Os imóveis ocultos das Americanas, por Luis Nassif

É preciso conferir os imóveis ocupados pelas Americanas. Há pouquíssimo passivo com os fundos de investimentos imobiliários

A decisão do Tribunal de Justiça de São Paulo, no caso Americanas, abre um novo horizonte para a apuração de crimes corporativos.

A pedido do Bradesco, a juíza Andréa Galhardo Palma autorizou busca e apreensão de e-mails entre executivos e grandes acionistas da empresa – atingindo diretamente o trio 3G, Jorge Paulo Lemann, Beto Sicupira e Marcel Telles.

Também mudou o comitê de auditoria – 3 técnicos, sendo que 2 tinham relações de negócio com as Americanas. Em seu lugar, convidou a Ernest Young para a auditoria independente.

As provas colhidas poderão ser utilizadas também nos Estados Unidos, já que as Americanas tinham ADRs na Bolsa de Nova York. O próximo passo será identificar ativos dos controladores, para ressarcir as vítimas – empregados, fornecedores, detentores de títulos da dívida e bancos.

Seria interessante conferir os imóveis ocupados pelas Americanas. Em janeiro de 2007, a rede adquiriu a Blockbuster – empresa de aluguel de vídeos – por R$ 186,2 milhões.

Em agosto de 2011, os imóveis foram vendidos para a São Carlos Empreendimentos e Participações S.A e a H.T.K.S.P.E. Empreendimentos e Participacoes Ltda – ambas dos controladores das Americanas -, com uma série de controladas debaixo do mesmo guarda-chuva.

Certamente serão alvos dos credores, na próxima etapa dos processos.

A lista de credores

Uma análise da lista de credores da empresa mostra grandes passivos de fabricantes de eletrodomésticos, livrarias e até fabricantes de chocolate. Mas há pouquíssimo passivo com os fundos de investimentos imobiliários abrigados no guarda-chuva da São Carlos.

Segundo levantamentos da repórter Patricia Faermann, do GGN, a HTYSPE Empreendimentos tem apenas R$ 33 mil a receber. É o maior passivo. A Best Center Centro Paulista Empreendimentos tem apenas R$ 2 mil em atraso. A Best Center Vale do Paraíba outros R$ 1,7 mil. A SC Varejo Campina Grande Empreendimentos, R$ 8,6 mil. Todas essas empresas compartilham o mesmo endereço da São Carlos.

Ainda não se sabe o destino das Americanas. Mas o episódio serviu para expor, da forma mais crua possível, o estilo de governança da 3G. E mostrar, de forma didática, os riscos que traz para o país a manutenção, em suas mãos, do controle da Eletrobras.

A empresa é a maior geradora de energia do país. É essencial para garantir não apenas o custo da tarifa residencial e dos pequenos negócios, como o próprio equilíbrio do mercado livre de energia.

Sabendo-se do estilo Lemann, de atrasar pagamentos e manipular balanços para otimizar o pagamento de dividendos e sabendo-se da volatilidade do mercado de energia em episódios de crise climática, o país estaria exposto a um movimento especulativo fatal, manipulado pela 3G.

Uma saída interessante seria a expropriação das ações da 3G na Eletrobras – pelo valor fixado para o aumento de capitais – com o pagamento sendo utilizado para ressarcir seus credores.

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Luis Nassif

18 Comentários

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  1. Vamos imaginar que estes velhinhos, tarados por dinheiro ,tenham realmente fraudado,ops,inconsistências contábeis, nas lojas americanas.
    Se isso for confirmado, será apenas a pontinha de um enorme iceberg.
    Para não perder os dedos,e, quem sabe as mãos, seria bom essa gente já ir entregando,ou melhor,devolvendo,os anéis.

  2. A Eletrobrás foi privatizada por R$33,6 bilhões e nem tudo foi adquirido pela 3G. A fraude na americanas está estimada em R$42 bilhões Não seria justo pensarmos que o caixa para a aquisição dessa estatal foi oriundo desta fraude bilionária? que outros negócios também foram obtidos com a mesma grana?Quanto se sonegou de impostos neste período?
    Acho que é o caso de uma investigação mais profunda e expropriar tudo que foi conseguido nesses últimos 10 anos

  3. Notícia para São Tomé nenhum botar defeito. Cada vez que estoura um escândalo desses (que só perdem, em frequência nos noticiários, para aqueles massacres com armas de fogo nos EUA), com seu cortejo de cifras bilionárias, calotes, notícias subsequentes como essa: https://valor.globo.com/financas/noticia/2023/01/24/lemann-e-outros-bilionarios-globais-compram-fatia-da-thrive-capital.ghtml, e demais movimentações de bilionários escroques (desculpem o pleonasmo), cada vez mais eu me convenço de que dinheiro é coisa de pobre.
    É o assalariado pobre que se preocupa com dinheiro – leia-se salário – esperando vê-lo pingar na conta e imediatamente ser sugado por um redemoinho de contas a pagar. É o fornecedor pobre, ou apenas remediado, que se desespera ao constatar, via extrato bancário, que aqueles recebimentos com os quais contava para honrar seus compromissos não foi efetuado porque seu cliente é um escroque bilionário.
    Essa gente não lida para dinheiro; dinheiro, para eles, é um acessório. O mundo dessa gente é feito de direitos financeiros futuros (títulos de dívida pública e privada, ações, etc.,etc.,etc.) garantidos por todos os meios e modos possíveis; porque o lastro desses direitos financeiros futuros é justamente o salário do trabalhador e os recebíveis de fornecedores, descontados de antemão por absoluta necessidade; e esse dinheiro é o sangue que circula nas veias do sistema bancário, e que remunera tanto os bilionários escroques quanto os banqueiros escroques (mais uma vez, com o perdão da redundância). E quando essas garantias, por algum motivo (que, desconfio, está igualmente ligado à escroqueria em geral), deixam de existir, recorre-se ao poço sem fundo que o contribuinte (todos nós, inclusive os já referidos assalariados pobres e fornecedores pobres, ou apenas remediados, dentre outros) provê a esses pobres coitados bilionários escroques e banqueiros, em que o dinheiro se transforma em juros e futuros, em papéis de todas as denominações. Afinal, para isso banqueiros e bilionários contribuem bancando as campanhas eleitorais dos políticos que bolam essas leis e socorros eventuais, os Proer da vida.
    E com o troco, as sobras, as raspas e restos dessa riqueza virtual em forma, hoje, de sinais eletrônicos, os bilionários escroques e os banqueiros compram o luxo em que vivem. Enquanto o assalariado e o fornecedor pobre nem com troco ou sobra ficam no fim do mês.
    No dia em que o trabalhador descobrir que o seu salário é pago por ele mesmo, e não por seu empregador, começa uma revolução na manhã seguinte. Ou não; já nem sei. Talvez vá nas Lojas Americanas comprar bugingangas, ou depositar o 13º salário ou o 1/3 das férias numa poupança, e continuar alimentando o monstro que o consumirá até o bagaço.

  4. Impressiona é a teia de empresas que tem essas corporações, e tudo com o objetivo de dificultar uma análise mais apurada da situação da empresa. A conclusão é de que a contabilidade interna da empresa e a auditoria independente não servem para nada. Até quando seremos complacentes com esses empresários.

  5. Torço de verdade, que essas investigações não caiam por terra.. considerando que grandes bancos são credores desses “pequenos deslizes” contábeis, eu sou inclinado a crer que nem todo o poder do grupo 3g será páreo para dominar essa onda.. Vai depender daqui pra frente se eles não encontrem uma solução favorável aos bancos e depois td mundo trabalhe para apaziguar a situação; o risco a imagem do capitalismo é muito grande.. nesse cenário, pobre do trabalhador!

  6. Infelizmente, esse trio de piratas ambiciosos, agora veem a infâmia de suas asquerosas administrações. Nunca tiveram nenhum pensamento para com o bem comum. Trabalhar em suas empresas, não tem muita diferença com escravidão ou ser soldado de quaisquer pior exército. São vampiros que, nunca tiveram a humbridade e honestidade de tratar seus funcionários e fornecedores com ao menos o devido respeito. Um trio de deliquentes que em outro país estariam presos. Enfim, homens de muito pouca vergonha e muito dinheiro.

  7. Nassif, o termo correto é DESAPROPRIAR, expropriar é instituto específico do direito brasileiro somente utilizado em poucos casos expressos na lei.

  8. Uma vez li uma entrevista do Lemann, que disse que tem seu endereço num paraíso fiscal (acho que Luxemburgo) para não pagar impostos. Mas passava boa parte do Ano em Estocolmo, porque lá os impostos eram revertidos em bem estar para a população. Ou seja, vivia num país usufruindo dos impostos que os suecos pagam, mas ele não.

  9. Nomear a E&Y para auditoria independente não foi uma boa decisão da Juíza, porque me parece que essa empresa antecedeu a PWC. Se as “inconsistências” são anteriores a outubro de 2019, a E&Y tem responsabilidades a serem apuradas. Ela vai poder fazer vista grossa em muita coisa para se safar e com isso ajudar a diminuir a responsabilidades da PWC.

  10. Nomear a E&Y para auditoria independente não foi uma boa decisão da Juíza, porque me parece que essa empresa antecedeu a PWC. Se as “inconsistências” são anteriores a outubro de 2019, a E&Y tem responsabilidades a serem apuradas. Ela vai poder fazer vista grossa em muita coisa para se safar e com isso ajudar a diminuir a responsabilidades da PWC.

  11. “Uma saída interessante seria a expropriação das ações da 3G na Eletrobras – pelo valor fixado para o aumento de capitais – com o pagamento sendo utilizado para ressarcir seus credores.”

    Se eu fosse o governo Lula faria exatamente isso.
    Sem esquecer os processos criminais contra os três golpistas.

  12. Só uma perguntinha: como fica a “nobre” deputada Tábata Amaral, cujo mecenas e guru, Paulo Jorge Lemman, foi pego com a “boca na botija” nesta fraude astronômica das Americanas?
    Outra coisa: meu faro sherlockiano me garante que as ações da ELETROBRÁS, que esse trio de rapinadores adquiriu, saiu do furto que eles deram nas Americanas. Tá na cara!!!

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