Ontem falei aqui de Adolf Berle Jr., Embaixador americano no Brasil em 1945, que deu apoio à queda do então ditador Getulio Vargas. Hoje o personagem é um Embaixador bem mais grosso, Spruille Braden, que foi chefe da missão americana na Colombia (1939-1942), depois Cuba e em 1945 na Argentina, portanto contemporaneo de Berle.
Braden era um engenheiro de minas, sua familia tinha no Chile uma grande mineradora de cobre, a Braden Mining Company. Foi um grande articulador dos interesses dos EUA contra a enorme influencia alemã na Colombia, sua fama veio da chefia da Embaixada na Argentina quando entrou em conflito com Peron, que o expulsou do Pais, um rompimento que deixou cicatrizes até hoje. Os peronistas encheram as ruas de Buenos Aires com cartazes “”Braden o Peron””, manifestações de rua exibidas em todos os jornais do mundo. Saindo de Buenos Aires Braden, já no governo Truman, tornou-se Secretario Assistente de Estado para a America Latina, o mesmo cargo ocupado antes por Adolf Berle.
Em 1954, grande acionista da United Fruit, foi o articulador do golpe que derrubou o Presidente esquerdista da Guatemala, Jacobo Arbenz.
Braden foi presidente do fechado Metropolitan Club de Nova York, fundado pelo banqueiro J.P.Morgan.
Suas memorias ” Dictators and Demagogues” hoje raras, são um excelente relato dos bastidores da politica latino americana doas anos 30 e 40. Pelo seu estilo nada sutil fez inimigos tambem no Departamento de Estado.
Um episodio pouco documentado da biografia de Braden e seu papel na Guerra do Chaco entre Bolivia e Paraguay por causa do petroleo, consta que foi ele quem provocou a guerra, na epoca era diretor da Standard Oil.
Quem fez o acordo que encerrou a guerra foi seu desafeto, o Chanceler argentino Carlos Saavedra Lamas, que Braden classifica nas suas memorias como um “canalha que não vale um pão amanhecido”. Sua raiva aumentou quando Lamas, que de fato tinha ma reputação, ganhou o Premio Nobel da Paz por causa do acordo Bolivia-Paraguay.
Braden morreu em 1978, com 84 anos, em Los Angeles.
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SNS
A Sociedade Nacional de Sabões em Portugal
Em 1974 chegou a ser o maior grupo privado português.
Anúncio no jornal “O Defensor do Povo”, em Dezembro de 1894
Foi numa parte da Quinta do Marquês de Marialva (D. António Luis de Menezes), confinada ao convento de S. Bento de Xabregas, à Rua Direita de Marvila e ao rio Tejo, onde é hoje a Rua do Açúcar que se instalou a “Sociedade Nacional de Sabões” (SNS), fundada em 1919 que resultou da união de várias indústrias que aqui laboravam, como a “Saboaria Nacional do Beato” da firma “Costa & Cruz” que ali se tinha instalado em 1912, apesar de já existir desde os finais dos anos 90 dos século XIX.
A criação da SNS foi consequência de em 1919, a empresa “Sousa & Companhia” e João Rocha, um importante industrial também ligado à saboaria , terem-se associado e formado uma poderosa indústria, criando a “Sociedade Nacional de Sabões, Lda”. As instalações iniciais foram aproveitadas das originais da extinta “Saboaria Nacional do Beato”.
Em 1945 leva a cabo uma profunda remodelação e aumento do seu parque industrial, o que a leva a construir uma série de novos edifícios :
Refeitório, biblioteca e serviços sociais
Parque para recreio do pessoal
Laboratório e serviços técnicos
Silos para oleaginosas
Fábrica de adubos
Caldeira de vapor e central eléctrica
Oficina de tanoaria
Fábrica de óleos
Parque para vasilhame
Armazém para reserva geral de óleos
A produção atingiu o seu auge nos anos 40 e 50 do século XX, tendo a ‘Sociedade Nacional de Sabões’ então adquirido este terreno sob a designação de “Quinta do Brito”. Foram demolidas todas as estruturas do antigo solar, para dar lugar a esta enorme unidade fabril que laborou durante várias décadas.
O detergente para lavar louça “Sonasol”, criado em 1951, foi o produto mais famoso desta fábrica, e de Portugal. Era desta fábrica que saiam as marcas, “Margarina Chefe”, “Sabonete Beato”, “Sabonete Mélior”, “Sabão Azul e Branco” e outros produtos igualmente famosos. Depois de 1951 fabricou também detergentes, óleos industriais e alimentares, rações e fertilizantes.
Em 1956 a ‘Sociedade Nacional de Sabões, Lda.’ entra numa parceria com a ‘CUF’ e a ‘Macedo & Coelho’ e criam a ‘Sovena’, em 1956, para comercialização de óleos vegetais e sabões.
Em 1961, a Sociedade Nacional de Sabões, ainda se apresentava próspera e chegou a estabelecer um contrato com a Colgate-Palmolive para a produção dos sabonetes Palmolive em Portugal. O dentífrico Colgate e os produtos para a barba Palmolive foram produzidos pela Colgate-Palmolive em linhas de produção instaladas na antiga fábrica em Marvila.
Em seguida e lançando praticamente um produto novo por ano vêm: Sabonete Cadum(1962), pó de limpeza Ajax (1963), escova de dentes Colgate (1964), dentífrico Colgate Flúor e esfregão Bravo (1965), shampoo Palmolive (1967), after-shave Palmolive (1968), limpa-vidros Ajax (1970) e limpa-tudo Ajax (1971).
1960
Em 1974 chegou a ser o maior grupo privado português. A capacidade empreendedora e visão estratégica transformaram um negócio familiar num conglomerado industrial, pela mão de três gerações. Os grandes concorrentes eram outros gigantes como a “Macedo & Coelho” e a “CUF – Companhia União Fabril”.
Em 1975 a fábrica produzia, para além do “Sonasol”, outros detergentes líquidos das marcas “Lavax”, “Lavax Lãs” e “Soflan”
A SNS no final dos anos 70 do século XX empregava cerca de 500 trabalhadores, sendo 15% mulheres e 85% homens.
Aos poucos a “Sociedade Nacional de Sabões” adaptou-se aos novos tempos, pelo que o mesmo espaço de laboração da fábrica de sabão, viria a transformar-se num parque industrial integrando variadíssimas empresas, associando-se a outras tantas, também ligadas ao mesmo «core-business».
Área ocupada pela “Sociedade Nacional de Sabões”, em 1970
Em 1981, a SNS compreendia fábricas de óleos para fins alimentares (girassol, amendoim, soja, milho, etc. e industriais, indústria para fabrico de sabões e sabonetes, mistura de detergentes, ceras para soalhos, móveis, preparação de insecticidas, etc.
Empresas associadas no início da década de oitenta:
Sociedade Comercial Ultramarina – Óleos alimentares e lubrificantes
Previnil – Compostos Vinílicos
Sovena – Glicerina e óleos vegetais
Induve – Óleos vegetais para a indústria
Sonadel – Detergentes
Marintar – Fretes marítimos e aéreos
Psicofarma – Testes psicotécnicos
Sojornal – Jornais “Expresso” e “Tempo Económico”
Empresas integradas no Parque Industrial:
Vitamealo Portuguesa, SARL – Rações para animais
Fábrica Nacional de Margarina – Margarinas de uso doméstico e industrial
Sovendal – Produtos de alimentação e higiene
Mensor – Estudos económicos
Intermarca – Produtos de higiene e beleza
Ciesa – Publicidade
Synres Portuguesa – Resinas sintéticas
D’ Oro Vonder – Batatas fritas
Penta – Publicidade
Em 1989 a multinacional alemã “Henkel”, comprou a “Sociedade Nacional de Sabões”. Nesta altura, o grupo integrava 25 empresas, empregava 1.500 pessoas e tinha vendas superiores a 20 milhões de contos (cerca de 100 milhões de euros), o que representava 0,2 por cento do produto interno bruto (PIB) português. Encerrada esta de Marvila, a “Henkel” ainda manteve uma fábrica em Alverca até 2004, acabando por transferi-la para Espanha.
Instalações em Alverca
fotos in: Hemeroteca Digital, Biblioteca de Arte-Fundação Calouste Gulbenkian, Instituto Camões
A “Sociedade Nacional de Sabões, Lda.” entrou em processo de falência no início dos anos 90 e de toda esta aventura sobrou apenas o mirante da Quinta do Marquês de Marialva.
A decisão tomada pela família Rocha dos Santos, na última década do século passado, de desinvestir no grupo “Sociedade Nacional de Sabões” e de diversificar as suas aplicações através do mercado de capitais, culminou com a criação, em 2004, da “Ongoing Strategy Investments”, presidida por Nuno Vasconcellos.
http://mikelatrinadedivulgacao.blogspot.com.br/search/label/Marvila
Diplomats and Demagogues
http://www.amazon.com/Diplomats-Demagogues-Memoirs-Spruille-Braden/dp/0870001256
http://en.wikipedia.org/wiki/Spruille_Braden
O nome do livro me parece ser diplomats and demagogues