Bolsonaro é o Estadão e vice e versa, por Fábio de Oliveira Ribeiro

Os donos das empresas de comunicação, Sérgio Moro e Deltan Dellagnol trabalharam juntos para depor Dilma, prender Lula e destruir o PT.

Bolsonaro é o Estadão e vice e versa

por Fábio de Oliveira Ribeiro

Esses são apenas alguns exemplos de como o Estadão virou um diário da corte bolsonarista:

Bolsonaro contra-ataca e rebate Cid sobre venda de joias

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‘Estamos sendo perseguidos e injustiçados’, diz Michelle Bolsonaro sob risco de delação de Mauro Cid

Lava Jato 2.0

De março de 2014 até meados de junho de 2019, o Estadão apoiou a Lava Jato. Não é preciso pesquisar muito para concluir que do princípio ao clímax da operação os métodos utilizados por Sérgio Moro e Deltan Dellagnol para esvaziar de conteúdo jurídico os princípios constitucionais do Direito Penal não foram muito criticados por aquele jornal. Isso fazia sentido, pois não existia uma distinção clara entre os objetivos políticos dos heróis lavajateiros e os do jornalão político.

O braço jornalístico do Lawfare (Rede Globo, Rede Bandeirantes, O Globo, Estadão, Veja, Folha de São Paulo, etc), que recebia e reproduzia de maneira acrítica as notas e informações vazadas pela Lava Jato, ficou frustrado com a derrota de Aécio Neves. Os donos das empresas de comunicação, Sérgio Moro e Deltan Dellagnol trabalharam juntos para depor Dilma Rousseff, prender Lula e destruir o PT.

Os dois primeiros objetivos do consórcio Lava Jato/Estadão foram cumpridos. Mas o último se mostrou impossível de ser atingido especialmente depois que o The Intercept começou a noticiar o escândalo da Vaza Jato. Nos porões sórdidos das comunicações sigilosas entre os membros da operação havia de tudo: desde a admissão de que FHC devia ser protegido, até uma camada processual ilegal em que o juiz e o procurador tramavam o que seria feito para prejudicar Lula. A ofensa pessoal a uma ex-PGR que foi chamada de “ratazana desprezível” por uma procuradora é apenas um exemplo do linguajar de botequim utilizado pelos asnos diplomados do MPF.

À medida que a Vaza Jato cresceu, o apoio do Estadão a Sérgio Moro e Deltan Dellagnol começou a declinar. Em certo momento, o jornal passou a criticar os métodos lavajateiros como se tivesse feito isso desde o começo da operação. Nenhuma autocrítica foi feita. A hipocrisia programática do jornalão parece obrigá-lo a ficar do lado errado da história inclusive e principalmente quando pode fazer isso como se estivesse defendendo a moral e os bons costumes.

No futuro próximo o legado lavajateiro do Estadão precisará ser revisitado por um pesquisador. Afinal, sem a ajuda daquele jornalão os procuradores e juízes deslumbrados e aloprados que politizaram seus cargos para obter vantagens pessoais não teriam obtido tanto sucesso. Sérgio Moro e Deltan Dellagnol conseguiram acoelhar o STF, ajudaram a destituir uma presidenta eleita e levaram Jair Bolsonaro à presidência da república. Após destruírem a credibilidade e a respeitabilidade do sistema de justiça, ambos deixaram seus cargos e invadiram o campo político usando as mesmas táticas duvidosas que supostamente combatiam.

Há algumas horas o Estadão saiu em defesa de Jair Bolsonaro, acusando o STF de utilizar os métodos ilegais lavajateiros para perseguir o ex-presidente. Mas ninguém deve se enganar, pois o legalismo do jornalão paulista é seletivo. Sempre que o Estadão começa uma cruzada moralista é preciso desconfiar que o objetivo do dono do jornal é muito distinto daquele que está sendo vomitado nas páginas dele.

Apesar de ter perdido a eleição de 2022 e ver seu apoio declinar no princípio de 2023, Jair Bolsonaro ainda deve ser considerado o principal líder da extrema direita brasileira. Ele é o único político com projeção nacional suficiente para disputar uma eleição presidencial com chance de vitória. Numa briga de cachorros grandes, todos os outros candidatos que a mídia está tentando criar ou ressuscitar são vira-latas banguelos sem prestígio e votos.

Ao sair em defesa do ex-presidente como se estivesse preocupado com o Estado de Direito, o jornal que ajudou a reconstruir o Estado da Direita militar está na verdade querendo preservar o capital político do capitão amalucado genocida e desonesto. O objetivo do Estadão continua o mesmo: impedir que um candidato do povo ganhe a próxima eleição e imponha ao país uma agenda pública diferente daquela que foi decidida no seleto clube dos donos de empresas de comunicação.

Nas próximas semanas, devemos ver uma nova guinada à direita do Estadão. Além de atacar Lula e o STF, o jornalão tentará resgatar um suposto legado positivo do governo Jair Bolsonaro. O aumento do desemprego e da fome, a queda do poder de consumo da população, a violência sistemática contra índios e quilombolas e o assassinato em massa da população durante a pandemia serão esquecidos jogados para debaixo do tapete.

Os “canetas” do bolsonarismo no jornalão provavelmente começarão a falar bem da financeirização da economia e dos lucros exuberantes auferidos pelos banqueiros e pelos especuladores financeiros quando Paulo Guedes comandava a economia. “Uma era de ouro do neoliberalismo chegou ao fim com a posse do ‘sapo barbudo’ petista”, será o tema principal do Estadão ao lado da defesa intransigente dos direitos constitucionais do capitão que gostava de xingar jornalistas e dizer “Eu sou a constituição”. Well… certamente Bolsonaro já é o Estadão.

Fábio de Oliveira Ribeiro, 22/11/1964, advogado desde 1990. Inimigo do fascismo e do fundamentalismo religioso. Defensor das causas perdidas. Estudioso incansável de tudo aquilo que nos transforma em seres realmente humanos.

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Fábio de Oliveira Ribeiro

2 Comentários

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  1. O PIG jamais se desmobilizou, DESDE ANTES DE 1889. Houve algumas baixas; muita substituição do ‘capi’… mas jamais acabou; jamais se desmobilizou. E a CAL – Central de Achincalhes ao Lula está só num cochilo passageiro. “Uma vez golpistas; sempre golpistas”. Até mesmo pel'”o prazer de confirmar a profecia”, como dizia Faoro.

  2. Infelizmente, após mais de década comentando por aqui, tem sido uma dificuldade comentar neste GGN com msgs como “you’ve been blocked” ou “invalid re-captcha”. Mas de vez em quando passa alguma contribuição como essa, que vou ficar rouco de tanto escrever: Bolsonaro NÃO É um líder, mas apenas um ÍDOLO. Sim, sertanejos e roqueiros p.ex. conseguem ter milhões de seguidores e juntar outros tantos em ëventos”, mas não lideram ninguém, a menos de seus cupinchas e alguns fanáticos.

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