Datafolha: Alckmin seria reeleito no primeiro turno com 44%

Não dá para levar a sério isso

Quer dizer que o PT tem 3%? Tudo isso? Foi assim com a Dilma em 2010, o Datafolha custou a “achar” os votos dela. Em 2010, o Mercadante teve 35% no primeiro turno. 

Acho interessante alguns

Acho interessante alguns comentaristas enxergarem semelhanças entre a a eleição paulista e a paulistana.

A cidade de São Paulo não tem nada a ver com o estado de São Paulo.

A cidade, revolucionária em termos eleitorais, é uma festa para aventureiros, farsantes, novatos e desconhecidos vide os exemplos recentes de Kassab, Haddad, Erundina, Pitta e Maluf.

O estado por sua vez é extremamente conservador e na única vez que se arriscou, com Fleury, se deu muito mal.

Lula, com todo o seu inegável carisma, nunca ganhou uma eleição majoritária no estado e sofre grande rejeição no interior, especialmente nas pequenas e médias cidades.

Alckmin é o grande favorito e Skaf (que não deixa de ter algumas semelhanças com Fleury em termos eleitorais é óbvio!)  é o azarão com pouquíssimas chances de sucesso. Padilha é carta fora do baralho e por ser desconhecido e estar ligado a Dilma (o que é um peso aqui no estado) provavelmente terá a menor votação na história de um candidato petista ao governo paulista.

Não ficarei nem um pouco surpreso se houver uma troca de candidatos no PT.

À conferir! 

As duas São Paulos

Nesta pesquisa Datafolha, vemos que existem dois Estados de São Paulo, cada um com uma dinâmica diferente.

A Primeira São Paulo é a Grande São Paulo que, como a Prefeitura de São Paulo, é um verdadeiro caldeirão, onde Alckmin precisa lidar com grandes manifestações, greves das mais diversas categorias do funcionalismo, crise de abastecimento de água (o Sistema Cantareira abastece a capital e entorno), violência visível aos olhos e amplificada por Datenas e cia, região em que o cidadão tem uma noção maior de quais serviços públicos estão sob a responsabilidade do governo do Estado, região em que a qualidade de vida deteriorada faz o eleitor questionar mais os governantes locais (Prefeito e Governador).

Para tanto, só verificar o sufoco em que passam os Prefeitos de São Paulo, “túmulo dos políticos”, como resumiu bem Haddad. Na Grande SP, Alckmin possui intenção de voto “batível”, de 38%, ou seja, a depender do desenrolar da campanha, e com uma exploração competente de suas falhas administrativas e políticas, pode ser até ultrapassado pelos seus adversários.

A Segunda São Paulo é o interior do Estado, composta de diversas regiões diferentes, mas tomada como uma só, é onde o Governador possui vida mais fácil. Nela, o cidadão-eleitor, apesar de não viver em condições “escandinavas”, longe disso, não precisa, igual na região metropolitana de SP, passar quatro horas diárias dentro de ônibus ou metrô lata de sardinha, não convive com um custo de vida tão alto quanto na capital, a violência não é tão perceptível, e a presença do Governo estadual não é tão visível.

Nesse contexto, o cidadão cobra o Prefeito por questões locais e o Presidente pelo humor econômico e social de um modo geral. De fato, uma cidade do interior em muitos casos tem serviço próprio de água e saneamento, o transporte público é competência do Prefeito, o grosso do Sistema de Saúde idem e, apesar de o ensino médio estar a cargo do Estado, o cidadão do interior culpa mais o Prefeito do que o Governador pelo caos na Educação.

É como se o Presidente da República lidasse com o atacado, o Prefeito com o varejo, e o Governador do Estado fosse a Rainha da Inglaterra.

Não a toa, Alckmin tem intenção de voto imbatível no interior, 51%, algo que desequilibra completamente a contenda. É como se o Nordeste Dilmista representasse 50% da população nacional, algo que liquidaria por completo a eleição presidencial em favor do PT.

Agora, a pergunta que se pode fazer é: o voto interiorano em Alckmin é tão sólido quanto o voto nordestino em Dilma? Digo que o voto nordestino em Dilma é sólido pois, além da figura carismática de Lula, a região foi a que mais se desenvolveu sob o PT, além de contar com parcela grande dos beneficiários dos programas sociais. Se o voto nordestino petista é sólido, qual o motivo de o interior de SP ser tão fiel a Alckmin? Em termos de políticas públicas, não consigo lembrar de nada tão impactante quanto ao que o PT fez para a região nordestina.

Voltando a pergunta, se o voto interiorano em Alckmin é sólido, pelas últimas eleições e pelas sondagens mais recentes, a resposta mais provável é: sim. Alckmin tem ciência disso e, quem acompanha o noticiário regional, sabe que quase toda semana o governador percorre o interior todo, 4 anos em intensa campanha política.

Como ele é a “Rainha da Inglaterra”, Alckmin é intensamente festejado em suas andanças, quando inaugura uma obra aqui, faz um discurso ali, e aparece toda semana na Globo enquanto o trabalhador está almoçando ou de volta para casa. O estilo político é paroquial, como se ele fosse um filantropo que não tem nada a ver com a vida do interiorano, mas ainda assim o ajuda assinando convênios com Prefeituras.

Um exemplo foi quando fui, no começo do ano, para uma cidade pequenina do interior, com cerca de 10 mil habitantes, onde na entrada dela havia uma faixa imensa escrita “Obrigado pela ambulância governador Alckmin!”.

Se a militância petista pensa que, explorando o caso Siemens-Alstom-Cptm, ou denunciando a inércia dos tucanos na construção de metrôs, incompetência no gerenciamento da Sabesp, educação e saúde em frangalhos é o único caminho a ser trilhado para derrotar o tucano, vão bater com a cara na parede.

Quem deseja vencer o tucano, precisa de duas estratégias diferentes, uma para a capital, outra para o interior. Um anti-monarquista britânico, para defender a absolição da monarquia, falaria sobre a incompetência da gestão do Primeiro-Ministro? Claro que não, isso não seria nem um pouco efetivo. O caminho a ser trilhado, no interior, é coisa para os sociologos, antropólogos e marqueteiros do PT estudarem, já que é difícil encontrar uma explicação efetiva, em termos de políticas públicas, sobre o porque da popularidade de Alckmin ser tão inquebrantável no interior.

Se fosse para opinar, iria na direção do estilo paroquial, do fato do cidadão do interior não vislumbrar em Alckmin todas as intensas responsabilidades que o Presidente e o Prefeito possuem. Assim, toda vez que ele vai ao interior inaugurar algo, ou assinar um convênio, sai como benevolente, magnânimo. A aliança mídia-tucanos despolitizou completamente a gestão em âmbito estadual e, se na capital é impossível omitir as responsabilidades do governo do Estado, no interior Alckmin navega em um céu de brigadeiro.

O vínculo, então, não é apenas político, chega a ter uma espécie de natureza sentimental. Isto é muito difícil de romper. O único evento que retirou um pouco da popularidade Alckmista foram as manifestações de junho, mas isso ocorreu com políticos de todas as esferas. No interior, nada abala Alckmin: crise na Sabesp, corrupção na Cptm, serviços públicos esmigalhados, privataria, polícia truculenta, Pinheirinho, etcétera.

Nesse ponto, Lula teve razão, quando escolheu Padilha por ter “cara de tucano”. Só que o buraco é muito mais embaixo. Uma cidade geralmente “tucana”, como São José dos Campos, pode eventualmente eleger um Prefeito petista, já que pode julgar um Prefeito tucano cujas responsabilidades estavam inteiramente delimitadas. Já Alckmin, difícil, quase impossível de perder para um petista nessa cidade.