Os perigos do negacionismo político, por Conrado Hübner Mendes

Em artigo, professor de direito da USP alerta que a democracia não é para sempre, e o Brasil de Bolsonaro embarcou no negacionismo

Da esq. p/direita: Fernando Henrique Cardoso, Luís Roberto Barroso e Aloysio Nunes, alguns dos “profetas da democracia risco-zero” citados por Conrado Hübner Mendes

Jornal GGN – Assim como aconteceu entre os soviéticos antes do fim do regime comunista, a ideia de que nada é tão ruim quanto se parece tende a gerar passividade e resignação entre os democratas. E nas palavras do pensador David Runciman, quanto mais se confia na permanência, maior o risco de colocar tudo a perder.

Além da proporção de pessoas insatisfeitas ter atingido seu auge em 2020 (57,5%, segundo dados do Relatório do Centro para o Futuro da Democracia, da Universidade de Cambridge), pela primeira vez desde a primeira pesquisa, em 2001, existem mais países autocráticos do que democráticos no mundo – e o Brasil é um dos destaques negativos, apontado como uma nação “em via de autocratização”.

“Democracias do mundo, nos últimos 20 anos, sofreram significativa queda de qualidade. A quantidade de cidadãos insatisfeitos com o regime não parou de crescer”, explica Conrado Hübner Mendes, professor de direito da USP, em artigo publicado no jornal Folha de São Paulo, citando inclusive os desdobramentos da vitória de Jair Bolsonaro na última eleição presidencial.

Logo após as eleições de 2018, Hübner Mendes explica que o Brasil viu a aparição dos chamados profetas da democracia risco-zero, um grupo que reuniu do jurista Ives Gandra ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Luís Roberto Barroso ao ex-senador Aloysio Nunes, além de um pequeno grupo de acadêmicos.

Todos eles afirmavam que os alarmistas (aqueles que acenderam o alerta para as palavras e atos de Bolsonaro em 30 anos, como também alertaram para a violência concreta e simbólica do movimento que ele incita) tudo não passava de “choro dos perdedores”.

Para Hübner Mendes, a deterioração da democracia no Brasil ganhou magnitude com Bolsonaro – que não só segue apoiando o pedido de golpe militar, como embarcou no negacionismo sanitário, o que é algo estratégico a ele, pois só importa o destino político e não as mortes decorrentes.

 

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Redação

2 Comentários

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  1. É exatamente isto, para o sociopata pouco importa se venham a morrer 500 mil ou dois milhões de pessoas, o que interessa de fato é a sua permanência no Poder, com ou sem reeleição, que não passa de um mero detalhe.
    Quanto ao negacionismo, não se pode esperar outra coisa da classe política brasileira. Vão e voltam de uma maneira surpreendente, haja vista VCNeto e RJefferson, que, aparentemente “mortos” para a prática da política, reapareceram das cinzas pelas mãos daquele que disse adeus à “velha política”. Neste país, a safadeza não encontra limites entre os da classe política.

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