O Longo Amanhecer, documentário sobre Celso Furtado

Do Jornal Comunicação da UFPR

O Longo Amanhecer – uma biografia de Celso Furtado

por GABRIEL MERHEB PETRUS

Caricatura de Celso Furtado. A importância de sua obra está para a economia latino-americana assim como a obra de John Maynard Keynes está para a economia mundial no século XX

“O Longo Amanhecer – uma biografia de Celso Furtado” é um documentário a que nenhum brasileiro poderia deixar de assistir. Produzido a partir de entrevistas realizadas por José Mariani com o próprio Celso Furtado em 2004, o filme retrata não só a trajetória acadêmica e profissional do economista, como também os marcos teóricos de seu monumental pensamento histórico-econômico sobre o Brasil.  

Principal expoente do estruturalismo econômico e do desenvolvimentismo no Brasil, Furtado é dono de uma biografia brilhante. Após bacharelar-se em Direito na UFRJ, viaja em 1946 para a França, onde decide realizar seu doutorado em Economia. Desde esse momento, seus estudos receberiam influências de Max Weber e da sociologia do conhecimento de Karl Manheim, para o qual as análises sociais deveriam se basear em teorias aplicáveis para a transformação da realidade. 

Retornando à América Latina, integra a recém criada Comissão Econômica para a América Latina (CEPAL), em Santiago do Chile, onde se torna torna um dos principais colaboradores de Raúl Prébisch, teórico das relações “centro-periferia”. 

Ao retornar ao Brasil, é convidado para compor a diretoria do BNDES. Como condição para aceitar o cargo, pede que seja criado no Banco um setor especializado em políticas públicas para o Nordeste. JK, ao saber da sugestão do economista, aceita-a prontamente e transforma o plano em uma das prioridades de seu Governo: nasce aí a SUDENE. 

A política para o Nordeste é revitalizada e ganha, finalmente, contornos desenvolvimentistas. Furtado nega a chamada “política hidráulica”, que até então havia dirigido as ações governamentais exclusivamente no plano do combate à seca. Celso Furtado declara a necessidade de conceber a seca como um fenômeno natural, próprio da região do semi-árido, para então constituir uma política que combata precipuamente os agravantes sócio-econômicos da seca, tais quais o latifúndio monocultor e a estrutura econômica não condizente com o clima regional. 

Em 1959, após passar dois anos em Cambridge, publica “Formação Econômica do Brasil”, obra considerada pelo historiador francês Fernand Braudel como um dos mais importantes escritos mundiais das ciências econômicas. Furtado mostrou-se com tal livro um grande “gênio criativo”, nas palavra de economistas amigos, que soube aliar a teoria keynisiana à análise histórica das condições estruturais que fizeram o Brasil. 

Furtado integra também o governo de João Goulart. É na condição de Ministro do Planejamento que apresenta ao país o “plano trienal”. Nas palavras da economista Maria da Conceição Tavares, também entrevistada no documentário, era a primeira vez que o Brasil poderia superar o ciclo do subdesenvolvimento através das reformas estruturais propostas. Em 64, contudo, rompe-se o sonho de se construir um Brasil mais justo, para se ver o nascimento de um modelo neoliberal, que perduraria pelas décadas subseqüentes. 

Por tudo isso, Furtado é reconhecido como um dos “grandes demiurgos” do pensamento brasileiro, junto a Sérgio Buarque de Hollanda, Caio Prado Jr. e Gilberto Freyre. Teve sucesso ao trazer sua teoria social à prática, numa perspectiva transformadora da própria ciência. Daí os dizeres de Tavares, de que Furtado “enxerga o horizonte além”, mesmo que ele saiba que tal perspectiva torna-se cada vez mais distante. Desse modo, muito embora Celso Furtado não deixe de ter uma visão crítica e, até certo ponto, pessimista sobre a realidade, ele acredita que o chamado “amanhecer estruturalista” não deixará de ocorrer. 

* Gabriel Merheb Petrus é bacharel em Direito (UFPR) e mestrando em Relações Internacionais na UnB

Luis Nassif

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