Demóstenes comandava ações no MP do Goiás

Por Marco Antonio L.

A turma do Demóstenes

Do Blog Os Amigos do Brasil

Por Helena 

Escutas telefônicas feitas pela Polícia Federal indicam que o senador Demóstenes Torres era a ponte para Carlinhos Cachoeira interferir e até comandar ações do Ministério Público de Goiás, chefiado por um irmão do parlamentar. O procurador-geral de Justiça Benedito Torres. “Manda ele (Benedito Torres) lá designar um promotor para entrar com uma ação contra isso aí”, diz o bicheiro a Demóstenes um dos trechos gravados pela PF. À noite, o senador responde ao contraventor e garante: “Tratei com ele aquelas duas questões, diz que vai resolver, falou?” No Distrito Federal, grampos da PF flagraram encontro de dois secretários de Agnelo, Rafael Barbosa e Paulo Tadeu, com o braço direito de Cachoeira, Cláudio Abreu, que se apresentava como diretor de empresa que faz coleta de lixo no DF.

Em conversas gravadas com autorização da Justiça, senador goiano acerta com Cachoeira a interferência em ações do Ministério Público de Goiás, comandado pelo irmão do parlamentar

Interceptações telefônicas da Polícia Federal apontam que o senador goiano Demóstenes Torres (sem partido) garantiu ao bicheiro Carlinhos Cachoeira interferir diretamente em procedimentos internos do Ministério Público (MP) de Goiás, comandado pelo irmão do parlamentar, o procurador-geral de Justiça, Benedito Torres, para favorecer o contraventor.

As conversas, obtidas pelo Correio, mostram ainda a suposta influência da organização criminosa sobre Alencar José Vital, presidente da Associação Goiana do Ministério Público (AGMP), e Ronald Bicca, procurador-geral do Estado. Segundo os investigadores, os três eram acionados pelo senador para atender interesses de Cachoeira.

Em um dos diálogos, em 16 de maio de 2011, Cachoeira pede a Demóstenes que converse com seu irmão para que interceda contra a transportadora Garbano, que estaria em área incômoda para o bicheiro.

“Você falou com seu irmão?”, indaga. Demóstenes responde: “De novo, não, vou encontrar com ele pessoalmente”. O bicheiro reforça sua demanda e o senador sugere resolver a questão via Ronald Bicca. Cachoeira discorda, exigindo que o senador acione Benedito Torres: “Tem que ser via Ministério Público, entendeu?”.

Demóstenes concorda e diz que irá conversar com o irmão. “Pode deixar que eu tomo conta disso. (…) Vou procurar meu irmão agora na hora do almoço, vamos almoçar juntos e vou falar essa questão com ele.” A seguinte resposta de Cachoeira mostra a suposta influência da organização criminosa sobre o irmão de Demóstenes: “Manda ele (Benedito Torres) lá designar um promotor para entrar com uma ação contra isso aí, porque isso aí é parte do Ministério Público municipal, entendeu”. Na noite do mesmo dia, Demóstenes retorna a Cachoeira, alegando ter acertado com o irmão o cumprimento da ordem do bicheiro: “Tratei com ele aquelas duas questões, diz que vai resolver, falou?”.

Licitação

Em outra ocasião, o contraventor ordena que Demóstenes acione Benedito para que receba o vereador de Goiânia Elias Vaz (PSol), que apresentou uma representação no MP de Goiás para barrar licitação do Parque Mutirama, na capital goiana. Demóstenes, como nos episódios anteriores, prontifica-se a pedir a interferência do irmão: “Vou ligar lá. Te ligo daqui a pouco”.

O presidente da AGMP, Alencar José Vital, é outra autoridade citada nas conversas. Cachoeira pede que Demóstenes acione Alencar para cuidar de um processo contra Amilton Batista, presidente da Câmara Municipal de Anápolis. “O Alencar, que é o promotor que coordena essa turma, ficou de dar uma resposta”, diz Demóstenes. No mesmo diálogo, refere-se a um processo rejeitado por um ministério sobre a Faculdade Padrão de Medicina, de um empresário ligado a Cachoeira. Demóstenes afirma que seria melhor abrir um novo processo e diz que Alencar irá “cuidar pessoalmente das duas situações”. Comenta ainda que até o fim do dia o presidente da AGMP retornaria a ligação.

A terceira autoridade citada nas conversas é o procurador-geral do Estado, Ronald Bicca. Cachoeira ordena ao ex-presidente da Câmara Municipal de Goiânia Wladimir Garcez que pegue um “parecer favorável” ao delegado Edemundo Dias Filho, também tesoureiro do PSDB de Goiás, que enfrentava um processo administrativo. Em outro trecho, Demóstenes relata a Cachoeira que Bicca teria lhe dito que “não gosta de falar com intermediários”: “Ele insinuou que você manda alguém atrás dele. E quando você quiser as coisas, você chama ele e fala, ué”.

“Vício de origem”

O governador Marconi Perillo (PSDB) também é citado em uma conversa entre os dois. Demóstenes pergunta a Cachoeira sobre uma “concessão” que a Assembleia Legislativa de Goiás irá decidir e diz que será melhor se o governador intermediar: “Eu acho que o Marconi que precisava mandar, para evitar questionamentos futuros, você num acha não?”. Cachoeira discorda, mas o senador alerta para o risco de a operação ser contestada por “vício de origem”, o que faz o bicheiro aceitar a sugestão, dando a entender que irá tratar o assunto diretamente com Marconi: “Eu vou discutir isso com ele, tá?”.

Em nota, a Procuradoria-Geral de Justiça de Goiás afirma que, nos três casos citados, as decisões do órgão foram “opostas à pretensão manifestada por Carlos Cachoeira” e que o procurador Benedito Torres “jamais aceitaria ingerência” e “desconhecia qualquer relacionamento do senador Demóstenes Torres com as pessoas ou as empresas investigadas na Operação Monte Carlo”.

Ronald Bicca confirmou ter dado parecer favorável a Edemundo Dias Filho, por tratar-se de caso “corretíssimo e tranquilo”. Ele afirma ser amigo do senador, mas diz nunca ter tratado de assunto “relacionado a governo com Demóstenes Torres e muito menos com Cachoeira”. Alencar José Vital alega que o fato de o senador ter usado seu nome foi uma “fanfarronice e irresponsabilidade de Demóstenes diante de tantas outras coisas que o Brasil está vendo sobre ele”. Perillo não se pronunciou até o fechamento desta edição.

Derrota no Supremo

O ministro Ricardo Lewandowski negou pedido de liminar em que o senador Demóstenes Torres pede a suspensão do inquérito que tramita contra ele no Supremo Tribunal Federal. Em ação apresentada na última terça-feira, a defesa do senador queria que o ministro julgasse nulas todas as gravações feitas pela Polícia Federal. As escutas mostravam conversas entre Demóstenes e o contraventor Carlinhos Cachoeira, acusado de comandar um esquema de jogo ilegal. Lewandowski não analisou a questão da validade das provas no despacho, isso será definido quando a liminar for julgada em plenário.

Luis Nassif

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