Paraísos cada vez mais efêmeros, as cidades e os nossos interiores, por Matê da Luz

Paraísos cada vez mais efêmeros, as cidades e os nossos interiores

por Matê da Luz

A escolha por uma vida mais simples não tem a ver com dinheiro, mas com conceitos mais profundos de escassez e abundância.

São poucos os paraísos que sobrevivem ao atual modelo econômico, social e cultural – as grandes cidades caminham há mais tempo para o colapso, mas os cantos mágicos do mundo, estes onde as ofertas de luxo em sua mais bela complexidade podiam ser desfrutados de maneira mais homogênea, já estão “chegando lá”. 

É cada vez mais urgente repensar os modelos de gestão dos espaços coletivos (também conhecidos como cidades) – ou você acha que vai conseguir blindar, literalmente, todos os seus ambientes antes de ser individualmente impactado; e, para isso, ao meu ver, é extremamente necessário cuidar dos paraísos particulares, os íntimos, nossos lugares de paz e calmaria, aquele onde moram nossas decisões únicas que, claro, deixam rastros positivos ou negativos no mundo. 

Parece discurso hippie mas, se você abrir bem os olhos, quem sabe consegue perceber que é o que temos de essencialmente gratuito e imediato para começarmos a pensar numa mudança possível. Rápido, antes de que seja tarde. 

Abaixo, copio a matéria da UOL que deu origem a esta reflexão, que você também pode ler clicando aqui.

 

Superlotado, paraíso do litoral norte de SP vira pesadelo de turistas

Ilha em Ubatuba recebe até 5.000 pessoas em cada final de semana

Reginaldo Pupo

UBATUBA (SP)

Águas límpidas e cristalinas, areia fofa, vegetação exuberante, tranquilidade e contato com a natureza.

O que era para ser um lugar bucólico no litoral norte de São Paulo se tornou nos últimos dois anos em um pesadelo para os turistas que frequentam a Ilha das Couves, em Ubatuba.

Há duas pequenas faixas de areia a praia da Terra e a praia de Fora (conhecida também por Japonês), com respectivamente, 100 metros e 250 metros de extensão.

Apesar do pouco espaço de areia, a ilha vem recebendo até 5.000 pessoas por final de semana, estima a prefeitura.

Sem sanitários ou outra infraestrutura, exceto por um quiosque em uma das praias, os turistas fazem do mar e das trilhas seus banheiros, dizem guias de turismo. Apesar da lotação, não há salva-vidas.

A reportagem constatou que caixas acústicas e térmicas, toalhas, esteiras, fraldas descartáveis usadas e muito lixo fazem parte do cenário, antes praticamente deserto.

O som de pássaros deu lugar às conversas de quem disputa cada centímetro de areia. “Aqui está parecendo Mongaguá”, dizia um casal, que estava na praia da Terra.

A ilha fica a dez minutos de barco a partir da praia de Picinguaba, em Ubatuba.

Os passeios são realizados por agências de turismo e pescadores da Associação dos Barqueiros e Pescadores da Comunidade Tradicional de Picinguaba.

Ao final do dia, os barqueiros, que veem uma oportunidade de renda extra, retiram por conta própria o lixo deixado pelos turistas, já que não há lixeiras.

A auxiliar de administração Ana Paula Miguel Moreno, 28, saiu de Taboão da Serra (SP), de van, para visitar a ilha. “Acho que deveria haver mais controle”, disse ela, que decidiu viajar após ver fotos da ilha vazia na internet.

Eu me assustei quando cheguei aqui. Não imaginava que haveria tanta gente.

TRANSTORNOS

Os transtornos afetam ainda os moradores da vila de pescadores em Picinguaba, de onde partem os barcos.

Uma estreita estrada de 4 km de extensão é a única ligação por terra entre a rodovia Rio-Santos e a localidade.

Muitos veículos ficam estacionados ao longo da via. Picadas no mato foram abertas recentemente para servir de estacionamento. Já na vila, os motoristas estacionam na areia da praia.

“Até dois anos atrás, a ilha era tranquila. Mas a partir do ano passado, após vários vídeos viralizarem na internet, o lugar foi descoberto e hoje o que vemos é isso, um turismo totalmente descontrolado e predatório”, lamenta a guia Moara Sanchez, 21, da Associação Coaquira de Guia de Turismo, Monitor e Condutor de Ubatuba.

Segundo ela, antes era comum ver espécies marinhas como raia pintada, cavalo-marinho, estrelas do mar, corais, garoupas e moreias. “Com a multidão no mar, agora sumiu tudo.”

CONTROLE

O turismo fora de controle motivou o Ministério Público Federal a liderar um conjunto de ações para tentar regularizar a exploração turística da ilha, que é um bem da União inserida nos limites da APA (Área de Proteção Ambiental) Marinha Litoral Norte. O órgão sugeriu aos pescadores o transporte de até 600 visitantes por dia.

 O limite, porém, não vem sendo respeitado, segundo associação dos barqueiros.

No último dia 6, a reportagem contabilizou oito escunas desembarcando turistas —em cada uma cabem de 80 a 120 pessoas.

Uma força-tarefa entre o Ministério Público Federal, Prefeitura de Ubatuba, Ibama, Parque Estadual da Serra do Mar e APA Marinha está realizando estudos técnicos de capacidade e suporte de visitação diária.

 

Mariana A. Nassif

4 Comentários

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  1. E o aumento da densidade demográfica?

    Sua análise aponta problemas politicos e econômicos, sem dúvida os há, mas esquece ou desconhece que nos últimos 60 anos a população mundial triplicou. Preservar o planeta, atualmente, tem muito a ver com não procriar. Há milhões de crianças necessitando adoção, mas a ignorância e o narcisismo falam mais alto…

    1. A questão é bem mais complexa

      A questão é bem mais complexa que isso. Envolve demografia, uso e repartição de recursos naturais, organização geográfica, cultura… Basicamente, o modelo capitalista é suicída e deve ser repensado o quanto antes.

    2. E o….

      População Mundial? Não estavamos falando do Brasil? De Ubatuba? Por favor, pelo menos ‘Andanças Capitais’. Somos um País-Continente, com um deserto populacional em 3/4 do seu território. O foco do problema é totalmente outro.abs. 

  2. Paraísos…..

    Nossas passagens de ônibus subiram para R$ 4,50 ou 5 ou 6 reais, apesar de desmascarado a proteção e cumplicidade do Poder Público para a manutenção destes feudos e monopólios. Todos aqueles que juram querer defender a Justiça e melhores condições de vida aos Brasileiros. (O Brasileiro ainda não entendeu que quem mais pode defendê-lo, é ele próprio). Um,a coxinha no Aeroporto custa 9 reais para financiar o feudo de certo Deputado Federal e sua quadrilha. Quanto não é a parte da Passagem Aérea, Taxa de Embarrque, parte nos Estacionamentos, custo nos Combustiveis? Ou será que só com parte nas coxinhas, já ficarão saciados? Dito isto, se locomoção não fosse outra parte das nossas Masmorras Medievais com custos tão aberrantes e criminosos, os Brasileiros estariam viajando por todo o páis. Fim de Semana? Santos? Ubatuba? 2 horas de vôo e estarei em Natal ou Porto Alegre ou Manaus ou Belém ou Pantanal ou Ilhéus… Nosso território, nossos custos, nosso combustível, nossa empresas de transporte, inclusive aéreas, 8.000 Km de litoral. O Brasileiro conhece o Brasil? Petróleo? somos a nova Árabia Saudita. Álcool? Somos o Maior Produtor Mundial Uma nova safra a cada ano. Qualidade de vida em mais de 95% do Território Nacional? 90% dos municípios brasileiros tem somente 25 mil habitantes. Em 95% das cidades o total da população não passa de 50 mil pessoas (Um estádio do Pacaembu). E não conseguimos ter qualidade de vida, ruas e calçadas largas, terenos e residências amplos, arborização, eleltrificação subterrânea, ciclovias, parques, clubes públicos em 95% das nossas cidades? Somente a imbecilização pode justificar nosso atraso. Por que Ubatuba fica abarrotada? O Brasil é de muito fa´cil explicação. abs.   

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