Augusto Cesar Barreto Rocha
Augusto César Barreto Rocha é Professor Associado da UFAM. Possui Doutorado em Engenharia de Transportes pela UFRJ (2009), mestrado em Engenharia de Produção pela UFSC (2002), especialização em Gestão da Inovação pela Universidade de Santiago de Compostela-Espanha (2000) e graduação em Processamento de Dados pela UFAM (1998).
[email protected]

Seca no Amazonas: sem ação, só São Pedro salva, por Augusto Rocha

É desolador constatar o descaso histórico com a infraestrutura do Amazonas e da Amazônia e, mesmo com ações emergenciais, o cenário não é bom

Foto: Antônio Lima/SECOM

Seca no Amazonas: sem ação, só São Pedro salva

por Augusto Cesar Barreto Rocha

São assustadores os efeitos da seca nos rios da Amazônia. É alarmante a interrupção do fluxo de navios de maior porte por muito mais tempo que o previsto, em decorrência da maior seca histórica e da redução da lâmina d’água, o que colocou o calado máximo abaixo de 8m em alguns pontos críticos da conexão entre Manaus e Belém. As ações que o DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) tem em curso não serão suficientes para sanar o problema rapidamente. Isso vai levar a desabastecimentos de vários produtos, por conta do maior tempo de rompimento desta infraestrutura e corredor crítico.

A ação breve que pode ser feita é desafiante e a sua execução deve ser a partir do dia 24/10, podendo levar, segundo o DNIT, entre 15 e 45 dias. Se forem os 45 dias, teremos a ajuda da natureza, pois é quando, historicamente, os rios também começam a subir. Isso significa que as medidas emergenciais em curso parecem insuficientes e lentas. É desolador constatar o descaso histórico com a infraestrutura do Amazonas e da Amazônia e, mesmo com ações emergenciais, não há cenário bom pela frente.

As empresas da região conhecem esta sazonalidade e até fazem estoques. Acontece que eles não serão suficientes, se o tráfego ficar tanto tempo interrompido. Em 10/10/2023, quando um dos trechos ficou com menos de 8m de calado acentuou a preocupação. Desde então, o volume de contêineres é pequeno frente ao que transita para Manaus. Há informações de que a repartição entre o rô-rô caboclo e a cabotagem seria da ordem de 30%/70%. Se for 40%/60% ou 50%/50% como estimativas anteriores, ainda seria alarmante ficar por mais de 30 dias sem trânsito robusto.

Há uma ação fundamental dos armadores: dar transparência sobre quantos contêineres estão retidos, em cada sentido, onde estão, quantos já passaram, chegaram e saíram de Manaus ou fora da área de crise. Outra medida fundamental é o DNIT alocar mais equipamentos para que antes de 10/11/2023 esta hidrovia retome os 8m de calado. A alternativa dos caminhões, por rodovias, inexiste, pois a BR-319, de Porto Velho até Manaus, não tem asfalto no trecho do meio. Precisa ser recuperada, com as devidas e necessárias salvaguardas ambientais.

Devem existir problemas nas cadeias de abastecimento de Manaus. Mais de 30 dias é inaceitável. Contudo, nem que seja só pelo susto, é possível transformar a crise histórica em oportunidade. Primeiro: ações para reduzir ao máximo o tempo de interrupção da hidrovia. Isso é o que importa. Fora disso, precisam ser construídas ações preventivas para o próximo ano. Enquanto isso, é também importante que mais equipamentos e tecnologia sejam alocados na zona de crise, para reduzir substancialmente o prazo.

Convém que a Suframa crie um Grupo de Trabalho para estruturar um Plano de Ação para minimizar os riscos associados com a situação. Fiz uma pequena lista de vídeos no YouTube abordando o problema e algumas possíveis ações. Estão em https://bit.ly/seca2023AM. Fica a expectativa de que possamos dialogar nesta construção coletiva de um Amazonas e Amazônia melhores, com visão sistêmica, serenidade, determinação e, principalmente, velocidade de ação, fora disso dependeremos só da chuva, que São Pedro normalmente providencia.

Augusto Cesar Barreto Rocha – Professor da UFAM.

O texto não representa necessariamente a opinião do Jornal GGN. Concorda ou tem ponto de vista diferente? Mande seu artigo para [email protected]. O artigo será publicado se atender aos critérios do Jornal GGN.

Augusto Cesar Barreto Rocha

Augusto César Barreto Rocha é Professor Associado da UFAM. Possui Doutorado em Engenharia de Transportes pela UFRJ (2009), mestrado em Engenharia de Produção pela UFSC (2002), especialização em Gestão da Inovação pela Universidade de Santiago de Compostela-Espanha (2000) e graduação em Processamento de Dados pela UFAM (1998).

0 Comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador