Futebol: agora é hora da mudança

Enviado por Antonio Ateu

Em meio a escândalos na Fifa, jogadores cobram reformas na CBF

Da BBC Brasil

Os recentes escândalos de corrupção da Fifa e a renúncia de seu presidente, reacenderam o debate sobre a forma como o futebol é gerido na entidade máxima do futebol. A discussão respingou também no Brasil, onde o Bom Senso FC, movimento que já reúne mais de mil jogadores, aproveita para cobrar a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) por mudanças.
Em entrevista à BBC Brasil, Gilberto Silva, volante pentacampeão com a seleção brasileira e hoje um dos líderes do movimento, questionou a falta de diálogo da CBF com os atletas e pediu mais “democracia” à entidade.

“O Bom Senso existe há quase dois anos e o que a gente encontrou na CBF até agora foram portas fechadas. Não obtivemos nenhum retorno deles”, disse o jogador.

A CBF iniciou uma nova gestão em abril com Marco Polo Del Nero assumindo a presidência. Del Nero era vice do presidente anterior, José Maria Marin, atualmente preso na Suíça por suspeita de ter recebido propina em negociação dos direitos comerciais da Copa América. A atual administração tem usado um discurso de renovação, e o secretário-geral da entidade, o ex-deputado federal Walter Feldman, garante que a prioridade da CBF agora é de “modernização” na maneira de gerir o futebol.

“Essa gestão tem compromisso com a modernização, com a transparência e queremos trazer para ela um amplo processo democrático”, afirmou, em entrevista à BBC Brasil. Ele disse que o “diálogo tem sido permanente” com o Bom Senso, incluindo conversas com o zagueiro Paulo André, outro líder do movimento, e com o diretor do movimento, Ricardo Borges Martins.
Mas, por enquanto, o Bom Senso FC ainda não vê sinais de mudanças concretas na entidade máxima do futebol no Brasil e diz que só teve diálogo com a confederação para debater a Medida Provisória 671, que tem o objetivo de modernizar o futebol e tramita no Congresso. O grupo de atletas acredita que a ‘nova CBF’ tenta passar uma imagem de ser mais democrática, mas não apresenta nenhuma novidade comparada com gestões anteriores.

“A CBF quer modernizar? Então vamos sentar todas as partes, o Bom Senso, todo mundo que tenha uma ideia ou sugestão. Nós temos algo a contribuir, a CBF também tem? Acredito que sim, então vamos sentar todo mundo do futebol com todos os lados envolvidos para que nós possamos realmente mudar o futebol brasileiro”, pediu Gilberto Silva.

“Que eles não achem que só eles têm o conhecimento de causa e não podem ouvir outras partes. Aí sim eu acredito num início de modernização do futebol.”

A CBF chegou a criar um grupo de trabalho com representantes dos clubes e dos jogadores, mas chamou somente o Sindicato dos Atletas para participar dele. Segundo Feldman, o Bom Senso não foi chamado porque não é o representante oficial dos jogadores. “Não dava para instalar um grupo institucional com o Bom Senso, quando se oficializa a relação, tem que ser uma instituição de caráter oficial, que no caso é o Sindicato”, afirmou.

Propostas

Desde que surgiu, em 2013, o Bom Senso defende uma plataforma de mudanças no futebol brasileiro que incluem alterações no calendário, para que os clubes pequenos tenham mais jogos por ano, e os grandes menos; “fair-play financeiro”, que foca no limite de gastos dos clubes para que não comprometam os salários dos jogadores; e a participação dos atletas nas eleições de federações, para que eles possam ter mais voz na gestão do futebol.

Uma das estratégias que deverá ser anunciada em breve é uma “lista de medidas emergenciais para a CBF sair da crise”, com sugestões como a revisão dos contratos firmados nas gestões anteriores – e que estão sendo investigados pelo próprio FBI -, a convocação de uma assembleia para mudar o estatuto da CBF e limitar os mandatos dos presidentes, entre outras coisas.
No passado, a CBF chegou a ouvir as propostas do movimento em uma primeira reunião em 2013, mas depois disso, de acordo com os líderes do grupo, mostrou mais resistência a dialogar.

A CBF chegou a introduzir algumas mudanças na linha das propostas do Bom Senso. Os jogadores reclamavam do excesso de jogos no calendário – alguns podem chegar a entrar em campo cerca de 70 ou 80 vezes por ano. A CBF determinou um período de 30 dias reservados para a pré-temporada.

A entidade também divulgou, em março passado, uma nova regra para estimular o “fair-play financeiro”, determinando a perda de três pontos por jogo assim que a dívida com os atletas for confirmada pelo STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva). Mas o Bom Senso questiona a regra: o jogador teria de denunciar o clube pelo não pagamento do salário e seria exposto como “responsável” pela perda de pontos da equipe.

Questionada sobre se pretende rediscutir as antigas reivindicações do Bom Senso, a CBF disse que convocará um “Congresso do Futebol Brasileiro” aberto a todo o público para discutir mudanças, incluindo sugestões para o calendário, que seria, segundo Feldman, é uma “questão dramática”. Sobre o “fair-play financeiro”, eles também estão elaborando “normas de licenciamento” para os clubes adequarem suas finanças para participarem dos campeonatos.

Quanto à participação dos atletas em eleições, a entidade disse que pretende incluí-los nos congressos técnicos, mas que o direito à voto no pleito das federações é algo que não compete a ela decidir.
‘Briga’ no Congresso

Jogadores e CBF também travam uma “batalha” atualmente no Congresso, onde se discute desde o início do ano a aprovação da Medida Provisória 671, já sancionada pela presidente Dilma Rousseff, que coloca contrapartidas aos clubes para refinanciar as dívidas deles com o governo federal – que já somam mais de R$ 4 bilhões.

A proposta dos jogadores aprovada por Dilma é de renegociar o pagamento do valor em 240 meses estabelecendo exigências como a limitação de mandatos de presidentes de clubes e federações e o rebaixamento dos que não mantiverem suas contas em dia. A questão tramita no Congresso e a CBF pede alterações no texto atual.

Segundo a confederação, apesar do avanço no diálogo com o Bom Senso sobre a MP, o texto atual seria um “retrocesso”, porque permite intervenção do Estado na gestão do esporte, o que seria “inadequado”. Mas, para o movimento de jogadores, por enquanto, a CBF adota um “discurso de modernização que não tem prática”.

Redação

6 Comentários

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  1. Ué, chamem a força-tarefa da

    Ué, chamem a força-tarefa da Lava Jato que eles fecham a CBF, ou será que eles não tem culhões prá mexer com a roubalheira, sempre no atacado, na casa dos bilhões, da Casa Grande. Pau no Vaccari pq o povo precisa gozar, não é mesmo sr. Feldman..,,,

  2. Queria levar meus filhos ao campo

    mas com partida às 22h para não atrapalhar as novelas fica difícil. Será que agora vai dar para ser mais cedo? Gorducho, pergunta lá para os seus chefes por favor.

  3. A unica certeza que se pode
    A unica certeza que se pode ter, é: nao haverá qualquer mudança.

    A terra dos idiotas provincianos é aqui.

  4. Torcidas: Do futebol à política, a lista é sem fim.

    Enganos. Mas a vida seria sem graça sem umas e outras ilusões. Do futebol à política, a lista é sem fim.

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