Os cães ladram e a Caravana Guedes passa, por Frederico Firmo

Todos trabalham para  fatiar, vender ações e privatizar o que ainda não foi privatizado. Caso isto não seja possível, vão carregar consigo todas as informações úteis para especular 

Agência Brasil

Os cães ladram e a Caravana Guedes passa.

por Frederico Firmo

As manchetes e notícias se debruçam sobre o caso Pedro Guimarães, o barulho é ensurdecedor, típico de uma bela manobra diversionista. O assim dizente, presidente da Caixa é um assediador moral deveras conhecido. Mesmo porque era um fiel seguidor do presidente que, em reunião pública e notória, ameaçou o ministro da justiça e outros ministros para seguirem estritamente suas ordens. Anunciou que todos deveriam se reportar a ele sobre qualquer investigação contra seus filhos.

Pedro Guimarães, numa cena humilhante, obrigou publicamente funcionários e diretores da Caixa, a fazerem flexões num verdadeiro “show” para o presidente. Estas são cenas de assédio moral explícito já conhecidos de todos. Na imprensa isto foi mostrado como mais uma bizarrice do atual governo. Não houve grita nem processos de assédio.  A famosa  reunião ministerial também foi tratada como bizarrice ou como uma pequena transgressão. Os processos e ações contra “bizarrices” ocorrem apenas quando algum interesse se manifesta. Pedro Guimarães não caiu pelas denúncias, que já existiam de há muito, mas foi provavelmente abatido pelo “fogo amigo”.

Enquanto os cães ladram a Caravana Guedes continua em sua marcha apocalíptica. Em poucos meses Guedes conseguiu emplacar, o Ministro de Minas e Energia, Sachisida, o presidente da Petrobrás, Paes de Andrade, e agora a presidente da Caixa. Todos trabalham para  fatiar, vender ações e privatizar o que ainda não foi privatizado. Caso isto não seja possível, vão carregar consigo todas as informações úteis para especular  no mercado de ações. Guedes, ex-sócio do BTG e de outras tantas instituições financeiras e seus familiares estão comandando a festa, já que jamais comandou a economia.

Na imprensa, Daniella Marques, a ex braço direito de Guedes, já demitiu toda a equipe de Pedro Guimarães em nome da defesa da mulher e da moralidade. Uma devassa tão rápida me intriga, pois, Daniella trabalhou com o grosseiro e misógino Guedes servindo ao governo Bolsonaro. Não me parece qualificada para se tornar defensora dos direitos femininos. Em breve saberemos se ela está numa luta justa ou se apenas se prepara para tomar de assalto a Caixa Econômica, talvez os dois.

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Nos próximos dias as notícias serão tomadas pelas denúncias dos e das funcionárias que não são poucos. O ex ministro da Educação saiu do foco e na imprensa se discute se a tal CPI tem ou não um objetivo eleitoral. Em outras palavras, assédio, corrupção, usurpação de cargos públicos, tráfico de influência, inoperância, destruição do ministério, superfaturamento e desvio de verbas públicas são reduzidos a disputa eleitoral, o que subliminarmente desqualifica as acusações. Aliás, não se pode esquecer que por trás do assédio existe a “caixa preta“ da Caixa, que continua fechada, mas com algumas fissuras. Guimarães deve se preparar, pois, vão abrir as fissuras convenientes.

Guimarães sempre foi homem do presidente Bolsonaro e não de Guedes. Com o trunfo do assédio, Daniella fez uma devassa que deve ter atingido amigos do clã. Bolsonaro acusou o golpe e fez questão de dizer que nada muda com Daniella. Parece que existe uma sutil queda de braço entre Guedes e o palácio do Planalto. Guedes focado nas privatizações contra um Bolsonaro preocupado com as eleições ou com um golpe. Perder o controle sobre a Caixa nas vésperas das eleições é um verdadeiro desastre. O silencioso presidente do Banco do Brasil que se cuide, pois, não foi escolha de Guedes e  pode ser o próximo alvo.

A imprensa se limita a noticiar o escândalo da semana e apesar do tom crítico parece sempre presa à superfície. Esperam ansiosamente pela CPI do MEC, mas nem tocam mais nos resultados da CPI da Covid. A tentativa descarada de utilização dos órgãos e instituições de Estado para ganhar dinheiro com a compra de vacinas já foi esquecida. A imprensa, de longe, apenas  aponta o dedo contra  Aras, que continua blindando o governo. Contrariamente ao período Lavajatista, a imprensa noticia, mas não faz nenhuma campanha constante e nem mantém  uma crítica contundente e constante contra todo o descalabro e corrupção do governo. Aras passa incólume. O tratamento dado a Cunha não se aplica a Lira que constrói sua própria fortaleza incrustando na constituição tudo aquilo que lhe for conveniente.

Enquanto isto a caravana Guedes continua em marcha. Sachsida depois da venda da Eletrobrás, visa algumas refinarias e avança sobre a subsidiária da Petrobrás que gerencia a exploração do pré-sal, PPSA. Bilhões escoam para mãos do mercado, mas ninguém segue o caminho do dinheiro. Economistas idiotas e/ou mal-intencionados continuam repetindo o mantra da privatização. Antigamente diziam ser necessário privatizar as estatais deficitárias, agora não usam mais esta desculpa. O país não tem nem usa mecanismos de defesas contra os abusos de um Executivo que transforma todas as políticas de Estado em políticas de Governo ou políticas do Presidente. Jornalismo e mídia apenas noticiam como se tudo isto fosse normal. Normalizaram os arroubos autoritários e a interferência presidencial. Quem é Sachsida para definir “sozinho” os rumos da Petrobrás?

O presidente segue apostando em ameaças cada vez mais explícitas e mais violentas e continua escudado por uma câmara e senado que usam e abusam de PECs, como se a constituição fosse uma colcha de retalhos. Antevendo uma derrota apostam no golpe militar ou miliciano contra as eleições. Generais de pijama se movimentam. Lira e Guedes seguem seus caminhos que obviamente se cruzam com o do presidente, mas parecem querer chegar a lugares diferentes. De motociata em motociata o presidente enxerga cada vez mais o pior dos pesadelos. Uma vez fora do poder sabe que ele e seu clã correm riscos severos, pois seus cúmplices de hoje podem se tornar delatores premiados de amanhã. Dependendo do desenrolar das eleições, pode surgir um  novo Aras, extremamente dedicado a liquidar o clã, um Nunes Marques mais silencioso no STF e um André Mendonça mais apegado à Constituição do que à bíblia. Guedes emponderado com todas as informações econômicas da república voltará a Wall Street de onde nunca saiu. Lira cuidará para se manter no poder seja quem for o eleito.

O texto não representa necessariamente a opinião do Jornal GGN. Concorda ou tem ponto de vista diferente? Mande seu artigo para [email protected].

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