Organizações Tabajara do Setor Elétrico, por Jorge Alberto Benitz

Esta visão financista, que enxerga e leva em conta só o curto prazo, tem como prioridade o acionista.  Consumidores e empregados que se lixem

Organizações Tabajara do Setor Elétrico

por Jorge Alberto Benitz

    Neste meu longo andar, como diz a poesia de Mário Quintana, já passei, obviamente, por muita coisa boa e ruim. No entanto, nada parecido no quesito eventos atípicos extremos como a pandemia da Covid 19 e do temporal de 16 de janeiro de 2023, melhor dos seus resultados práticos. Na pandemia não podíamos sair de casa. Neste mais recente apagão, não podemos sair nem ficar em casa, como bem assinalou Fabrício Carpinejar.

    A atuação da CEEE Equatorial deveria receber o prêmio “Organizações Tabajara” pelo seu horrível desempenho. Fez-me recordar de um documentário sobre uma operação do FBI que virou um Case para que os iniciantes na profissão de agentes do FBI vissem como não fazer uma operação policial, tamanha a quantidade de erros cometidos que, se não me engano, causou muitas mortes. No caso do temporal todas as estações metrológicas informavam da sua dimensão atípica.  Parece que nada disso foi levado em conta na concessionária citada. O despreparo foi tal que consumidores, como eu e meus vizinhos de rua, ficamos 5 dias sem energia elétrica. É o que dá entregar por 100 milréis uma empresa de energia elétrica, que constitui um monopólio natural porque detém toda a distribuição de energia elétrica da área de sua atuação, para um grupo financista que só visa lucros. Daí que uma de suas primeiras providências, foi analisar onde poderiam enxugar custos e, bingo!, demitir os eletricistas, eletrotécnicos e engenheiros mais experientes com salários mais altos, era uma das soluções de mais fácil e imediata execução. Nada mais óbvio que contratar em seu lugar profissionais mais novos e, principalmente, mais baratos. Só que este tipo de providência, em uma empresa de distribuição de energia elétrica, tem um custo que, no início parece razoável para um olhar financista, mas na prática se torna uma calamidade, que foi o que aconteceu.

    Esta visão financista, que enxerga e leva em conta só o curto prazo, tem como prioridade o acionista.  O resto, consumidores e empregados que se lixem. São peças secundárias neste enredo. Este “filme” já foi visto no caso da tragédia de Brumadinho onde, segundo a imprensa, cortaram dinheiro das manutenções das barragens, para dar mais dividendos aos queridinhos acionistas, e deu no que deu. O pior é que eles não aprendem e assim continuam a promover episódios como o ocorrido aqui em Porto Alegre, RS, por culpa da CEEE Equatorial.

    Só para ilustrar, vou contar uma situação pessoal vivida. Estava indo, como refugiado climático, para a casa de minha cunhada em São Leopoldo, depois de cansar de esperar durante quatro dias o retorno da energia elétrica; vendo vizinhos ao lado e logo adiante na minha rua com energia elétrica, quando cruzei com uma camioneta da referida Empresa. Fiz o retorno, pois estava ainda na minha rua, para conversar com eles. Tive a impressão que perceberam e escaparam dobrando à direita na primeira rua que encontraram. Determinado dobrei, também, e fui ao seu encalço. Quando me viram, perceberam que eu não os deixaria fugir, diminuíram a marcha e emparelhe i com eles. Fui educado, como se deve ser nestas horas por saber que os culpados são seus patrões e não eles empregados, e pedi que vissem o meu caso, pois, nós, os moradores daquele pequeno trecho da rua, estávamos cercados com vizinhos com energia elétrica nesta sexta-feira, quarto dia. A energia elétrica para eles retornou no quarto dia. Se comprometeram em ver a situação que descrevi.

    Voltei para casa e como sabia que não se resolveria logo a situação, mantive a ideia de ir para a casa de minha cunhada. Antes, fiz um contato com um vizinho e o pedi para me informar sobre o andamento do caso.  Já instalado em São Leopoldo, ainda na sexta à noite, fiz um contato com o vizinho e fui informado que ele falou com eles e disseram que não estavam equipados com vara de manobra para resolver o problema. Era um problema em um disjuntor da chave fusível na linha de alta tensão que, suponho, estava queimado ou aberto (desarmado). Este equipamento protetor é que alimenta o transformador que atendia a minha residência e a de meus vizinhos. Pior, disser am que precisavam para resolver este problema de um caminhão, equipado com todos os equipamentos (Vara de manobras) e materiais (disjuntores, fusíveis, cabos, etc.) necessários para solucionar o problema. O caminhão equipado para resolver este tipo de problema  estava na zona Sul da cidade, informaram. E só tinha dois ou três destes caminhões para serviços de manutenção em toda a cidade. Quase não acreditei no que ouvia. Porém, não tenho como não acreditar no meu vizinho que não teria nenhum motivo para pintar com cinzas tão sombrias a situação.

Cabe ainda registrar o papel “me engana que eu gostcho “ da Clara, inteligência artificial que recebe as reclamações e ao que parece estas morrem ali. A julgar a atuação do pessoal daquela camioneta, eles estavam andando pelo bairro sem nenhuma orientação de uma Central. A Clara além de ser bisonhamente projetada, como apontou meu amigo Leandro Soares, dá uma resposta padrão chinfrim dizendo que “registrou” a falta de luz e que as equipes da empresa estão providenciando o retorno do atendimento. Meu amigo Jorge Ferreira, que cunhou o termo financista que utilizo neste texto, sugeriu que o nome mais correto para ela seria Escura. Inteligência artificial – q ue parece mais uma BA, Burrice Artificial, digo eu –  criada para enganar e enrolar o cliente da empresa. Tudo nos conformes de uma empresa voltada para o lucro e nada voltada para a qualidade do atendimento. Uma ilustração da mentira deslavada que é a propaganda neoliberal lida, falada e ouvida nos jornalões, rádios e noticiários de TVs que colocam o Estado como um demônio e elevam a empresa privada, principal beneficiaria da privatização das empresas estatais, como a panaceia para todos os problemas.

    Jorge Lemann, o principal ou um dos principais acionistas,  é uma espécie de Midas ao contrário. Onde toca problemas acontecem ….. Vide Lojas Americanas, Light e CEEE Equatorial.

Jorge Alberto Benitz é engenheiro e escritor.

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Redação

3 Comentários

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  1. Se estão achando ruin o caos que estas Distribuidoras regionais estão causando, pensem na Eletrobrás comprada pela 3G do Paulo Lemanh, Marcel Telles e Beto Sicupira, nas Americanas e os outros negócios foi só prejuízo financeiro, na Eletrobrás pode apagar a Bradil todo, podem romber represas e o Brasil ficar sem energia ou a mesma caríssima, acordem que vai dar M!

    1. Realmente, companheiro. Eles podem fazer um estrago bem maior dado o poder que adquiriram adquirindo por trinta dinheiros empresas estratégicas, graças aos vendilhões de sempre.

  2. Nenhum estudo sobre impacto das privatizações foi feito, nem o papel estratégico com relação a soberania nacional.

    As usinas nucleares por exemplo, tem um link com Furnas.

    Uma falha em Furnas chegou a desarmar o reator recentemente.

    Segurança operacional de setores estratégicos privatizados, geralmente dão M*, vide o vazamento de água radioativa notícias recentemente.

    No Brasil isso é tão surreal que vc encontra até as plantas dos reatores na web.
    Haja segurança nacional.

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