Carlos Ghosn e Lava Jato, as diferenças entre procuradores japoneses e brasileiros, por Luis Nassif

Nos dois casos, Ghosn e Lava Jato, foi feito uso político despudorado do poder de Estado dos procuradores, mas com uma diferença essencial.

A caso Carlos Ghosn é a explicitação maior do uso do lawfare pelo Judiciário.

Por qualquer padrão que se analise, sua prisão é incompreensível, assim como seu isolamento, sem poder comunicar-se com ninguém no exterior, sem acesso livre sequer à sua esposa, sem poder explicar-se à mídia e à própria Justiça, para não contrapor sua versão à do Judiciário japonês. E tudo isso na fase do inquérito. Foi um crime midiático continuado contra o estado de direito, assim como a Lava Jato.

Prenderam-no, mantiveram-no isolado, enquanto espalhavam informações e suas próprias visões do inquérito, criminalizando até gastos com festas de casamento.

Na outra ponta, mantiveram Ghosn preso, isolado, sem poder comunicar-se com ninguém – inclusive com a esposa, para que não levasse suas explicações para a mídia -, impedindo-o de contrapor qualquer versão à dos procuradores japoneses.

Não havia nenhuma explicação para esse tratamento. Se cometeu crimes contra a empresa – ao utilizá-la para gastos pessoais ou por estratégias fiscais -, que fosse submetido a um processo normal, a um julgamento, tendo todas as condições de se defender, não apenas perante o Judiciário japonês, mas perante a opinião pública japonesa e internacional.

A escandalização de sua festa de casamento, a proposta para que sua esposa delatasse (revelada hoje na coluna da Sonia Racy), nada ficam a dever aos métodos desenvolvidos pelo Departamento de Crimes Corporativos do Departamento de Justiça norte-americano e reproduzidos pela Lava Jato.

Nos dois casos, Ghosn e Lava Jato, foi feito uso político despudorado do poder de Estado dos procuradores, mas com uma diferença essencial. Todos os abusos dos procuradores japoneses tinham por objetivo recuperar uma empresa japonesa para o Japão, impedindo-a de ser absorvida pela Renault. Bem ou mal, se valeram do que entendiam interesse nacional. Demonizaram o executivo que, saindo do Brasil e do Libano, passando pela França, foi ensinar gestão aos japoneses e, depois de salvar a Mitsubishi, propôs uma fusão que, na prática, transferiria seu controle para uma rival francesa.

No caso da Lava Jato, desde o começo, obedecia-se a uma lógica internacional, de prestar contas aos parceiros do Departamento de Justiça, de mirar premiações internacionais, de colocar black-tie e se deslumbrar nos salões internacionais, jecas sem respeito pela própria terra, homenageados por empresários internacionais, tão corruptos quanto as empreiteiras, mas gratos pela destruição de seus competidores.

Nessa diferença de entende porque o Japão se tornou uma potência, e o Brasil perdeu até seu projeto de país

Luis Nassif

24 Comentários

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  1. Peço desculpas a Nassif mas neste exato momento,meus velhos olhos não iriam me enganar,e eles estão voltados para a capadoçagem da Seguradora Líder,vide Deputa Luciano Bivar,e o Clã Barroso.Por óbvio,difícil pegar,mas não custa tentar,basta seguir o dinheiro.No aguardo.

  2. A Lava Jato quebrou a Odebrecht que ganhou licitação e construiu o aeroporto de Miami…..em todo golpe destroem empresas como vingança, estou me referindo a Panair, que não tivesse sido devastada pelo golpe militar, seria a maior do mundo..
    …a Lava Jato levou a Odebrecht a gastar 5 BI para que 77 executivos disessem qualquer mentira pra que Moro e Dalanhol prendessem Lula e levassem ao poder o que de pior há na política nacional: milicianos corruptos teocratas e burros abecedarianos até dizer chega e tudo sendo destruído ou sendo entregue aos donos do golpe: petróleo, Embraer, água, sol, sol

    E ainda há quem idolatre esse lixo chamado Moro

    1. Mas, acredito que o Moro só conseguiu fazer a desgraça que fez porque foi blindado pelos superiores.
      Aqueles do “com STF, com tudo”, militares, empresários e imprensa golpista.
      Um juiz de primeira instância não conseguiria fazer o que este FDP fez sem esta blindagem.

  3. Entende-se porque golpistas detestaram a divulgação súbita e extra do documentário “Democracia em vertigem”, já que o mesmo expõe justamente o golpismo e golpistas. Como se não bastassem a vazajato e a adesão morista ao governo oriundo do golpismo. Em tempos do “hipocricismo”, o golpismo, as fake-news e o lawfare são as principais estratégia. E sempre terão aqueles que serão procuradores de brechas falso-legalistas a servir de marretas da democracia. Ao menos até a crimônia do Oscar, terão este fantasma a puxar-lhes o calcanhar. Sendo o filme premiado, vai ser uma batalha para buscar esvaziá-lo (ou ressignificá-lo) em ano eleitoral tão importante.

  4. É exatamente o que pensei, com uma diferença: o senhor Carlos Ghosn não foi ao Japão ensinar gestão aos japoneses. Foi ensinar a japonês como mandar japonês embora de fábrica, rebaixar salários e aumentar a exploração capitalista. Gestão é isso, Seu Nassif?

    1. Não vi no texto, em nenhum lugar, Nassif afirmar que o cidadão em questão é bom ou mau.
      O texto, a meu ver, defende os direitos do cidadão. Lawfare é um crime cometido pelo Estado, nesse caso, contra o cidadão.
      Assim como fizeram e ainda fazem com o Lula. Não interessa se você gosta do Lula ou não. A lei é para todos. Senão é melhor não ter lei…

    2. “Carlos Ghosn não foi ao Japão ensinar gestão aos japoneses. Foi ensinar a japonês como mandar japonês embora de fábrica, rebaixar salários e aumentar a exploração capitalista.”

      Não dramatiza demais. Nem japonês, nem francês, nem Nissan, nem Renault algum dia foram exemplo de socialismo ou trabalhismo. Muito pelo contrário. Não delira.

      1. Nossa, fiz um texto tão pequeno, para tamanha polêmica. Veja que iniciei com “É exatamente o que pensei” (acho, com isso, que concordei com o Luis Nassif). Discordei apenas de “foi ensinar gestão aos japoneses” (acho que isso é um elogio do Nassif ao Ghosn).
        Veja a Wikipédia do Carlos Ghosn e leia que o plano dele para a Nissan foi passar a régua em empregos, coisa que não era comum no Japão, segundo a mídia. Por isso, questionei o Nassif sobre o elogio à gestão.
        Não elogiei capitalismo japonês ou de qualquer outro lugar.

    3. “Foi ensinar a japonês como mandar japonês embora de fábrica”

      Não se preocupe. O japonês sai da Nissan e vai trabalhar na Honda, na Suzuki, na Kawasaki, na Mitsubishi, na Toyota, na Yamaha etc. Não tem desemprego no Japão.

    4. “rebaixar salários e aumentar a exploração capitalista.”

      Não creio que a transferência da direção de uma empresa privada japonesa para uma empresa privada francesa tem esse condão.
      Aonde a exploração não é capitalista, afinal?

    5. Mas o texto não se propunha julgar as práticas de gestão de Carlos Ghosn, mas como a Justiça está sendo usada como instrumento político de perseguição no Japão e Brasil e a diferença desta perseguição entre os países. Quanto ao Ghosn, todos nós sabemos como estes CEOs são agressivos para recuperação de empresas quebradas e se utilizam de práticas até desumanas para isso.

  5. Bando de deslumbrados. Porque a Casa Grande os recebeu em seus salões nobres acreditavam que participavam da festa. Mal sabiam eles que na verdade eles próprios ( e nossas riquezas) eram os pratos principais!

  6. A diferença está muito bem demonstrada. Os procuradores brasileiros são apátridas. Ou melhor, enganam-se crendo que são estadunidenses ou pelo menos brasileiros “diferenciados”. Como de fato não são, acabam sendo nada mais que meros traidores da própria pátria, da nossa pátria.

    1. Renato: não podemos nos esquecer de que fazem companhia aos Procuradores os subservientes Militares brasileiros entreguistas. Os Militares entreguistas são vassalos dos EUA há muito mais tempo do q os infames Procuradores.

  7. “No caso da Lava Jato, desde o começo, obedecia-se a uma lógica internacional, de prestar contas aos parceiros do Departamento de Justiça, de mirar premiações internacionais, de colocar black-tie e se deslumbrar nos salões internacionais, jecas sem respeito pela própria terra, homenageados por empresários internacionais, tão corruptos quanto as empreiteiras, mas gratos pela destruição de seus competidores.”
    Clap. Clap. Clap.
    Perfeito.

    E é esse tipo de comportamento colonizado que gera confusão em alguns analistas (e no próprio governo petista, na época). Porque muitas vezes, os interesses estrangeiros não precisam ser diretamente comandados. Os “quinta colunas” (com complexo de vira lata) atendem a seus interesses sem necessidade de um comando. Frequentemente, agem de maneira voluntária

    Os “jecas” pensam assim:
    – Os EUA são ricos, porque são um povo honesto. E eles querem o bem do mundo, querem promover a paz, a democracia, o livre mercado e desenvolvimento global.

    – O que nós (subdesenvolvidos) podemos fazer para chamar sua atenção. Como podemos mostrar serviço para eles, mostrar que também estamos do lado do bem? O que faremos para termos seu reconhecimento?

    Por isso, muitas vezes, não é necessário um comando direto dos americanos para que seus interesses estratégicos sejam atendidos. E é isso que gera confusão. Ou seja, como muitas vezes os próprios brasileiros (representantes do Estado) fazem ações de maneira independente (mas, que atende aos interesses americanos), muitas pessoas deduzem que não há interferência externa.

    Lógico, que os gringos não são tolos. Eles não vão chegar mandando. Eles fazem “treinamentos”, “dão orientações”, “premiações”. Enfim, indiretamente eles comandam o espetáculo. Tudo, conforme seus interesses geopolíticos.

    Claro, quando necessário, até podem lançar mão de alguma ação mais direta, legal ou mesmo através do submundo das espionagens, infiltrações e “doações”. Mas, isso é pontual. O importante é fazer com que os outros ajam conforme seus interesses, sem que eles precisem aparecer. Tudo clean. O velho “soft power”.

  8. O que me preocupa de todo isto ,além ,(óbvio) do terrível resultado dessa ação criminosa,É QUE O —DELINQUENTE— SERGIO MORO,SAIRÁ IMPUNE.
    Se ao menos existisse ainda a justiça popular ,que metía bala ou explodía com esses vende-pátria,teríamos alguma esperança.Mas ele acabará sua aberrante existência numa casa com jardins em um elegante bairro yanquee.

  9. Outra diferença importante é que no Japão os procuradores seguiam o sistema judicial do país que é quase inquisitorial. Aqui subverteram nosso sistema legal.

  10. Perfeitamente colocado, acrescentaria apenas uma boa dose de preconceito por parte dos japoneses. Duvido que submeteriam um CEO norte-americano, canadense, alemão, etc, ao mesmo tratamento. Aliás, não só duvido, mas se tivesse dinheiro sobrando seria capaz até de apostar, ganharia na certa.
    A postura submissa e vira-lata do governo brasileiro neste caso revela muito sobre a maneira como o mundo nos enxerga e, principalmente,, nos trata.

  11. Interessante, nem meio questionamento, por parte dos comentaristas, sobre atitudes dos procuradores japoneses. Pq só os nossos merecem críticas? Vale a máxima diplomática de não dar pitaco em questões internas de outros países? Agiram como autênticos nazistas, ou stalinistas, o objetivo era obter a confissão Simples assim.

  12. Pelo visto os canalhas trabalham de forma parecida em qualquer lugar. A diferença é que por aqui eles são traidores do país, pois se acham melhores que o “resto” do povo. Já lá pelo outro lado do mundo, eles não se vendem e nem entregam o que ao povo pertence. Afinal, eles fazem parte desse povo.

  13. Há outra diferença patente no Brasil:
    Ghosn virou herói por ter conseguido fugir.
    Sua fuga foi narrada com aprovação e entusiasmo dedicados às vítimas de injustiça!
    A prisão de Lula foi considerada justa e, qualquer possibilidade de asilo ou fuga, rejeitada e abominada!

  14. “… tão corruptos quanto as empreiteiras..”
    Tal afirmativa não é compartilhada por um número expressivo do conjunto da sociedade que vota e pode decidir os destinos da nação. Pois não?

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