

O ovo da serpente foi gestado naquele julgamento. Uma leve exceção no punitivismo do Supremo, a discussão dos embargos infringentes, fez com que a mídia direcionasse o ódio do populacho contra o Ministro Ricardo Levandowski

Todo o know futuro de parceria com a mídia, do discurso diuturno do ódio, da sincronização da escandalização com eventos políticos, visando interferir nas eleições municipais, de manipulação das leis, das teorias jurídicas, do código penal, de intimidação dos recalcitrantes, foi testado naquela julgamento. Tudo isso potencializado pela cobertura intensiva das audiências do STF, revelando personagens toscos e deslumbrados, como o então presidente do STF Ayres Brito, e a  submissão da corte aos urros da rua. Ali se formatava o direito penal do inimigo.

Antônio Fernando de Souza aposentou-se da PGR ganhando um mega contrato de advocacia com a Brasil Telecom, de Daniel Dantas, personagem que ele livrou do “mensalão”, ao atribuir o financiamento de Marcos Valério aos desvios da Visanet. Abria-se, pelo exemplo e pela blindagem, um caminho que seria seguido no futuro por outros colegas: o de se valer do trabalho no MPF para abrir novas oportunidades profissionais.

Como instituição que defende a revisão da Lei da Anistia e a Justiça de Transição, aguarda-se ansiosamente o momento em que a PGR e o MPF joguem luz sobre esses episódios em uma futura comissão da verdade. O MPF foi peça central no desmonte da democracia brasileira. E o STF o convalidador, ao abrir mão de sua responsabilidade de defender a Constituição e as leis.

Peça 4 – a trégua do sucesso de Lula

A crise mundial de 2008 promoveu uma trégua na guerra interna. Paradoxalmente o Brasil foi beneficiado. A crise promoveu uma desvalorização cambial que segurou a escalada desastrosa de apreciação do real no segundo governo Lula. Pelo rumo dos déficits comerciais, não fosse a crise, a crise externa explodiria antes do final do ano

Ao mesmo tempo, eclodiu em toda intensidade uma até então impressentida genialidade política de Lula. A condução que deu ao combate à crise, a maneira como se conduziu nas negociações internacionais, lideradas por Celso Amorim, o pacto social que juntou grupos empresariais, mercado e movimentos sociais, deram ao país um protagonismo inédito no mundo e transformaram Lula no estadista mais respeitado do planeta. Durante algum tempo, passou-se a ilusão de que o país finalmente se civilizara, que a política se equilibraria entre a centro-esquerda e a centro-direita, sem movimentos radicais, como nas democracias europeias (que se supunha) consolidadas.

Mas o antipetismo crescia e estava claro, para quem tinha olhos para ver – não foi o caso nem de Lula, nem do PT, nem de Dilma – que, ao primeiro sinal de crise, se colocaria em marcha, novamente, a máquina de desestabilização política inaugurada pelo “mensalão”.

De certo modo, o “mensalão” foi uma benção, um alerta sobre as vulnerabilidades jurídicas e políticas do governo e do PT. Mas o sucesso posterior do governo Lula cegou o governo.

Peça 5 – a Lava Jato e o impeachment

A Lava Jato já foi suficientemente esmiuçada nos últimos anos. Desde as manipulações de delações, de sentenças, como foi o caso do TRF4 aumentando a pena de Lula para impedir a prescrição.

Nesse ponto, o fascismo encontrou sua mais perfeita tradução na bandeira anticorrupção. O antipetismo foi tão virulento e cego que permitiu o desmonte da engenharia brasileira, a eliminação de centenas de milhares de empregos, o aprofundamento visceral da crise, que já vinha sendo alimentada pela queda nos preços das commodities e pela gestão econômica desastrosa de Dilma Rousseff, e na implantação da chamada democracia mitigada – uma imagem suave para o estado de exceção implantado no país. O impeachment arrebentou definitivamente com a ordem constitucional, tendo como pontas de lança cristãos novos do estado de exceção, como Luis Roberto Barroso e Luiz Edson Fachin, um PGR, Rodrigo Janot, que lisonjeava o PT, enquanto poder, e que se tornou rapidamente seu algoz quando os ventos mudaram.

Àquela altura, o Judiciário já tinha mostrado sua verdadeira cara. A proliferação de novos partidos e a radicalização nas redes sociais ganharam adeptos em todo o sistema judicial. Assim como nos movimentos de rua, o proselitismo, as redes sociais, os grupos de WhatsApp desnudaram uma corporação com instintos tão primários quanto as massas ululantes.

Uma pesquisa, ainda hoje, mostraria uma maioria assustadora de juízes, desembargadores e procuradores alinhados com o bolsonarismo, mesmo com as demonstrações diárias de um movimento moralmente doentio, politicamente ameaçador, como foi o fascismo italiano e as primeiras movimentações do nazismo.

A pá de cal na democracia veio com o esvaziamento programático do PSDB e sua adesão ao discurso de ódio, através das manifestações, especialmente, de Fernando Henrique Cardoso, José Serra, Aécio Neves e Aloysio Nunes. Ali ocorreu um processo de autodestruição da segunda perna na qual se sustentava o sistema partidário.

Peça 6 – a custosa redenção

Por outro lado, a visão da bocarra sinistra do bolsonarismo, suas sucessivas declarações de guerra à mídia, o corte nas verbas publicitárias e o hálito peçonhento, imoral, doentio, somado à derrota do petismo – esvaziando o álibi do antipetismo – permitiu um relaxamento na ordem unida.

A extrema crueldade com que a mídia tratou o casal Lula, com a casa invadida, a cama revirada, a condução coercitiva, a própria morte de Mariza Silva, de repente foi substituída por uma reação contra as manifestações indignas dos bolsonaristas, a começar do filho Eduardo, no recente episódio da morte do neto de Lula.

Antes disso, a mídia de opinião começou a permitir gradativamente manifestações progressistas de alguns jornalistas. A razão era simples. O público viciado em violência, que ela ajudou a construir, estava definitivamente nas mãos das redes sociais. Restava-lhe voltar ao público mais seletivo, consumidor de opiniões plurais e civilizatórias.

Aliás, é curioso como se dá esse endosso tácito a uma opinião relativamente mais plural. Os jornais começam a se permitir notas críticas, em relação ao pensamento selvagem dos Bolsonaro, manifestações tímidas em relação aos abusos contra direitos humanos. Os primeiros jornalistas saem da toca e passam a inovar no discurso da última década – defendendo temas civilizatórios. A repercussão motiva outros jornalistas. E, assim, tenta-se voltar ao pluralismo dos anos 90, em um momento em que o modelo jornal está em crise mundialmente.

O que virá daqui por diante é uma incógnita.

Não haverá saída fora da pacificação da sociedade brasileira. E a pacificação passa pelo fim da perseguição implacável a Lula. Trata-se de questão central, que jamais será abraçada pelo bolsonarismo.

O movimento civilizatório é crescente. Não se sabe se a ponto de encorajar o STF a colocar um fim na perseguição a Lula. Recorde-se que na reunião de Bolsonaro com os chefes de outros poderes, para discutir a crise venezuelana, os dois únicos endossos partiram do inenarrável David Alcolumbre, presidente do Senado, e de Dias Tofolli, presidente do STF. Nem os militares, nem Rodrigo Maia, presidente da Câmara, apoiaram a aventura.

Não se tenha dúvida de que o país precisará bater no fundo do poço, antes de começar o rearmamento moral – assim como a humanidade só encontrou um período de paz relativamente mais duradouro depois do desastre da Segunda Guerra e do nazismo.

A dúvida é sobre o tempo para se atingir o fundo do poço. Os Bolsonaro parecem uma cloaca sem fundo.

PS – Devido ao seu comportamento recente, de defensor relevante e corajoso do estado de direito e das garantias individuais, deixo de mencionar o papel central de Gilmar Mendes no período anterior.

 

 

 

 

Luis Nassif

34 Comentários

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  1. O sistema judiciário brasileiro é o mais corrupto e incompetente do hemisfério ocidental. A democracia falha quando o judiciário não cumpre as leis da constituição. O judiciário é responsável pela tragédia do Brasil e pelo desespero de seu povo. Sem reforma do Judiciário, haverá mais desigualdade, pobreza e violência no Brasil, uma nação rica em recursos naturais e mentes jurídicas inferiores.

  2. Bom, inclusive o PS. Acho que seguindo o exemplo do que se faz no Museu Nacional, devemos ter um resgate arqueológico dos escombros do que resta de país/nação.

  3. Gilmar, Reinaldo, Sheherazade, todos mudaram o discurso após solta a besta-fera, mas são tanto culpados quanto Lula e seu republicanismo ingênuo pós-mensalão que não enquadrou a PGR, não enfrentou Gilmar na satiagraha, desterrando Paulo Lacerda e abandonando Protogenes – imagine se tivesse feito o “limpa” no PSDB ali?

    E de Dilma e seu JEC, o MJ mais sem noção da história, que não souberam usar o poder da caneta cortando as asas da Repúbliqueta de Curitiba trocando equipes inteiras após vazamentos ou mesmo cortando diárias, o que rapidamente esvaziaria as forças tarefas

    Sempre foi nitida a oposição a esquerda entre os concursados é o PT fez ZERO para lidar com isso ou com a midia.

    Temos que dar a mão a palmatória que Bozo percebe o perigo e está atacando essas 2 frentes sem medo.

  4. Perdoe-me jornalista, mas poupar de citar as participações de Gilmar Mendes no êxito de todo o processo que veio a redundar no golpe-impeachment da Dilma em 2016, na prisão, que ainda perdura, do Presidente Lula e a consequente eleição do segundo presidente do golpe, Jair Bolsonaro, o texto perde sua densidade, fica desfigurado, macula a História. Tratando-se do Ministro Gilmar Mendes e de sua trajetória, não dá para acreditar em autocrítica. Mais certo é crer que seus negócios podem estar sendo impactados pelos novos rumos, que ajudou no êxito, porque trata-se de um ministro-empresário, o Direito conta, mas nem tanto.

  5. O apreço pelo Direito à vida/liberdade e o respeito à Dignidade humana deveriam ser essenciais na formação dos profissionais que atuam no Sistema de Justiça. Advogados, Promotores e Juízes precisam aprender a conviver pacificamente com a diversidade de opiniões.

    As disputas interpessoais e sociais só não se transformam em guerra política ou em conflitos armados quando encontram soluções adequadas dentro dos limites impostos pela legislação. O Processo é um instrumento da civilização, nunca da barbárie.

    O diagnóstico de Luís Nassif é perfeiro: o desespero do MP e do Poder Judiciário para interferir na política usando o Processo à revelia dos limites da Lei está no centro da crise brasileira. Desde o juramento do Mensalão ficou evidente que existe uma profunda deficiência na formação humanística dos profissionais que atuam dentro no Sistema de Justiça.

    Aqueles que interferem no Sistema de Justiça e estão fora dele (os Advogados) foram menos afetados. Entretanto, já começamos a ver na internet alguns advogados fazendo campanha em favor da pena de morte, da presunção de culpa, das execuções policiais extra-judiciais e até comemorando a morte do netinho de Lula.

    O remédio contra o mal que se espalhou entre os profissionais do Direito existe, mas ele não tem efeito imediato. As coisas irão piorar muito nos proximos anos.

  6. Esse Xadrez de Nassif está perfeito quando diz Não haverá saída fora da pacificação da sociedade brasileira. E a pacificação passa pelo fim da perseguição implacável a Lula. O problema é que o fundo do poço está longe de se alcançar .

  7. Para reflexão:
    Numa única canetada se interrompe a aventura inconsequente dos ineptos no poder. Essa canetada vira do supremo e não por amor à pátria, muito menos a democracia, mas por autoproteção. Quando se virem ameaçados pelo mostro reagirão soltando os podres engavetados. O telefonema de ministro da corte a Lula no enterro do neto é sintomático ali não ha solidariedade, há estrategia e um aviso muito claro aos toscos que tentarem intimidar a suprema corte.

  8. Parabéns ao Nassif por nesses dias de confusão e dor, trazer luz com fatos e relembrar os acontecimentos que nos trouxeram a esses dias trevosos. Como disse Ricardo Kotscho sobre a morte do netinho de Lula “Nem nos piores pesadelos poderíamos imaginar que o país se degradasse tanto em tão pouco tempo, com o medo vencendo a esperança e a morte derrotando a vida que brotava.” Mas não somos, antes de tudo, um forte? Apesar da pusilinamidade que se impõe entre as classes médias e altas, o povo é sim forte, sabedor de seu sofrimento e esperançoso de ter Um futuro. O pouco tempo em que Lula esteve exposto à população, ele foi saudado com amor e com esperança. Esperança de que haja justiça para Lula no Brasil de agora, não tenho mais. Vai depender do dia em que o povo não aguentar mais e colocar seus jalecos amarelos e sairem às ruas pedindo Lula Livre e um Brasil democratico. E para que isso ocorrar, depende de como as pessoas informadas vão continuar suportando tanta opressão.

  9. O comportamento atual do Ministro Gilmar Mendes e o incipiente da “grande” midia balizará o que vem pela frente. Quando o choro e ranger de dentes atingir os heterodoxos (negros, gays, pobres…) que elegeram Bolsonaro terá início o refluir. Será inexorável quando chegar nos ortodoxos (ricos, muito ricos, mais ou menos ricos). Ninguém escapará, não haverá exceção. E ninguém pula ou pulará por boniteza mas a precisão já se escancara. O surpreendente é que os pródromos estejam vindo lá de cima, bem onde tudo começou.

  10. Caro Nassif;
    Esta matéria disseca historicamente as causas desta pocilga em que estamos vivendo.
    Porém existem outros “agentes” causadores da destruição de nossa democracia, que não foram citados, como: polícia federal, rede globo, igrejas neo pentecostais, maçonaria, federações da indústria, Sem contar o braço pesado do imperialismo americano mesmo nos governos democratas como o do Obama.
    Foi formado um cerco quase que intransponível, e nós povo assistimos tudo pacificamente.
    Como disse o PHA o Brasil não tem povo, tem platéia.
    Genaro

  11. O desconto dado a GM é uma condescendência do Nassif até que justificável. Por enquanto! Vamos aguardar as consequências práticas do telefonema de GM a Lula durante o velório do menino Arthur. Mais que um gesto de solidariedade em um momento de dor, esse ato inesperado de GM me pareceu uma sinalização clara de que ele fará um esforço pessoal no STF para que a prisão em 2a instância seja declarada inconstitucional no julgamento de abril. Mas não nos enganemos! Se isso de fato acontecer não será para reparar as injustiças e a perseguição sofridas Lula, mas principalmente para salvar algumas figurinhas carimbadas do PSDB. Afinal, Paulo Preto está preso por decisão de 1a instância que, do jeito que a coisa vai, não tardará a ser confirmada na 2a. Como uma delação premiada desse sujeito pode respingar em muita gente (Serra, Aloysio, Alckmin et caterva), inclusive no próprio GM, salve-se quem puder. A conferir!

  12. Se mantida a política do Governo Militar de Bolsonaro, acredito em dois cenários possíveis: (a) a completa servidão dos cidadãos e a transformação do Brasil em “colônia autônoma”. É a chamada “paz dos cemitérios”; (b) crescente e caótica violência social, podendo chegar a uma guerra civil induzida pelas polícias.
    Somente a Política, comandada pelos democratas, pode inviabilizar esses dois cenários. Mas é necessário a eliminação dos fascistas da vida pública, pois são incompatíveis com o processo civilizatório. É ilusão imaginar a possibilidade de diálogo com fascistas visando a pacificação da sociedade.
    Enquanto não houver união dos democratas, o fundo do poço ficará sempre mais profundo.

  13. A mais perfeita tradução desse país é Brumadinho. Poucos extraem e se locupletam com suas riquezas e deixam para nós, o povo, os resíduos para sermos soterrados. O Estado brasileiro é por nós sustentado para que os abutres exploradores não sejam incomodados.
    Lula representa a classe dos soterrados por isso a avalanche de lama com que tentam enterrá-lo. Mas nesse movimento todos os implicados se enlameiam. No sábado vimos um avô chorando sobre o corpo de um neto se desculpando pelo buylling que essa criança sofreu em seus poucos anos de vida por sua atuação política.
    Enquanto os marinhos da imprensa, os moros do judiciário, os dellagnois do ministério público, os setubals e lemmans do sistema financeiro não assumirem a culpa pelo sofrimento de uma criança calcado unicamente em seus interesses pessoais esse país não sai do fundo do poço. Os pais que induziram os filhos a perseguir um pequeno inocente os sustentam acima da lama em que estão afundados.

  14. Essa politização do judiciário e sua instrumentalização pelo mercado tem sido tão explícitas que o post deveria ser “jogo de damas”.

  15. Prezado NASSIF, já faz muito que te sigo, de antes das redes sociais, dos tempos em que vc comentava economía na TV GAZZETA, lembra?. Enfim, o fato é que esta sua matéria nos esclarece de forma de muito fácil compreenção o ocorrido nestas duas últimas décadas, há porém, ao meu ver, um fator primordial neste desmonte do Brasil como grande nação que se fazia ver e sentir nos governos Lula. Entendamos que “o império Americano jamais permitirá a construção de uma grande nação ao seus pés”, fato, logo se começou a tesser uma estrategia complexa e lenta (política de estado mesmo) para o desmonte das pretenções do Brasil como potência mundial. “Domar” uma das oito maiores economías do planeta, naturalmente requer mais e elaborado trabalho do que custou a destruição da democracia e tentativa independentista do Chile a quase 50 anos atrás, pensemos no efeito cascata que o sucesso de Allende e seus no mais do 10 milhões de mestiços (dos quais faço parte, com muito orgulho), teria provocado na “palpitante” América Latina de aquela época?. Hoje não é diferente, com as trés maiores economias da América do Sul, á época, sendo conduzidas pela orientação de esquerda (só resiste, e bravamente, a outrora terceira). Os “pensadores” Americanos e Europeos estão aqui para isso, para planejar o futuro dos povos, para continuar com o seu protagonismo e para que nos continuemos como “meros seres contemplativos”.

    Obrigado: Mario H.Fuentes

  16. Nassif, ótimo Xadrez. Só fico temeroso porque você ultimamente tem usado com frequência a palavra “punitivismo”. Entendo muito bem os motivos, mas acho ela perigosa no atual momento brasileiro. As pessoas, as massas, os eleitores, não entendem e não querem entender e não aceitam qualquer crítica ao “punitivismo”.
    Não é que devemos fazer as vontades das massas, elas realmente com frequência desembestam, mas… elas são os eleitores, e só nos livramos do fascismo quando temos 50% dos votos + 1 voto dessa massa. Portanto temos de dialogar com a massa. E a massa, ensandecida pela violência, pela insegurança pública, e pela manipulação que o fascismo faz desse elemento (+ o elemento corrupção e + elemento moralismo religioso) quer “PUNIÇÃO”.
    Logo após a vitória do fascismo nas eleições eu escrevi um texto horrível, mal explicado, ao sabor da emoção, que infelizmente virou post aqui no GGN. Depois, eu escrevi um outro texto me explicando melhor, que expôs, penso, muito bem essa questão da sede das massas por “punitivismo” e a necessidade de a Esquerda processar isso com um método de Esquerda, sem temor de “virar” Direita. Esse texto, talvez pela infelicidade do outro, não virou post, mas está aqui: https://jornalggn.com.br/noticia/por-que-haddad-se-recusou-e-a-esquerda-se-recusa-a-falar-sobre-seguranca-publica/
    Platão, na República, diz a seguinte frase: “Excesso de liberdade termina em excesso de escravidão” ou “Da extrema liberdade nasce a maior e mais rude servidão”. Uma esquerda que não quer discutir segurança pública com a população, que deixa passar a idéia de ser condescendente com criminosos cruéis (não estou dizendo que é, mas deixa passar a idéia), não apresenta planos rigorosos de punição da criminalidade (da violência policial e dos bandidos comuns), perde apoios importantes para chegar aos 50% + 1 e entrega o poder aos fascistas.
    Se por “punitivismo” entendemos, como você fala acima, o direito penal do inimigo, o apoio à violência policial, o lawfare, o desrespeito aos direitos dos presos, você está certíssimo. Mas, mesmo assim, devemos discutir o assunto publicamente com muita cautela, pois o fascismo pode distorcer e as massas entenderem a crítica ao punitivismo como uma “defesa dos bandidos”. E aí não saímos do fosso.
    Uma moça escreveu esse texto aqui no GGN: https://jornalggn.com.br/justica/precisamos-discutir-sobre-punitivismo-por-carol-carmela/ E ela entendeu, horrorizada, a sanha por punição que as massas autorizam aos agentes de segurança. Temos de mudar isso, com muita cautela, com inteligência, sem assanhar as massas desembestadas contra a Esquerda. Foi isso que o fascismo conseguiu, com muito sucesso, nos últimos anos no Brasil, culminando com a vitória nas eleições.

  17. A confirmar. Aparentemente Gilmar fez como dizem, como Kennedy e Khrushchov durante a crise dos mísseis cubanos: Foram à beira do poço e olharam para ele. Com certeza não conseguiram enxergar o fundo mas puderam ver o horror ali depositado para recuperarem a razão.

  18. Nassif sempre muito preciso na análise histórica. Uma pena ter “aliviado” com Gilmar Mendes: o ministro-empresário apenas assumiu seu discurso recente pois sabe que é atualmente o alvo central das milícias que tomaram conta do Governo.

  19. “Não haverá saída fora da pacificação da sociedade brasileira. E a pacificação passa pelo fim da perseguição implacável a Lula.”

    O que se faz necessário é derrotar o fascismo. Não creio que isso seja possível com apelos à pacificação. Não há motivo algum para que o lado que venceu e que possui a força aceite pacificamente a restauração plena da democracia. Por que o fariam? A única possibilidade é mudar o quadro de relações de força, e isso só será possível pela mobilização política e popular. A questão é identificar se há e quais são as condições objetivas para essa mudança.

  20. Artigo totalmente incompleto e equivocado.

    Em todos os artigos do Nassif há sempre uma falha mortal nas suas análises, não começar pelo principal e não dar ênfase ao que realmente criou tudo, A LIDERANÇA ABSOLUTA DO IMPÉRIO NORTE-AMERICANO em todo o processo.

    Colocar no Judiciário, na Imprensa de Esgoto como quem lidera todo o processo de destruição do nosso país ou é INGENUIDADE ou é MEDO, a hipótese de ingenuidade pode ser baseada na tentativa de isolar todo o processo brasileiro de tudo que é semelhante em toda a América Latina, falar que o judiciário, a imprensa esgoto agiu por moto próprio no Brasil é dizer que o que ocorreu na Argentina, no Equador, no Paraguai e mais outros países da América Latina foi por coincidência e devido ao azar e não por um planejamento global que iniciou durante mesmo as “democráticos” governos de Obama, que cinicamente definiu Lula como o cara, pois quando definiu desta forma simplesmente carimbou na testa do nosso presidente o título do tradicional filme do cinema brasileiro, que mescla um enredo tradicional com documentário que se chama:

    Cabra marcado para morrer.

    Nassif parte da destruição do Brasil como ela tivesse começado pelo julgamento farsa do Mensalão, onde aí mesmo se vê uma trupe de artistas de segunda linha, começando por Roberto Jefferson, e tendo como ator principal o presidente do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa.

    O presidente do supremo foi tão canastrão no filme do mensalão, que apesar de todo o seu empenho de esconder e evitar provas que desmontavam o caso do mensalão, se formos consultar na Wikipédia o verbete Mensalão em nenhum lugar ele aparece.

    Mas voltando a história, quando os Estados Unidos notaram que um gigante de levantava no sul do continente americano, aí que começa a história. Porém poucos levantam esta história pois parece politicamente incorreto que o primeiro presidente negro norte-americano tenha começado todo o problema, é mais fácil colocar nas costas de um inconveniente loiro, capitalista e republicano Donald Trump toda a responsabilidade.

    A ingenuidade daqueles que há quatro ou mais anos não entenderam o processo é até certo ponto desculpável, pois os próprios governos Lula e Dilma ignoraram o perigo, Lula considerando que o soerguimento do Brasil não incomodava ninguém e Dilma achando que se procurasse uma gestão limpa e honesta seria o suficiente para chegar ao fim do seu governo. Porém chamo a atenção que os três pratos de comida por dia, que Lula tanto defendia nos seus discursos, não é algo neutro e que a “grande democracia norte-americana” aceitaria sem dor. A fome a miséria e os outros fatores que vem com isto, ignorância, falta da autonomia e outros incomodam e muito os Imperialistas do Norte.

    Falei da ingenuidade dos nossos governantes, que na época foram acompanhadas pelos jornalistas progressistas, era tolerável durante este período, porém quando vemos o quadro se fechar, culminando em governos facínoras e ou liberais (que para a países pobres são sinônimos) não se pode simplesmente ignorar quem é o “dono da voz” nos dias de hoje, logo uma ingenuidade tolerável no passado, se torna imperdoável no futuro.

    Como não acredito nos dias atuais na ingenuidade de Nassif, vou para a segunda hipótese, O MEDO. Certamente quando a partir de uma determinada idade, quando temos responsabilidades com a nosso núcleo familiar e muitos dependem do nosso desempenho faça pensarmos duas vezes quando nos defrontamos com inimigos extremamente poderosos e perigosos, e na realidade o Grande Império do Norte é estas duas coisas.

    Porém a quem tem medo, deixo uma advertência, se alguém de determinada idade tem medo do que lhe pode acontecer no futuro próximo, tenha certeza, que num futuro um pouco mais distante por mais cuidadoso que seja, e não tente bater de frente contra os poderosos moinhos de Cervantes, eles ganharão vida e se transformarão em reais gigantes que virão ao seu encontro mesmo que pensasse que somente três pratos de comida por dia incomodariam tanto os donos do poder.

    O medo leva a raciocínios que tentam invalidar o que se vê para o futuro, talvez um governo tipo Bolsonaro não dure tanto, talvez um vice-presidente que com coaching que lhe deu um lustro externo nas suas posições de extrema direita, possa devido a sua racionalidade ser mais tolerante. Talvez uma instituição como as forças armadas, que está ocupando lentamente cargos de primeiro ao enésimo escalão, e começam a se acostumar com salários mais agradáveis, não serão como o judiciário, que quanto mais ganham mais a população os fica invisível.

    Talvez isto, talvez aquilo, mas a única coisa que é certa é que poço não tem fundo máximo para ser escavado, e a ficção sempre supera a realidade.

  21. Concordo! O momento é de algum tipo de pacto,o país não aguentará seis meses de governo Bolsonaro q irracionalmente propõe MAIS INSTABILIDADE com a Lava jato da educação,na história do mundo MAIS REPRESSÃO NÃO RESOLVEU NADA,AO CONTRÁRIO INCENTIVOU MAIS RESISTÊNCIA,o Brasil virou um país de loucos,temos um vice q desceu a lenha nas minorias e aí vc olha pra ele e parece uma mistura de índio e nordestino de um país louco terceiro mundista q não se dá valor(autoridades) defensor de alinhamento a países q só querem tirar o coro do SEU PRÓPRIO POVO,como dizem muitos estrangeiros e eu no lugar deles pensaria a mesma coisa,PARECEMOS UNS PORCOS LATINOS(ANIMAIS)se nós do povão para DEFENDERMOS REALMENTE NOSSA NAÇÃO precisarmos ser DEGOLADOS q assim seja então, HIPÓCRITAS,a questão é q se os militares não fizerem um acordo com os representantes do povo,esses representantes farão um acordo com outras forças internacionais poderosas,isso é o caminho natural,escolham,mais caos ou uma certa normalidade no país com o controle(ainda)de vcs(militares)
    Obs:Venham pra cima do povo pobre com a reforma da previdência q o povo merece saber quem realmente vcs querem beneficiar e defender(bancos)o debate será ótimo e todos saberão quem ganha e está ganhando há muito tempo com a especulação em nosso país!!

  22. Entendi perfeitamente o P.S., Nassif.
    Presidente Lula preso desde 7 de abril de 2018. Quanta tristeza. O mundo não entenderá nunca que o país prendeu um presidente como chefe de quadrilha por ter como vantagem um triplex sem posse nem escritura e agora essa maluquice de reformas no Sítio. Investigaram três anos o Lula e não acharam mala, conta, patrimônio. O STF não serviu nem para dizer que Guaruja fica em São Paulo assim como Atibaia e deixou todos os abusos da força tarefa do lava jato. Colocaram no Paraná juiz, polícia e promotor dentro de uma força tarefa, a arbitrariedade está na origem e o Brasil entrou numa decadência sem fim cujo ápice foi a eleição de um tipo como Bolsonaro.

  23. Nassif, ontem consegui fazer o meu login, meu nome apareceu no alto da folha e também noscomentários. Veio tb a notificação que foram enviados com sucesso. No entanto, eles não apareceram. Estou tentando agora sem login.
    Ana Torres

  24. O artigo tem como principal qualidade a capacidade de sintetizar fatos de um período histórico relativamente extenso, o que poderia explicar as falhas de atribuição de responsabilidade por fazê-lo ao se concentrar em um dos estamentos sócio-institucionais – o sistema judicial -; mas a análise falha em pontos cruciais, a meu ver, por seu substrato ideológico: como o articulista é simpatizante – não sei se é ou foi filiado ao partido – do PSDB e de figuras controversas do jornalismo corporativo onde construiu sua carreira, me pareceu – o motivo da distorção aqui pode ser o mesmo, o substrato ideológico de quem fala, rs – quase que, para livrar a cara do PSDB e seus asseclas (como pode um mísero parágrafo, e com esse tom de “neutralidade”, em relação ao partido que foi a base política deliberada e ostensiva de articulação e sustentação do golpismo pós-2013, até sua derrota eleitoral definitiva?; não sabemos como estão se preparando nos bastidores para o golpe sucessor da famiglia a ser dado com ou pelos militares…), o PT é o culpado, o maior e mais imperdoável, pela má sina do país – talvez essa insistência irresponsável em distorcer responsabilidades seja a justificativa legítima para a ausência da autocrítica institucional do partido. É como dizer: “a elite é mesquinha, oportunista, fdp, mas isso é perdoável, “somos” civilizados quando queremos; agora o PT, como se atreve a não ter sido perfeito para garantir o céu dos capitalistas, povo alimentado e rentistas com o rabo cheio de mais-valia?”. Me lembra uma cena que presenciei quando então funcionária de órgão público de, até pouco tempo, ilibada reputação: um funcionário de casta bradava contra os pecados originais – o PT, afinal, teria inventado e monopolizado a corrupção, pois não? – do PT e da esquerda, até que ao fim da peroração maniqueísta, virulenta e asquerosa, admitiu, como se numa sessão de desabafo terapêutico em que a verdade só aparece quando ninguém está prestando atenção, que o problema nem era a corrupção, mas a “breguice”, porque os ladrões do PSDB pelo menos tinham bom gosto, tomavam champagne e usavam roupa de seda, enquanto os do PT eram pobretões sem bom gosto ou o requinte da classe média – reproduzo de memória, portanto, não é literal mas o espírito da confissão, pessoalmente, é ainda pior que este; lembra muito tanto o ranço classista de muitos dos críticos do PT às esquerdas, e fundamentalmente, a essência do que estamos vivendo desde 2002 – a luta de classes tão perigosa que não se admite com medo do seu efeito conscientizador e desmistificador.
    Voltando ao artigo, eu poderia reproduzir trechos para corroborar minha impressão, como fazem os analistas de discurso midiático – madrasta do texto ruim, Letícia Sallorenzo, ou a equipe do Manchetômetro – mas não tenho sua capacidade nem isenção, portanto, vou argumentar por um caminho onde posso apelar para a ajuda dos mestres da análise política USamericanos, Chomsky e Howard Zinn (autor da história popular dos EUA, censurado em seu país, recordista em vendagem de livros didáticos de história e um intelectual respeitado e inspirador dos mais importantes ativistas progressistas daquele país – uma curiosidade, ele também é pai de Myla Kabat-Zinn, doula e educadora, casada com o terapeuta e criador da técnica de Mindfulness e sua aplicação à saúde pública nos USA, Jon Kabat-Zinn, outro inspirador revolucionário em terras ianques).

    Ontem comecei a assistir o vídeo de uma palestra de Chomsky e Zinn, de 2004, que ainda não terminei (estou na primeira meia hora, e quanto conhecimento para fazer pensar!), sobre se seria possível ter esperança em um mundo de desespero (a pergunta é mais atual que nunca, e a mensagem principal também) – outra curiosidade, a palestra foi feita em apoio a projeto de um grupo voluntário de assistência a pessoas sem teto, que editava jornais cuja venda era revertida em renda para tais pessoas, experiência que foi repetida aqui em 2007/2008, salvo engano.
    O aspecto importante da palestra, até onde assisti, que acho que falta nas análises do articulista, em especial esta, talvez por sua visão de curto prazo e sem recurso à perspectiva histórica mais ampla no tempo e no espaço (o comentário de “Genaro” neste artigo é preciso; sem considerar a conjuntura internacional e a história recente do Brasil, saído de uma ditadura deslavada por ausência de justiça restaurativa, e da América Latina, eterno feudo dos USA, qualquer análise, por melhor que seja, será precária), e também por sua adesão ao “capitalismo civilizado” de uma certa noção de socialdemocracia que não permite falar em luta de classes, é que a história é feita e contada pelos donos do poder e do dinheiro, e que os momentos de resistência e transformação realmente democráticas são sempre seguidos de recrudescimento do autoritarismo e violência das elites contra os grupos sociais subversivos dessa ordem capitalista – fala do professor Chomsky no vídeo mencionado; ao final deste comentário, o link para ele. O motivo para esperança é que há um espaço não bem explorado para a subversão minar o sistema de opressão, se não pensar em curto prazo e insistir no aparente impossível.
    Pois bem, a liderança de Lula tida como “impressentida”, visão pessoal do articulista que tenta tornar essa “surpresa” um fato público coletivo incompatível com a história tanto de Lula quanto do Brasil – ele não se projetou como liderança política no sindicato fazendo exatamente o que foi mencionado pelo articulista, facilitando a negociação entre grupos oponentes? – na verdade foi o cimento político e popular que possibilitou a permanência, devido ao início de sua implementação com alcance e percepção social – do projeto civilizatório da constituição de 1988, como um ato e fato institucional tão bem conduzido – considerando o período precedente de adiamento e mitigação da efetiva participação popular no governo do país, de 1964 a 2002 – que ameaçou as bases da desigualdade histórica, com reflexos em todas as esferas da vida social e política; a marca de seu sucesso multifacetado foi a urgência e a gravidade, e a pervasividade sócio-política, de seu contra-ataque, do que a imagem altiva e em sofrimento de Lula cercado por centuriões fortemente armados resume o recado das elites colonizadas/colonialistas capitalistas hereditárias: “povo, não se atreva a realizar o sonho de liberdade e soberania, que a encenação publicitária de civilidade logo vira um filme B de Hollywood e mostramos os dentes, e as armas, sem medo de sermos desmascarados, aliás até nos regozijamos com a percepção, ainda que covarde, de que nós, USA, estamos no comando”.

    Lula, o sol da participação popular efetiva na história do país está preso para que, em trevas, os desavisados sigam para o matadouro acreditando que seu defensor é seu inimigo – o quanto há de desinformação ingênua ou de maldade nessa crença até agora não sabemos, e descobrir é fundamental para a resistência a ser construída.
    Sem considerar que somos um país profundamente, de maneira talvez inconciliável e mais gravemente que em outros países de todas as Américas nascidas da diáspora européia, dividido por séculos de violência da elite contra os mais pobres e mesmo contra uma certa burguesia de esquerda, e forte rejeição a influências progressistas internacionais e lentidão para com elas dialogar e contribuir – nunca deixamos de ser colônia, mesmo durante os anos de respiro; entre 2003 e 2015, a última trégua das elites homicidas transnacionais capitalistas, fomos colônia festiva do sistema financeiro nacional e internacional; esses elites permitiram o afrouxamento do cabresto mas nunca fomos fortes o suficiente para arrancá-lo; o estrangulamento que sentimos agora é a resposta pavloviana para quem ousou tentar fazê-lo sem alarde – não sairemos do fundo do poço por um problema básico de localização geoespacial que pode nos fazer cair em outro mais íngreme – a militarização de todos os escalões do desgoverno fascista, as alterações legais para que militares possam ocupar cargos civis sem distinção ou restrição, sinaliza que o Golpe comandado pelos USA seguirá pela via da ocupação institucional, e assim o golpe militar será dado com a tomada das instituições como um vírus que invade um corpo convalescente, tornado palatável pela desmoralização da banda civil do desgoverno, pelo apoio da mídia e pela complacência de uma sociedade civil desorientada e politicamente exangue; como um governo militar puro sangue seria um empecilho internacional e econômico, e para a burguesia pseudo-democrata, ciro e psdb podem ser repaginados para esse segundo governo de “transição”, como já se tentou fazer durante a eleição, uma suposta “transição” do PT-forças progressistas para um governo da burguesia com tolerância a alguns direitos do povo, como comer e se vestir com qualquer cor, até vermelho, rs. Fecha parêntese.

    Sem essa perspectiva histórica e política, lendo o artigo, podemos ter a ilusão perigosa de que é questão de um surto de estupidez passageiro que pode ser revertido com uma vacinação massiva de informação e de “bom-sensismo” ou “bom-mocismo” para apaziguar o medo dos vermelhos, o antipetismo. Quem dera fosse o caso.
    Nosso buraco é mais embaixo e mais atrás – não, não é o orifício salvador que temos na saída do intestino, e que é a fixação de certos sonegadores patifes e pastiches de intelectual, rs.
    Trata-se da teoria da modernização conservadora – não conheço com a profundidade necessária sua obra, portanto, corrijam se houver algum erro de nomenclatura ou de compreensão – de Raymundo Faoro, que descreve em seu livro, de título muito adequado ao momento, “Existe um pensamento político brasileiro?”, como o país mantém as estruturas autoritárias de sua constituição, com demãos demagogas de vernizes sucessivos para manter sua atualização permanente com as correntes internacionais que lhe permitem mudar para permanecer o mesmo, a ilusão da mudança aparente como transformação que não acontece.
    A revolução é uma necessidade social, econômica e ambiental. Quem teve a coragem e paciência de ler até aqui, como anda sua pegada ecológica? Não esqueça que enquanto discutimos o sexo dos anjos e demônios da política, e suas relações de amor, ódio e promiscuidades várias, o planeta está seguindo rumo à destruição sob essa mesma racionalidade, lógica, ou mau caratismo capitalista que dirige, manipula ou inviabiliza as democracias do mundo. Quem não gosta de planta e bicho, não gosta de gente e provavelmente, idolatra dinheiro, principalmente se for produzido pelo trabalho e exploração de planta, bicho e gente.
    A origem dos males é a mesma, o egoísmo, a ganância e a insensibilidade que são os motores do capitalismo.
    A cura pode ser socialismo, comunismo, ecossocialismo, ambientalismo, qualquer ismo que não tenha o dinheiro e sua reprodução como princípio, meio e fim.

    Aqui, link para o vídeo dos professores Chomsky e Howard Zinn.
    https://www.youtube.com/watch?v=L7-G9VrJr_k

    Sampa/SP, 04/03/2019 – 15:28

  25. Eles são mais objetivos e determinados. Nós somos pacíficos (ou será seria melhor disser passivos?), sempre a espera de um pacto motivado pela razão. Porque sabemos que a história é fruto da razão…

  26. Nada a comentar sobre o conteúdo. Perfeito. Só quero destacar que o plural de nome próprio segue a regra de qualquer substantivo. Portanto, como mostram as gramáticas.: Os BolsonaroS.

  27. artigo que historia muito bem a infamia a que chegamos com tantas insanidades e traições à democracia….
    só discordo da frase sobre o tal desastre do governo dilkma roussef….
    é como se culpasse a vítima de estupro pelo
    crime praticado pela turba assassina…
    .

  28. lamentável ter poupado Gilmar Mendes. Esse indivíduo não tem nenhum compromisso com a democracia, com o sentimento de justiça, preocupa-se apenas com seus ganhos financeiros. Contribuiu muito com o ataque incansável ao pensamento progressista. Espero vê-lo na cadeia, mas como estamos no Brasil, morrerei antes.

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