Deixando as digitais, por Vera Guimarães Martins

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Ombusdman, da Folha de S. Paulo

Por Vera Guimarães Martins 
 
Com a internet, basta um clique para que o deslize do passado volte a assombrar o presente e o futuro
 

O jovem casal decide pôr em prática uma de suas fantasias sexuais: transar no banheiro do avião durante o voo. Flagrados os dois, o caso redunda em queixa formal e eles cumprem pena alternativa. A história, é claro, vai parar na imprensa.

Muitos anos mais tarde, a mulher procura o ombudsman do jornal e pede que o conteúdo seja eliminado ou seu nome retirado do texto –o deslize da juventude, diz, continua produzindo consequências funestas em sua vida graças à facilidade de pesquisa dos meios digitais. O que você, leitor (ou jornalista), faria?

1. Deixaria tudo como está; a notícia é verdadeira e não tem erros. O jornal é o registro histórico dos fatos do cotidiano e é inconcebível alterar conteúdo já publicado;

2) Retiraria a notícia, como pede a moça; o conteúdo não atende ao princípio do interesse público que deve reger o jornalismo;

3) Manteria o texto, mas apagaria os nomes, porque a identificação faz pouca ou nenhuma diferença no conteúdo e provoca enormes prejuízos aos envolvidos.

Qualquer uma das alternativas suscita prós e contras que não caberiam neste espaço, mas não é propósito da coluna esgotar o assunto ou definir regra. O objetivo é levantar a discussão à luz de fato novo.

O jornal inglês “The Guardian”, pivô dessa história, optou pela alternativa três: manteve a notícia, mas retirou os nomes. A transa a jato foi um dos cerca de 50 arquivos digitais que o jornal alterou em 2014 –basicamente histórias comuns de gente comum que foi parar no jornal por malfeito menor, acusação não comprovada ou declaração que se revelou constrangedora.

Até há poucos anos, qualquer alteração de conteúdo era impensável. Hoje, muitos jornais, principalmente europeus, estão rediscutindo o velho padrão movidos pela percepção de que a era digital mexeu demais com o que está em jogo.

No tempo do impresso, histórias sem importância eram esquecidas em pouco tempo e só sobreviviam em microfilmes de bibliotecas ou bancos de dados. Com a internet, além do alcance infinito, basta um clique para até o passado mais irrelevante vir assombrar o presente e o futuro. O desimportante perdura.

Paradoxalmente, o imenso poder do digital abriga um suposto ponto de fuga, a possibilidade de “apagar” e mudar arquivos ou dificultar seu acesso. Essa condição levou a União Europeia a aprovar em 2014 a lei do “direto de ser esquecido”.

O texto prevê que qualquer cidadão pode pedir a retirada de seu nome de sites com mecanismos de buscas caso o conteúdo seja julgado inconsistente ou tenha perdido pertinência ao longo do tempo.

Desde então, o Google já recebeu 270 mil solicitações. A título de comparação, em 2013, o número de pedidos nos cinco países mais populosos da UE somou 1.084. A página do buscador não informa o total de recursos atendidos, mas o de links removidos –41% (uma solicitação pode incluir mais de um link).

É bom lembrar que o arquivo nunca desaparece, mas, sem o link, fica mais difícil ser achado. Mesmo no jornal inglês, o registro digital do impresso permanece o mesmo.

Se, por um lado, algumas mudanças parecem justas, por outro, elas abrem um precedente perigoso no princípio que norteia a imprensa. Quase todo mundo tem histórias privadas que não gostaria de ver reveladas e, no cenário atual de hiperexposição na redes sociais, a perspectiva é que o número dos que querem apagar o passado cresça de forma exponencial.

Nas últimas semanas, a ombudsman recebeu dois pedidos, que não relato para evitar que sejam reconhecidos. A resposta da Folha é a mesma de sempre: o jornal só retira conteúdo do ar por ordem judicial e não altera nada publicado. Se houver contestação sólida ou evolução relevante do assunto (conclusão de um processo judicial, por exemplo), publica-se outro texto com link para o original.

Até agora, não houve razão para mudar de posição, mas o debate internacional ora em curso sugere que o tema terá de ser rediscutido.

 

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

7 Comentários

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  1. Ora, ora, que desfaçatez !

    Podemos tirar se achar melhor- é prática contumaz. Já nem se escreve para não haver a concretização do ato.

    Ai, ai, ai, que gracinha essa agora !

    The Gardian, me ajuda aí, vai !

  2. Prå proteger tucano a Globo/Google apaga tudo…..rrssss

     

    ofensiva 1Para proteger FHC a Globo/Google  tem adotado a opção 2) Retiraria a notícia, como pede a moça; o conteúdo não atende ao princípio do interesse público que deve reger o jornalismo;

    http://www.blogdacidadania.com.br/2015/06/delegado-que-quer-investigar-lula-fez-campanha-para-aecio-ano-passado/

    ofensiva capa

     

    No momento em que a mídia antipetista promove forte ofensiva contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva com base em criminalização de doações da empresa Camargo Correa ao instituto criado por ele em 2011, descobre-se que um dos braços desse aparato difamatório, a revista Época, tratou de simplesmente retirar da internet matéria que mostra que tal empresa também doou recursos para criação do Instituto Fernando Henrique Cardoso.

    A matéria que a Época retirou da internet foi publicada em 2003 e mostrou que a Camargo Correa participou de uma “vaquinha” feita por empreiteiras e bancos para doar 7 milhões de reais para a criação do IFHC.

    O título da matéria que a revista das organizações Globo suprimiu é “FHC passa o chapéu”. Ao fazer uma busca dessa matéria no Google, por exemplo, aparece o link . Ao tentar acessá-lo, porém, o resultado é o que se vê na imagem abaixo.

    ofensiva 1

    Contudo, a revista Época se esqueceu de que existem ferramentas para localizar o cache de memória de qualquer coisa que se publique na internet. Veja como é simples, leitor:

    Este é o cache do Google de http://revistaepoca.globo.com/Epoca/0,6993,EPT435542-1659,00.html Ele é um instantâneo da página com a aparência que ela tinha em 27 maio 2015 00:13:25 GMT. A página atual pode ter sido alterada nesse meio tempo. Saiba mais

    É escandalosamente evidente o que está acontecendo no Brasil. Só não vê quem não quer. Está em curso ofensiva de um consórcio formado por partidos políticos, empresas de mídia e setores da Polícia Federal e do Ministério Público com vistas a impedir que Lula dispute as eleições presidenciais de 2018.

    Apesar de a mídia antipetista e partidos de oposição como o PSDB viverem alardeando que Lula e o PT estariam “liquidados”, sabem muito bem que, no imaginário popular, o ex-presidente se eternizou como aquele que iniciou um período de forte redução da desigualdade e de ascensão social e econômica dos setores mais pobres e injustiçados da sociedade.

    Na tarde de sexta-feira, 12 de junho, o Instituto Lula divulgou release para sua lista de contatos informando de que neste sábado a revista Veja dará sua contribuição difamatória ao consórcio antipetista. Antes de prosseguir, vale ler a nota do Instituto.

    NOTA À IMPRENSA

    Resposta pública do Instituto Lula à revista Veja

    São Paulo, 12 de junho de 2015, 

    O Instituto Lula foi procurado hoje (12/06) pela reportagem da revista Veja, a propósito de contribuições de empresas para o Instituto e das palestras realizadas pelo ex-presidente. Além de enviar e-mail com perguntas à assessoria de imprensa, a reportagem falou por telefone com o presidente do Instituto, Paulo Okamotto. A abordagem da revista revelou claro intuito de colocar as atividades do ex-presidente, legais e legítimas, em mais um dos enredos fantasiosos, mistificadores e caluniosos que têm caracterizado aquela publicação.

    A revista Veja tem um histórico de capas e reportagens mentirosas sobre o ex-presidente Lula e o Partido dos Trabalhadores. Já estampou fraudes notórias sobre contas inexistentes em paraísos fiscais, falsas remessas de dinheiro do exterior, calúnias sobre relações com guerrilhas estrangeiras e com o narcotráfico. Por estas e outras mentiras, Veja foi condenada duas vezes pelo Tribunal Superior Eleitoral a publicar direitos de resposta do PT, em 2010 e 2014. Mesmo punida pela Justiça, a revista mantém o padrão de mentir, distorcer e caluniar.

    Diante dos péssimos antecedentes da revista, de seu evidente descompromisso com a verdade e com os fatos e da sórdida campanha de difamação que move contra Lula e o PT, a assessoria do Instituto Lula esclarece publicamente:

    1) O Instituto Lula foi criado pelo ex-presidente em 2011, depois que ele deixou o governo, para trabalhar pela erradicação da fome no mundo, aprofundar a cooperação com os países africanos e promover a integração latino-americana, entre outros objetivos.

    2) Como tantas instituições ligadas a ex-chefes de governo – tanto no Brasil como nos demais países do mundo – o Instituto Lula recebe contribuições de empresas privadas para manter suas atividades. Tais contribuições são registradas e declaradas ao Fisco.

    3) Diferentemente de outras instituições ligadas a ex-presidentes brasileiros, o Instituto Lula não recebe contribuições de empresas públicas, estatais ou de governos nem oferece deduções fiscais sobre as contribuições que recebe, seja por meio da Lei Rouanet, seja por outros mecanismos governamentais de incentivo a patrocínios. Não há dinheiro público, nem direta nem indiretamente, no Instituto Lula.

    4) Para exercer o legítimo direito de trabalhar, o ex-presidente criou a empresa LILS Palestras e Eventos, por meio da qual são contratadas palestras e conferências para empresas e entidades privadas no Brasil e no exterior.

    5) Essa é uma atividade exercida legalmente por ex-chefes de governo, no Brasil e em todo mundo, bem como por pessoas de grande projeção pública, como jornalistas, artistas, cientistas, desportistas etc.

    6) Lula não cobra nada para fazer palestras para entidades sindicais, movimentos sociais, ONGs, governos, partidos políticos e grupos da sociedade civil.

    7) Os contratos da LILS são registrados regularmente e declarados ao Fisco. Não existe relação financeira entre a empresa e o Instituto Lula. São atividades distintas, com contabilidades, fontes de receita e despesas também distintas.

    8) Nem o Instituto Lula nem a LILS prestam qualquer tipo de consultoria, assessoria, intermediação de contatos etc. Nem o Instituto Lula nem a LILS fazem negócios.

    9) Tanto a criação do Instituto Lula e sua forma de manutenção como a criação da empresa LILS são fatos públicos, divulgados pela imprensa e objeto de ampla reportagem, por exemplo, na edição de 3 de abril de 2011 do jornal O Globo.

    10) Também foram divulgadas pela imprensa, há mais de dois anos, em reportagem da Folha de S. Paulo, as contribuições da empresa Camargo Corrêa e outras para o Instituto Lula e a contratação de palestras. Não há novidade no recente noticiário a respeito desse fato já conhecido.

    11) As contribuições recebidas pelo Instituto Lula e as palestras contratadas por meio da LILS não têm relação com contratos da Petrobras, feitos pela Camargo Corrêa ou por qualquer outra empresa.

    12) Os compromissos públicos e a intensa agenda internacional do ex-presidente são divulgados pela assessoria de imprensa e pelo site institutolula.org. Não procedem as  alegações, feitas por alguns jornalistas, de falta de transparência. A imprensa brasileira ignora sistematicamente a agenda de Lula, especialmente quando se trata de homenagens prestadas a ele ao redor do mundo e de participações nos mais importantes fóruns internacionais de debates, sempre em defesa do Brasil.

    13) O Instituto Lula sempre esteve à disposição das autoridades para prestar informações pertinentes a suas atividades – tanto ao Ministério Público como ao Poder Judiciário ou ao Congresso Nacional.

    14) Qualquer tentativa, por parte da revista Veja ou de outros veículos, de associar o Instituto Lula e a LILS a atos ilícitos ou suspeitos com base nestas informações, estará incursa na legislação que protege a honra e a imagem das pessoas e instituições.

    15) Estamos assistindo ao início de uma ofensiva midiática contra a imagem e a honra do ex-presidente Lula, com evidente motivação político-partidária. Como tem se tornado comum, infelizmente, em nosso País, tal ofensiva não poupará pessoas e instituições de reconhecida probidade e seriedade, no intuito de desmoralizar e até criminalizar as atividades do mais importante líder popular do Brasil. A revista Veja é um dos instrumentos dessa ofensiva.

    Assessoria de Imprensa do Instituto Lula

     

    A teoria das matérias de Globos, Folhas, Vejas e Estadões sobre o assunto não resiste a poucos segundos de reflexão. Se houvesse qualquer ilegalidade nas doações a FHC ou a Lula, é óbvio que essas doações não seriam feitas às claras. Alguns milhões de reais poderiam ser facilmente repassados fora do Brasil.

    Tampouco se pode acreditar que um presidente que fortaleceu tanto e deu tanta independência à Polícia Federal e ao Ministério Público pretendia cometer ilegalidades. Se tivesse tais intenções, teria mantido o que herdou de FHC, ou seja, uma Procuradoria Geral da República e uma Polícia Federal que jamais incomodaram o governo de plantão.

    A imprensa se posicionar contra Lula, Dilma e o PT é um fato da democracia. São empresas privadas e podem ter a posição política que quiserem. Contudo, esse consórcio antipetista é integrado por membros do Ministério Público e da Polícia Federal.

    Uma dessas autoridades partidarizadas é o delegado Igor Romário de Paula, que acaba de anunciar que “muito provavelmente” as doações da Camargo Correa ao Instituto Lula serão objeto de uma nova investigação da Polícia Federal.

    Romário de Paula é um dos delegados da Operação Lava Jato citado em matéria do jornal o Estado de São Paulo de 13 de novembro de 2014 que revelou que “Delegados da Lava Jato” exaltaram o candidato Aécio Neves e atacaram o PT durante a última campanha eleitoral para presidente da República.

    ofensiva 2

    O que se deduz de tudo isso é que há no Brasil um conluio ilegal e inconstitucional que está destruindo a democracia brasileira, pois o poder de Estado, o poder econômico e grupos políticos tratam de forjar escândalo contra um ex-presidente da República considerado pela maioria do povo brasileiro como o melhor mandatário que o país já teve.

    A vitória dessa trama diabólica representa a virtual destruição da democracia brasileira. A partir do uso desses métodos, só terá condições de chegar ao poder e governar o país o grupo político que cair nas graças de grupos de mídia que estão por trás de todo esse processo. Está se desenhando, no Brasil, a primeira ditadura midiática da história.

  3. A entrevista de Margaret
    A entrevista de Margaret Thatcher também foi retirada porque ela diz que há setores do Estado que devem ser sempre estatais.
    Se não me engano foi para Silio Bocaneira.

  4.  
    Revista Época tira do ar

     

    Revista Época tira do ar matéria que contava como FHC ‘passou o chapéu’ para criar seu instituto

    Postado em 14 de junho de 2015 às 12:28 pm (…) FONTE [LÍMPIDA!]: http://www.diariodocentrodomundo.com.br/essencial/revista-epoca-tira-do-ar-materia-que-contava-como-fhc-passou-o-chapeu-para-criar-seu-instituto/ DESANCA O PIG, MATUTO! 

    … Quer dizer, “intonci”, que o atual ‘Global’ Gerson Camarotti “delatou” o [FHC] Príncipe da Privataria’ DEMoTucana?!
    O Gersinho, “vai tomar uns cascudos” da simpática Renata Lo Prete!
    “Menino [Maluquinho] desatento!”
    Pausa para rir dessas desgraças!

    Viram, estropícios?
    A moral e a honestidade intelectual de vocês são da altura de um pé de coentro!

    KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK

     

    ***

      

    … Conta essa para o aloprado e desalmado deputado ‘Carlos Bochechudo Sampaio’!
    Ah canalhas!
    E remunerados com o dinheiro do honesto povo trabalhador brasileiro!…

    *** 

    … Mais um episódio que demonstra, cabalmente, o que significa “liberdade de expressão” do PIGolpista, fascista e terrorista:
    “Podemos retirar se achar melhor!”

     

  5. direito de ser esquecido é um avanço da civilização

    Isso que aconteceu na Europa é um avanço da civilização. Meses atrás uma articulista ds FSP argumentou que seria um atentado à liberdade de imprensa( o direito ao esquecimento).Eu e qualquer pessoa  não pode se punido  por possiveis bobagens que tenha cometido, eternamente… Para mim a imprensa é muito corajosa para enlamear uma pessoa sem recursos ou conhecimento porém não vejo a mesma atitude com os poderosos (só se for do PT).

    1. Mas os do PT NÃO SÃO

      Mas os do PT NÃO SÃO poderosos. Apenas, e por caso?, exercem alguns cargos poderosos mas momentâneos transitórios. Por exemplo: não tem contas bancárias robustas, não moram em bairros nobres tipo jardins, não têm mansões, iates, jatinhos, não mandam na polícia- de qualquer esfera – nem no judiciário, não têm bens, contas bancárias recheadas no exterior. Não recebem mesadas,etc. Etc. São apenas sobreviventes que pegam alguns caraminguás e ainda tem que dividir com aliados para financiar as eleições. 

  6. microconto para twitter e

    microconto para twitter e orquestra de 140 toques

    da vida que nos toca

     

     

    44.

     

     

    Dizem que tudo que faz ou deixa de se fazer… na Internet: cria rastroregistro. Engraçado, na vida também. É batata! A gente é que esquece.

     

    jc.pompeu, out 2013

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