Francisco Celso Calmon
Francisco Celso Calmon, analista de TI, administrador, advogado, autor dos livros Sequestro Moral - E o PT com isso?; Combates Pela Democracia; coautor em Resistência ao Golpe de 2016 e em Uma Sentença Anunciada – o Processo Lula.
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O que está em disputa num perigoso jogo?, por Francisco Celso Calmon

Não contar com o presidente da Câmara, do Senado e do Congresso, do BC e do STF, é viver sob a tensão de um fio de navalha.

Ricardo Stuckert

O que está em disputa num perigoso jogo?

por Francisco Celso Calmon

O Lula vem desempenhando o seu mandato de forma extraordinária, apesar do seu governo e de eventuais erros pontuais, como o da falta de recursos do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania e também até o presente não ter restaurada a Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos.

Os três êmes (militares, mídia e mercado) inimigos históricos da democracia social, estão na ofensiva. Quando a Globo escala Miriam Leitão para bater em Lula, é a prova evidente de que estão temendo mais sucessos do governo na economia.  

Completamente cercado na estrutura do Estado por bolsonaristas de alto coturno, faz das tripas corações para acertar nas políticas sociais. Daí a importância que a Janja, independente do estilo, tem para o Lula.

Quatro presidentes das poderosas instituições brasileiras estão sob o poder dos adversários ideológicos da democracia social. 

Por ordem de radicalismo cito: Arthur Lira, o jagunço da chantagem, Roberto Campos, serviçal do capital financeiro, Luís Roberto Barroso, lavajatista raiz, Rodrigo Pacheco, ex-bolsonarista dos mais oportunistas e agora paredista no Senado.

Lira e Pacheco provocam a desarmonia entre os poderes. 

Não contar com o presidente da Câmara Federal, do Senado e do Congresso, do Banco Central, e do STF, tendo todos eles digitais no golpismo histórico, é viver sob a tensão de um fio de navalha.

O Arthur Lira é o mais explicito golpista do parlamentarismo de ocasião, do parlamentarismo sem aprovação da soberania popular, entretanto, os demais também simpatizam com essa caricatura presidencialista em que vivemos, fruto e obra do Bolsonaro, Lira, Pacheco, sob beneplácito do STF.

Lira e Pacheco foram os donos do orçamento secreto. Com esse poder criaram feudos políticos, capazes de se manterem sem oposição às suas gestões e de fazerem seus sucessores, na perspectiva de uma dinastia funcional.

Lula também está, senão cercado, vulnerável em vários flancos do governo, ocupados por ex-bolsonaristas, do primeiro ao quarto escalão. E pelo quinta-coluna Múcio, ministro representante das Forças Armadas no governo, sempre pronto a propor o uso da GLO e com o isso trazer os militares para a ribalta. Eis o perigo implícito da GLO!

A foto do anúncio da GLO pelo presidente Lula, mostra os militares pareados com os ministros do governo. Era tudo que eles não esperavam mais e aconteceu!

As polícias da Aeronáutica, Marinha e Exército, não dão segurança, causam medo vê-las em shoppings dos aeroportos ostentando metralhadoras.

O que farão com metralhadora num shopping de aeroporto?

Metralhadoras dão rachadas, se usadas vão matar tanto mais que aqueles 257 tiros que mataram o músico Evaldo Rosa dos Santos e o catador de material reciclável Luciano Macedo.

Forças Armadas não são treinadas para fazer segurança em portos, aeroportos, shoppings, ou alhures, mas para enfrentar e matar o inimigo.

Portar metralhadores só assusta as pessoas e depõe contra o Brasil junto aos turistas.

Quem gosta de chegar num país e deparar com soldados armados de metralhadoras? E se esses soldados ficarem nervosos diante de um miliciano traficante? Vão apertar o gatilho de uma arma que solta rajadas de tiros sem muita direção? Quantos inocentes poderão ser atingidos?

Quando usada a GLO no passado, qual foi o resultado? Reduziu em que a insegurança pública no Rio?

As FFAA em termos de segurança não conseguem nem cuidar delas mesmas; seus aviões e caminhões já traficaram cocaína e armas; seus depósitos de armas e munições já sofreram furtos; pode ser que para os defensores da GLO seja um fetiche, para incautos, uma ilusão.

Voltando um pouco mais no passado, na época da ditadura, militares estiverem envolvidos com o tráfico de armas, com o jogo do bicho e com o Esquadrão da Morte, e esse período não foi passado a limpo, não houve justiça de transição. Preferem a chaga aberta em putrefação no tecido social à autocrítica e pedido de perdão à nação brasileira.  

Quanto mais luzes da ribalta da política para a GLO, as Forças estarão menos voltadas para as suas funções primordiais e maiores as possibilidades de ouvirem as vivandeiras do golpismo.

Tristeza assistir o Lula ser desmentido pelos seus ministros.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou em 27 de outubro que enquanto estiver no comando do país não será decretada uma operação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO). E foi lúcido ao dizer: “Quando você faz uma intervenção abrupta, os bandidos tiram férias. Quando termina a intervenção, eles voltam. Então, nós não queremos isso.”

E agora combinaram como os bandidos para não tirarem férias?

Entretanto, se o plano der certo e reduzir a insegurança pública, será que vamos ter uma GLO permanente, ou o que virá em seu lugar? E ainda: qual o efeito na sociedade se ao término, em maio, os meliantes voltarem de férias? Haverá uma nova GLO, continuada?

Admitindo, então, que essa GLO dê algum resultado, estar-se-á induzindo a sociedade a crer que a presença das forças militares deva prosseguir e talvez ampliá-la territorialmente?

Como os bandidos do tráfico não têm carteira assinada, podem entrar e sair de férias ao comando dos seus superiores políticos, portanto, estar-se-á introduzindo uma variável explícita e perigosa na política em geral e na especifica da segurança pública.  

Para os bolsonaristas e militares golpistas será um prato para saborear, regado com aqueles vinhos, uísques, camarões, viagras, e outras mordomias que Bolsonaro irrigou, corruptamente, às três armas, notadamente o Exército. 

Enquanto a justiça de transição não implementar todos os seus eixos no Brasil e as FFAA não se redimirem diante da nação de suas atrocidades e ilegalidades, não deveria ser protagonistas de nada além de suas funções essências e permanentes, muitas relegadas, essa deveria ser a política pedagógica a ser seguida.

Agrega a esse quadro de cerco a Lula aqueles ministros voltados mais para construir as suas candidaturas futuras a servir com lealdade ao governo Lula.

Próximo a completar um ano de governo e ainda não houve um mapeamento completo dos recursos humanos em funções de chefia da máquina pública e potenciais risco de sabotagem.

O Centrão dentro do governo e das instituições do Estado, bolsonaristas espalhados na máquina aparelhada pelo inelegível, o Congresso dominado pelo conservadorismo e reacionarismo, frente a esse quadro o que temos no contraponto?

Quais partidos e lideranças da ampla frente eleitoral e ampliada no governo fazem o enfretamento aos adversários?

O PT e notadamente Gleisi e Lindberg, Dino e Alkmin (menos), pelo PSB, Boulos, pelo PSOL, quem mais? Há outros que fazem ressaltando mais os erros do que os acertos e há os que fazem com luvas de veludo.

Quando Lula cede ao chantagista Lira, nos causa indignação, não porque não possa ceder a um chefe de outro poder, mas pela razão de estar normalizando esse “parlamentarismo” e fortalecendo, na atualidade, um dos mais corruptos políticos e inimigos do povo.

Lula sem apoio mais assertivo dos partidos de esquerda e sem mobilizar a sociedade, tende a continuar a ceder, portanto, a indagação é: até quando e até quanto?

A correlação de forças é muito desigual e sem o povo organizado e atuante, é como se diz “tem que matar um leão a cada dia”.

Nessas próximas eleições municipais iremos aferir se as alianças progressistas se manterão unidas ou haverão fissuras que comprometerão o enfretamento às forças neofascistas?

Os presidentes dos partidos democráticos já começaram a dialogar com o propósito de construir uma estratégia comum? Ou vão no improviso municipal e amadorismo de sempre? 

Vamos lembrar, por exemplo, o tanto que o secretário-geral do PSB, Renato Casagrande, atrapalhou à aliança pró candidatura do Lula.

E não foi surpresa, afinal, estendera tapete de veludo para Sergio Moro, contudo, foi ingenuidade achar que ele como governador e dirigente do PSB se converteria em progressista e facilitaria a vida do seu partido no apoio à candidatura do Lula.

Durante as eleições manteve um pé em cada candidatura e o desempenho da chapa PT/PSB no Espirito Santo foi sofrível, 58% votaram no genocida.

Não digo que traidores devam ser empurrados para as linhas adversárias, todavia, ressalto que devam ser tratados com a cautela necessária diante dos seus pretéritos de deslealdades, e não se deve passar pano e fortalecê-los como muitos pragmáticos preferem por conta de interesses pessoais.  

O que está em jogo é mais do que o governo atual, é o para onde o Brasil vai? 

São muitas as incertezas no mundo e no caminho do nosso país e poucas são as certezas.

Segundo a Carta Magna o poder emana do povo. Segundo o jagunço da chantagem o poder emana dele e do Centrão.  

Lula está de saúde renovada, nova idade, e mais atento a situação interna, por isso, quero crer que irá dar um freio de arrumação para o próximo ano com vistas a 2025, quando haverá mudança de comando na Câmara, no Senado e no Banco Central.

O próximo ano, 2024, 60 anos do golpe de 64, com as eleições municipais, será a travessia para traçar o norte para onde o Brasil vai.

Dependendo da performance eleitoral das forças democráticas de esquerda haverá reflexo imediato no Congresso e na composição do governo.

Francisco Celso Calmon, analista de TI, administrador, advogado, autor dos livros Sequestro Moral – E o PT com isso?, Combates Pela Democracia; coautor em Resistência ao Golpe de 2016 e em Uma Sentença Anunciada – o Processo Lula. Coordenador do canal Pororoca e um dos organizadores da RBMVJ.

O texto não representa necessariamente a opinião do Jornal GGN. Concorda ou tem ponto de vista diferente? Mande seu artigo para [email protected]. O artigo será publicado se atender aos critérios do Jornal GGN.

Francisco Celso Calmon

Francisco Celso Calmon, analista de TI, administrador, advogado, autor dos livros Sequestro Moral - E o PT com isso?; Combates Pela Democracia; coautor em Resistência ao Golpe de 2016 e em Uma Sentença Anunciada – o Processo Lula.

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