“Faria diferente, embora tenha certeza que envidei todos os esforços”, diz Gonçalves Dias sobre contenção aos golpistas em 8/1

Ana Gabriela Sales
Repórter do GGN há 8 anos. Graduada em Jornalismo pela Universidade de Santo Amaro. Especializada em produção de conteúdo para as redes sociais.
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Ex-ministro do GSI prestou depoimento à CPMI dos atos golpistas, nesta quinta-feira (31); confira o que ele disse

General Gonçalves Dias, ex-ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI). | Foto: Geraldo Magela/Agência Senado

O ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general da reserva Gonçalves Dias, admitiu que poderia ter conduzido de outra forma os esforços de segurança empreendidos em 8 de janeiro, contra os manifestantes golpistas que invadiram as sedes dos Três Poderes em Brasília. Segundo G. Dias, ele agiu mediante as informações de que dispunha, e empreendeu “todos os esforços ao meu alcance” na tentativa de segurar o levante.  

As declarações foram dadas durante depoimento à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) dos atos golpistas, nesta quinta-feira (31). 

Exerci efetivamente minha ação de comando na defesa e preservação do palácio presidencial no meio de um levante antidemocrático. Foi um ataque único, inédito e inimaginável para todos que somos democratas e devotamos respeito à Constituição e às instituições“, afirmou o general, durante sua fala inicial. 

G. Dias pediu demissão do cargo de ministro-chefe do GSI no dia 19 de abril, após a divulgação de um vídeo em que aparece circulando no Palácio do Planalto e conversando com os golpistas, em meio a invasão protagonizada por apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). 

Tendo conhecimento agora da sequência dos fatos que nos levaram às agressões de vândalos e também da ineficiência dos agentes que atuavam na execução do Plano Escudo, aprovado com a coordenação de diversos órgãos civis e militares e de segurança, seria mais duro que fui na repressão. Faria diferente, embora tenha plena certeza que envidei todos os esforços e ações que estavam a meu alcance para mitigar danos“, completou.

Durante a sessão, já na fase inquirição da relatora, senadora Eliziane Gama (PSD-MA), foram exibidas as tais imagens do general no Planalto em meio aos bolsonaristas. A parlamentar, então, questionou a conduta do ex-ministro. “Por que adotou a tranquilidade e não deu ordem de prisão?”, perguntou. 

Fui treinado a minha vida toda para, em momentos de crise, em momentos difíceis da nossa vida, gerenciar as crises. A senhora não gerencia uma crise apagando fogo jogando gasolina. A senhora gerencia crise conversando com as pessoas e retirando as pessoas“, respondeu G. Dias. 

Ainda segundo o ex-ministro, no dia 6 de janeiro, dois dias antes dos atos golpistas, ele ordenou que fosse ativado o Plano Escudo, ou seja, as ações de segurança do Palácio do Planalto, que prevê o “emprego parcelado” da força.

Estávamos com 135 homens, solicitamos mais. O primeiro reforço chegou às 15h40, o segundo reforço, às 16h40, e o terceiro reforço, às 17h10. No início, não dava para fazer as prisões. Tínhamos que gerenciar aquela crise e evacuar as pessoas para que não houvesse depredações e gerenciar para que não houvesse mortos nem feridos. Não adiantava sair batendo nas pessoas“, completou. 

Relatório da Abin

No depoimento, G. Dias também se manifestou contra as acusações de que teria ordenado a adulteração de relatórios da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) referentes as ações do dia 8 de janeiro.

No mesmo dia em que levaram ao ar na CNN imagens editadas e distorcidas das câmeras de segurança do terceiro andar do Palácio, o que estava nas respostas passou a alimentar novas versões, um pouco delirantes e criadas para distorcer o fato e as ordens do evento”, disse.

Segundo o ex-ministro, entre os dias 2 e 8 de janeiro, ele não recebeu “nenhum” relatório de inteligência por parte da Abin sobre a possível invasão. 

O ex-diretor da Abin Saulo Cunha deu a mesma informação à CPMI. Contudo, Cunha disse que emitiu “alertas” de inteligência, informando que havia bolsonaristas no acampamento em frente ao Quartel General do Exército, aspirando a invasão dos prédios públicos. 

Eu repito aqui. Não mandei ninguém adulterar documento ou retirar meu nome dos relatórios. Apenas, tão somente, determinei ao senhor Saulo que organizasse as informações que deveriam ser dadas à CCAI [Comissão Mista de Controle das Atividades de Inteligência], dentro de uma lógica única: os alertas de segurança com informações de fontes abertas haviam sido passados para um grupo de WhatsApp, constituído de órgãos públicos, e não com o meu nome”, reiterou o general. 

Divergência de informações 

G. Dias também acrescentou que recebeu informações “divergentes” da Abin e da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) sobre o que poderia acontecer no dia 8 de janeiro.

Segundo ele, dois dias antes dos atos golpistas, em 6 de janeiro, houve uma reunião convocada pela Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal para discutir a possível manifestação na capital federal, mas o GSI não foi convidado para participar.

Já na manhã do dia 8, o então diretor da Abin alertou que havia “intensificação” das movimentações, mas que a PM o informou que estava “tudo calmo“.

Dia 8 de janeiro, passei a manhã em casa. Recebi uma ligação do senhor Saulo Cunha [ex-diretor da Abin]. Ele relatou a possibilidade de intensificação das manifestações. Em seguida, troquei informações por telefone com a coronel Cíntia, da Polícia Militar. Ela me disse que estava tudo calmo“, disse o ex-ministro. 

Assista ao depoimento aqui:

Com informações do G1 e Carta Capital.

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Ana Gabriela Sales

Repórter do GGN há 8 anos. Graduada em Jornalismo pela Universidade de Santo Amaro. Especializada em produção de conteúdo para as redes sociais.

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