Sobre o consumidor superficial de informação e a era da não-notícia

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Por Fábio Porchat

Transei com Gugu

No Estadão

Mais importante que uma boa matéria é um título impactante. Não, eu não transei com o Gugu Liberato, mas arrisco dizer que muita gente vai começar a espalhar por aí que sim. Talvez esse se torne um dos meus artigos mais compartilhados. O que acontece é que (números do DataFábio) 80% das pessoas não leem o texto todo, só o título e já formulam suas opiniões.

Um dia, tive uma crítica péssima de uma peça de teatro publicada no jornal. Dizia que meu texto era péssimo, não tinha graça e as atuações eram pífias. Mas o que aparecia como chamada em letras garrafais era: “Comédia é para fazer rir”. Recebi algumas ligações de pessoas me dando parabéns pela crítica.

Ler dá trabalho e somos um país que não lê e a internet está nos provando cada vez mais isso. O público se baseia em seu próprio (pré)preconceito para dar uma opinião. Não vou nem entrar no mérito de que a maioria das pessoas ouve apenas um só lado da história (e geralmente o lado que reforça a sua opinião), porque ultimamente as pessoas não estão ouvindo nem a história propriamente dita. O que vem acontecendo na internet é que, de um modo geral, as pessoas não têm o menor comprometimento com o impacto da s ua opinião.

A sede por falar mal e “desmascarar” alguém é muito grande. Tanto faz se a notícia é verdadeira ou falsa. Se sai em algum lugar que todas as músicas do Caetano Veloso na verdade não são dele, mas sim plagiadas, imediatamente alguém irá publicar no seu Facebook ou no twitter: eu sabia. Esse imbecil retardado nunca poderia compor aquelas músicas sozinho. Aí, no dia seguinte, se descobre que isso foi uma notícia completamente mentirosa. Esse mesmo alguém jamais irá dizer que errou e que na verdade o Caetano é incrível mesmo. O importante não é ter uma opinião fundamentada, o importante é ter opinião. Qualquer que seja. De preferência que bata em alguém. E, mesmo se a sua opinião é boa, haverá um comentário de alguém dizendo que a sua opinião é um lixo e você é um idiota. E, como se não bastasse o público em geral, alguns jornalistas/formadores de opinião tecem comentários e escrevem artigos em cima de casos completamente deturpados.

Recentemente, a apresentadora Regina Casé foi envolvida em uma confusão por causa de uma matéria equivocada que saiu no jornal. Ela teve que dar explicações sobre um fato que não ocorreu. Quer dizer, você tá lá no seu canto, fazendo suas coisas, alguém resolve te atacar pra conseguir cliques numa matéria torta e, o pior de tudo, quem se sai mal nessa história é você, que tava na boa, quietinho e agora vai ter que se justificar e mostrar que nada daquilo tem sentido. O que fica para o público é que provavelmente a Regina deve ser a errada, afinal ela teve que se defender. O jornalista, ninguém nem sabe quem é e nem precisou falar nada, porque pra ele não fez a menor diferença. Um dia, vi uma chamada: Rafinha Bastos não estará na próxima edição de A Fazenda. Quer dizer, estamos vivendo a Era da não-notícia. A reencarnação do Buda também não estará na próxima edição de A Fazenda, o Papa Francisco também não e o Neymar também não.

Na verdade, 7 bilhões de pessoas mais ou menos não estarão. A não ser que a pessoa tenha anunciado que estaria, a notícia tem que ser quem vai estar! Essa foi a notícia mais clicada no dia. Pena. Aliás, um abraço pro Gugu Liberato!

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

9 Comentários

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  1. É vero!

    (…) porque ultimamente as pessoas não estão ouvindo nem a história propriamente dita.

    Saiu há pouco um casal num protesto desses de hoje, com uma faixa pedindo a volta do Sarney.

    É muita desinformação, ignorância das brabas. Pois nem como piada ou provocação serve!

  2. Pedro Cardoso já falou sobre

    Pedro Cardoso já falou sobre isso.

    Aliás, catuquem o Pedro Cardoso dizendo que ele não foi visto tirando meleca no intervalo de Bonsucesso e América só para ver se ele nos brinda, e sempre bem, com um artigo sobre o tema.

  3. Imagina então se sai que Shakespeare na verdade foi maconheiro

    Se então sai, como saiu, que Shakespeare, na verdade, só escreveu o que escreveu porque era um maconheiro, a turba internauta delira. A cannabis então foi a verdadeira autora de toda a melhor poesia e dramaturgia inglesa, eu sabia! Aquele filho de luveiro de Stratford não poderia ter escrito tudo aquilo da própria cabeça.

  4. Concordo.

    Quando se tenta abordar qualquer tema relacionado à política, muitas pessoas partem para o ataque, soltam frases de ordem e tudo mais.

    O pessoal é alienado, a mídia já tinha noção disso a muito tempo, basta estampar qualquer título que assumem verdadeiro. E dá muito trabalho você, como cidadão comum, tentar verificar se é verdadeira a determinada notícía.

    Temos a oligopolização da informação, logo ela é pratimcamente a mesma nos grandes meios. Então para a pessoa que lê o UOL, a Veja ou a Globo, se depara com a mesma notícia. 

    Como se perde tempo pra ler, e exige um certo esforço, a pessoa acaba acatando.

    Eu mesmo, não sendo jornalista, já peguei diversos factóides, basta comprar a Folha e o Jornal Valor! Como são destinados para públicos distintos, o tratamento da mesma informação é outro.

     

  5. Lindbergh Farias.em

    Lindbergh Farias.em 1992.

    “Todo mundo sabe que se o Congresso tirar a posição de não aprovar o impeachment está colocando o país num grande impasse. Porque o presidente Collor não tem mais condições de representar nem dentro do país, nem fora do Brasil. E também vai ficar provado para a população brasileira que o fisiologismo político do “é dando que se recebe”, o esquadrão da morte, foi o vencedor. (…) É escândalo atrás de escândalo. Então eu acho que é isso que está motivando as pessoas a irem para as ruas. Eu fico tranquilo porque eu estou do outro lado do Collor, eu estou nas ruas com o povo, eu estou nas ruas com as pessoas que querem as mudanças, então eu fico tranquilo nesse aspecto. Nós da UNE já temos uma posição tomada: se não for aprovado o impeachment, nós vamos chamar o povo para as ruas, vamos apoiar a iniciativa dos trabalhadores de greve geral e vamos tentar chamar todo mundo pra rua.”

    Lindbergh Farias,em 2015.

    “É hora de olhar para os movimentos sociais: só vocês podem impedir esse golpe que está em curso. Tem que ser desmascarado. É uma conspiração aberta pra tentar derrubar uma presidente eleita legitimamente. E eu falo porque, se eles vierem com aventura, não esperem de nós covardia. Se eles vierem com essa aventura golpista, nós vamos responder nas ruas.”

     

     

  6. Nassif
    Para o deleite dos

    Nassif

    Para o deleite dos predadores, estamos na fase da “manada desembestada”.

    Com um agravante, sem nenhuma direção.

     

  7. Bem antes da internet ser o

    Bem antes da internet ser o que é o papel da imprensa já era o de rebaixar o debate público sobre todo e qualquer assunto, todo e qualquer assunto; e intoxicar corações e mentes com todo tipo de ideologia e propaganda antissocial, antipolítica e antiestado. Uma espécie de americanismo rasteiro mas pretensamente chique.

    Isso aconteceu a olhos vistos muito embora haja tantos que se surpreendam, inclusive no meio acadêmico.

    Fala-se cada vez mais de internet mas a produção de conteúdo ainda é limitadíssima. Essas hordas de vociferantes reproduzem e repercutem o que colhem na grande imprensa. A “produção” de “conteúdo” se limita a imagens, comentários e piadinhas supostamente engraçadas que só revelam ignorância de fatos e conceitos básicos

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