Os incríveis anos Figueiredo

Coluna Econômica

Lançado pela editora Fundação Joaquim Nabuco, a trilogia “No Planalto com a Imprensa” entrevistou todos os porta-vozes vivos de sucessivos governos brasileiros, de Autran Dourado, no período JK, aos dias de hoje.

É obra imprescindível para se entender relações entre poder e imprensa.

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Um dos temas mais interessantes são os depoimentos de assessores que serviram o governo João Baptista Figueiredo – provavelmente um dos mais desastrados da história, em termos de imagem pública. O primeiro volume traz relatos de Said Farhat – nomeado Ministro da Comunicação Social -, dos jornalistas Alexandre Garcia e Marco Antonio Kramer e do diplomata Carlos Átila – que, pela história, merecia um livro autobiográfico.

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FiguFigueiredo escolheu Farhat – que tinha sido proprietário da respeitada revista Visão – sem ter o mínimo de convivência com ele. Egresso dos mercados editorial e publicitário, sem experiência política prévia e sem conhecimento do mundo jornalístico e político de Brasília, Farhat pretendeu montar uma estrutura de grandes empresas.

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De cara, trombou com todos os auxiliares, devido ao modo imperial com que os tratava. Não entendeu a estrutura de poder, que repousava em Golbery, Heitor de Aquino, Otávio Medeiros, Delfim Netto. Pretendeu guiar até as manifestações políticas de Figueiredo.

Mas tinha percepção sobre como montar uma imagem pública.

Na campanha para impor o nome de Figueiredo, a imprensa havia destacado seu brilho de tríplice coroado – primeiro colocado em três cursos das Forças Armadas. Farhat sabia que Figueiredo era uma força bruta que, se deixada solta, arrebentaria com sua imagem.

Sua idéia era humanizar Figueiredo mas sem banalizá-lo.

Dançou quando montou uma super-estrutura de comunicação, desentendeu-se com todos seus auxiliares, tentou ir além das chinelas e se transformar em conselheiro político e tomou a decisão controvertida de passar a remunerar as emissoras por programas institucionais do governo – até então, não se pagava por publicidade institucional. Acabou demitido.

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Com Farhat saindo, Figueiredo destrambelhou. O relato de suas estripulias para fora é o relato acabado da confusão que deveria ser para dentro do governo.

Antes mesmo da saída de Farhat, um menino de 7 anos indagou a Figueiredo o que ele faria com um salário mínimo da época. “Daria um tiro no ouvido”, foi a resposta do general. É hilário o ex-porta-voz Kramer tratar o caso como uma conspiração de uma professora da rede pública com um menino de 7 anos armando contra o presidente da República.

Ou quando saiu no braço com estudantes de Florianópolis que o provocaram.

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Ou quando se combinou que ele receberia o cardiologia Euryclides Zerbini e anunciaria para a Nação que fumar faz mal. E ele: “Não vou deixar de fumar”. Depois, dando-se conta da mancada: “Não deixo de fumar porque não tenho caráter”.

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Com a saída de Farhat, a construção de imagem degringolou de vez. Foi quando Figueiredo passou a sair em reportagens de sunga, praticando halteres, andando de motos – muitas reportagens do próprio Alexandre Garcia, depois que foi demitido do governo por aparecer na cama, coberto por um lençol, em reportagem de ampla repercussão da revista “Ele e Ela”.

Luis Nassif

2 Comentários

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  1. resgate da historia

    Bom dia!!!

     

    gostaria da sua ajuda para um resgate  da minha história.

    Eu soa a criança que perguntou para o figueiredo ” oque ele faria se  tivesse um pai com  dez filhos ganhando um saláio Minimo”  e ele me respondeu  que ” EU DAVA UM TIRO NA CUCA”.

    Porem não tem mais nenuma lembrança desse momento , pois a foto que tinha pendi no decorrer do tempo, sendo assim solicito  se possivel  resgatar quaquer especie registro desse momento .

    desde já agradesso a atenção

    Carlos Assução

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