O alerta da China para o Brasil, por Ricardo Gallo

Enviado por Assis Ribeiro

Ricardo Gallo em 2012  já alertava que o Brasil teria dificuldades

China: alerta amarelo!!!

Por Ricardo Gallo

Do Blog do Ricardo Gallo

Enquanto todos ficam de olho na Europa, dados recentes mostram que economia chinesa continua desacelerando.

As importações e exportações de produtos processados vem desacelerando bastante, em função da redução da atividade nas principais economias do globo, como vemos nos dois gráficos abaixo preparados pelo time de pesquisa do Bank of America:

O consumo de energia desacelerou bastante, a exceção do setor de serviços. Tal consumo indica que PIB possa estar andando a 7 ou 6% aa:

Outros dados são muito preocupantes:

a produção industrial, que crescia a mais de 11% aa no primeiro trimestre, desacelerou em Abril para 9,3 % aa. Em 2011 a indústria cresceu 13.9%.

investimento em imóveis , que cresceram 27,9% em 2011, se desaceleraram para 18,7% aa em abril.

vendas reais no varejo que cresceram 11.6 % em 2011, desaceleraram para 10,7% aa em abril.

a indústria pesada que cresceu 14,3% em 2011, desacelerou para 8,9% aa em abril

O governo adotou algumas medidas pontuais para estimular a expansão de crédito. Porém, apesar da maior liquidez (juros de 90 dias estão no menor nível desde Junho de 2011), a demanda por empréstimos está fraca, indicando que há sim um problema de demanda interna. Como diria aquele famoso economista da Febraban: você pode levar a vaca até o riacho, porém não pode forçá-la a beber água. Os empréstimos bancários, que cresceram 15.8% aa em 2011 ( no ano do aperto monetário chinês!!), estão crescendo a 15,4% aa apenas, apesar dos esforços do governo chinês.  A oferta monetária M2, que cresceu 13,6% em 2011, cresce a 12,8 %aa, o menor crescimento desde 2005.  Para se ter uma ideia, a meta do BC Chinês para o crescimento do M2 para 2012  é de 14%. Ou seja, eles estão ficando cada vez mais longe da meta!

Como já dissemos em outros posts, os tempos de 10% aa de crescimento na China já acabaram. O Bank of America projeta taxas decrescentes de crescimento para os próximos anos, como vemos no gráfico abaixo:

Entre os fatores que irão levar a esta desaceleração o Banco cita:

> as reformas na China vão deixar de ter o mesmo impacto que tiveram no passado, uma vez que a economia já é bastante grande;

> a razão entre o número daqueles que não estão em idade para trabalhar sobre o número daqueles que estão em idade para trabalhar na sociedade chinesa caiu bastante ao longo dos últimos anos em função de fatores demográficos. Isto aumentou bastante a taxa de poupança na economia, aumentando o investimento, e portanto, o crescimento. Porém parece que estes dividendos demográficos estão acabando;

> a oferta de mão de obra jovem e barata vinda do campo está acabando.  Há um certo envelhecimento da população chinesa. E a população rural jovem ainda disponível para ser usada na indústria caiu bastante, já havendo sinais de falta de mão de obra em vários setores da economia, o que tem causado a elevação dos salários em mais de 15% reais por ano.

> a taxa de retorno dos investimentos de capital tendem a cair, pois os investimentos mais rentáveis ( na indústria) estão diminuindo  e sendo substituídos por investimentos em habitação e infra que dão um retorno menor no curto prazo;

> restrições na oferta de recursos naturais globais. China consome 50% do cobre, do aço, 11% do petróleo, 50% do carão, 45% do alumínio , 30% do arroz e 22% do milho QUE SÃO PRODUZIDOS NO MUNDO TODO. Logo, não dá para continuar crescendo no ritmo atual pois não haverá crescimento na oferta destes produtos que dê conta disto;

A China está deixando de ser uma economia impulsionada pelos investimentos de capital para ser uma economia de consumo e serviços. Logo, sua taxa de crescimento deverá recuar. O risco é como fazer tal transição sem descarrilhar. A demanda por commodities deve cair e o setor de serviços e tecnologia devem crescer mais rápidos por lá. Com o tempo a China irá deixar de ser um exportador líquido para ser um importador líquido de bens e serviços,  na medida em que seu povo comece a consumir mais e a poupar menos. Com isto ela deixará de acumular tantas reservas.

Existe contudo o temor que a desaceleração atual continue levando o país a um pouso forçado, similar ao ocorrido com o Japão com sua crise imobiliária dos anos 90. De fato o investimento imobiliário está despencando e levando a uma correção dos preços. Porém a velocidade de queda dos preços dos imóveis não é preocupante e as famílias chinesas são muito pouco endividadas .

Os mercados, que já estavam assutados com os problemas na Europa, levaram um grande susto com os dados recentes vindos da China. Esperava-se que a economia já estivesse se recuperando a esta altura. Porém o governo chinês tem sido relativamente tímido para tomar as medidas necessárias visando o reaquecimento da economia, aparentemente por razões de política interna. Assim, o risco de uma desaceleração maior da economia chinesa aumentou. Contudo, eu acredito que teremos mais algumas medidas pontuais do governo chinês nos próximos meses para tentar reverter este quadro. Porém não espere nada tão agressivo como o que eles fizeram em 2009.

Não  precisamos aqui enfatizar o que isto significa para nós. Acho que, em grande parte, a queda de nossa bolsa e da alta do dólar já refletem uma preocupaçao maior dos investidores com a China e seus impactos no Brasil. O Brasil é visto pelos investidores lá fora como uma economia complementar a Chinesa. Portanto, uma queda na atividade por lá seria refletida aqui.

Neste caso, é bom que alguém segure a mão deste cara aqui embaixo:

Redação

7 Comentários

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  1. E ……………….

    Bom, tantas análises catastróficas, sobre China, UE, EUA, Asia, África, MO, afinal o que sobra ?

    Os investidores não irão deixar de ganhar seus retornos, e ficar parado o dinheiro, é prejuízo !

    A Europa, carregada até recentemente pela Alemanha, já mostra esgotamento.

    Os rentistas, vendo onde podem ganhar mais, irão voar para onde mais lhe seja benéfico, e podem estar certos os pessimistas, que irão preferir quem lhes oferecer melhores oportunidades e estes serão os emergentes !!!!

    Os países da AL, Caribe e África, precisam de recursos para investimento em infraestrutura além de terem  um mercado interno, cujo potencial supera em muito as espectativas, daí …………….. 

  2. Commodities

    Assis,

    Os gráficos que constam da reportagem vão até 2012, a partir dali a China continuou a reduzir o tamanho de seu crescimento, que ainda se apresenta como o maior  de todos os países neste momento, na faixa dos 7,5% aa.

    O patropi teria que sair desta eterna posição de exportador de commodities, sem qualquer valor agregado, quando exporta 1 t. de minério para conseguir importar um rádio de pilha.

    Para isto, é necessário um pacote de medidas do governo, uma delas a desvalorização do real, que já ocorre na base do soft landing desde 2011. Sem algum tipo de incentivo, ficaremos como estamos desde 1850.

    Com a queda quase generalizada do preço das commodities, situação que pode permanecer por tempo indeterminado, muitos exportadores de commodities tendem à dificuldade. 

  3. O pessoal se esquece mas há

    O pessoal se esquece mas há dois anos atrás a CHINA disse que iria desacelerar para algo entre 7,5 e 10%.

    Quando isso acontece…vem estes artigos de gente que ficou surpresa com isso.
     

  4. 8,9% de crescimento para 1 em cada quase 5 humanos

    No marasmo de hoje é muito mais do que bom! Talvez alguém fique com inveja do Sudão, que cresceu ~24%!

    Crescer nestas taxas com >1,3 bilhões ainda é fantástico, embora o efeito inverso da distribução percapita e por isso precisam crescer muito ainda (como está ocorrendo). De acordo com o FMI, já é a maior economia do mundo, EUA em segundo, Brasil em sétimo, caminhando para quinto.

    É certo que quando mais se cresce numa economia mundial compartilhada, menos espaço se tem para crescer. Salários sobem, direções e sentidos mudam,, etc. etc.

    Quanto às commodities, esta tem sido nossa sina histórica. Toda vez que começamos a desenvolver valor agregado de manufatura, etc, aí os neoliberais colonizados começam com as carroças (todas estrangeiras), os PC´s caros, a “produtividade”, a “competitividade”, etc. E arrasam o início, destroem o humilde (e inevitável) aprendizado, exigindo o “proficiente” (ou nada). Querem “the best”, de imediato, aquilo que vêem em Maiamis. E mais barato!.

    E aí, voltamos às commodities.

    E estes poucos, sem muito esforço, continuam ganhando rios de grana, como elas (ou com juros), importando seus jatinhos e metendo o pau na nossa histórica “incapacidade”.

    Causada pelo pesado “arrasto nordestino”!

    E pela política desenvolvida por um retirante de lá!

  5. E quem disse que a China

    E quem disse que a China tinha que crescer eternamente a níveis absurdos? Parece gente ferida com o fato da China ter ultrapassado os USA em poder de paridade de compra como maior economia do mundo.

  6. Industrializados versus comodities

    A própria fonte citada, conspira contra a exatidão da informação.

     

    O Brasil exporta para a China, básicamente, insumos e comodities. Importamos da China, básicamente, produtos industrializados ( como, de resto, o mundo todo ) O que pode acontecer é que as linhas de crédito existentes para a exportações brasileiras encurtem um pouco o prazo. O que é importado da China, normalmente, é pago quase à vista.

     

  7. A China está mudando a maneira de crescer

    Privilegiando o mercado interno igual ao Brasil. Os chineses comendo mais, as exportações brasileiras de alimentos continuam crescendo.

    Uma grande oportunidade para o Brasil na indústria, se o governo for eficiente aproveita o câmbio desvalorizado para substituir algumas importações.

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