Tony Garcia: depoimento que pode mudar a história do Judiciário, por Luís Nassif 

Tony Garcia pode explicar a resistência do TRF-4 em permitir uma gestão transparente na 13ª Vara de Curitiba

O depoimento de Tony Garcia a Joaquim de Carvalho, na TV 247, é a exposição mais nua e crua dos pecados da Lava Jato que se tem notícia. 

Tony era um playboy paranaense, que tentou fazer carreira política, e se colocou no caminho de Sérgio Moro quando se aproximou de Roberto Bertholdo, lobista que havia grampeado o próprio Moro.

Moro e os futuros procuradores da Lava Jato já trabalhavam em parceria bem antes. Preso, foi chantageado para grampear autoridades a mando de Moro e dos procuradores Carlos Fernando de Souza, Januário Paludo e Orlando Martello. Acompanhado de um agente da ABIN (Agência Brasileira de Inteligência) indicava para o grupo quem e onde gravar. A equipe já dispunha do equipamento Guardião, para grampos.

Do longo depoimento, sobressaem algumas acusações gravíssimas.

  1. Félix Fischer.

A longa mão da Lava Jato era eminentemente paranaense. Começava com Moro, a estendia-se para a 8a Turma do Tribunal Regional Federal da 4a Região, depois pelo paranaense Félix Fischer, no Superior Tribunal de Justiça, e pelo paranaense Luiz Edson Fachin no Supremo Tribunal Federal.

Recentemente mostramos como o escritório Fachin e Associados enveredou pelo caminho do compliance e do direito empresarial – porta de saída de outros procuradores e juízes.

No depoimento, Tony diz que um dos grampos flagrou Bertholdo pagando honorários a Sérgio Fischer, filho de Félix. Seu nome não entrou no inquérito, mas deu a Moro poderes sobre Fischer.

Esses fatos já haviam sido divulgados pela revista IstoÉ. E resultaram em uma condenação da revista.

  1. Baile das cuecas.

Conta que por volta de 2003, Bertholdo organizou um “baile das cuecas” no principal  hotel de Curitiba, para o qual vieram vários desembargadores do TRF4 em jatinhos fretados (a sede do Tribunal é em Porto Alegre). O encontro teria sido filmado. Obviamente, Tony terá que apresentar provas e pistas robustas. No episódio em questão, segundo ele, bastaria levantar a ficha dos hóspedes do hotel na data mencionada.

  1. Depoimento escondido por Gabriela Hardt.

Tony sustenta que deu um depoimento em juízo para Gabriela Hardt, narrando os pontos principais de seu trabalho. Em vez de levar adiante, ela engavetou. No curto período em que esteve à frente da 13a Vara, o juiz Eduardo Appio mandou desengavetar. Afastado, o primeiro ato de Hardt foi engavetar novamente. 

Tony era, também, amigo de Eduardo Cunha e prometeu revelar, em juízo, ações que empreendeu no impeachment de Dilma Rousseff.

O depoimento dele pode explicar a resistência do TRF4 em permitir uma gestão transparente na 13a Vara. Mas abre o caminho para a corregedoria do Conselho Nacional de Justiça e o próprio STF para proceder a maior operação da história, de limpeza do Judiciário. E depressa, já que há indícios de destruição de provas.

Por enquanto, são afirmações que terão que ser confirmadas com provas ou pistas. De qualquer modo, é mais uma bomba no colo de um tribunal que perdeu a noção de limite.

Publicado originalmente em 2 de junho de 2023

Luis Nassif

12 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Nassif, se isso se confirmar, estamos diante da maior quadrilha de criminosos já vista, chantagistas, manipuladores e conspiradores. Se a mídia participou repercutindo, tem que ser investigada, os atores políticos, da PF, do judiciário tem que pagar também, isso tem um núcleo de comando, ainda não exposto, mas é clara e associada com todas as nuances do GOLPE.

  2. Esse tipo de gente,que fez o que ele disse que fez,tem credibilidade zero. Não por acaso, estão todos envolvidos com o camisa preta do Paraná.

  3. Juizes, procuradores e participantes do poder judiciario tem a certeza da impunidade e infelizmente não acredito que isso vá mudar.
    O máximo que acontece com esse povo quando eles fazem umas m…..dessas é serem obrigados a se aposentar recebendo o mesmo salário de quando estavam na atividade.

  4. Edson Fachin foi indicado ao STF por Dilma Rousseff, em 2015. Ninguém do governo ou do PT sabia nada sobre ele? Foi ele quem anulou todas as condenações de Lula. Por quê fez isso, se ele é do grupo da Lava Jato.
    Está simples demais essa história, bandidos bem bandidos de um lado e mocinhos bem mocinhos do outro lado.

  5. Estas práticas são típicas de juízes mafiosos.
    A Cosa Nostra estabeleceu seus tentáculos na República de Curitiba, no Parque da Harmonia em Porto Alegre, mas com a cumplicidade de membros dos tribunais superiores de Brasília.
    São agentes públicos, ou seja, pagos com dinheiro público para cometer crimes.
    FIM DOS TEMPOS!

  6. Se o Baile da Cuecas tiver sido visualmente registrado e Moro tiver tido acesso ao material, podemos assumir que ele não o destruiu e o tem guardado consigo. Destarte, sempre poderá ser usado como chantagem em caso de ameaça de processo.

  7. O fachin anulou tudo porque o Zanin, advogado do Lula, tinha mensagens da operação Spoofing que eram comprometedoras para o STF e especialmente para o fachin. O Zanin vinha soltando aos poucos essas mensagens. A pressão ficou tão grande que o fachin teve que anular a farsa. Quando o Zanin pediu acesso aos dados, o fachin foi o único ministro que negou.

  8. Por falar, nas imundícies da Lavajato, acabo de ler que “várias ferramentas disponíveis on-line, a maioria delas gratuita, permitem reproduzir a técnica de clonagem de voz que deu origem ao hit “Heart on my sleeve”. Não à toa, no primeiro semestre de 2023, a internet foi inundada por montagens divertidas com vozes de astros em músicas que não são deles”. Ao ler essa notícia, me recordei do suposto telefonema do Eduardo Appio ao filho do desembargador do TRF-4. Segundo a PF, a voz do sujeito que telefonou para o filho do Malucelli se assemelha em 75% à voz do Eduardo Appio. Esse fato aliado ao fato do sujeito já estar preparado para gravar a ligação, me sugere que aquilo é uma montagem mal feita.

    1. Já comentei esse fato no Face. Quando discutimos esse assunto aqui em casa, um dos membros da família disse imediatamente que era coisa de inteligência artificial simular voz de outras pessoa. Por isso que PF ficou em dúvida.

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador