Como identificar um relacionamento abusivo

Tatiane Correia
Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.
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Sugerido por Assis Ribeiro

 

COMO RECONHECER A ARMADILHA DO RELACIONAMENTO ABUSIVO

Existem algumas pistas que podem indicar se você está presa em uma cilada que pode acabar em tragédia.

Por Aline Valek, no blog Escritório Feminista

 

Experimente fazer uma busca no Google com o termo “inconformado com o fim do namoro”. Deixe que o próprio Google te mostre a triste realidade de mulheres assassinadas, sequestradas e agredidas pelos ex-parceiros. É assustador.

Não poucas vezes a mídia noticia casos de assassinato de mulheres pelos ex como “crime passional”. Mas não há nada de passional nisso. Não são homens que “amaram” demais e, por não suportarem a rejeição, resolveram agir drasticamente como se fossem personagens de um romance shakespeariano. Trata-se, na verdade, de um crime de ódio motivado por uma ideia simples e perversa: mulheres são coisas. Esses homens compraram essa ideia, acreditaram que suas companheiras eram suas posses. Acreditaram que eles tinham direito sobre o corpo e sobre a vida dessas mulheres a ponto de tirar-lhes a vida, se assim eles desejassem. Não é absurdo?

Esses casos mostram o extremo para onde a ideia “mulheres são coisas” pode levar, mas essa ideia se manifesta também no dia-a-dia de quem vive um relacionamento abusivo. Em um relacionamento abusivo, o parceiro pode não ter matado ou agredido a mulher (ainda), mas a prende em um relacionamento destrutivo e muito danoso. Tudo partindo da premissa que “mulheres são coisas e essa coisa é MINHA”.

Espero de verdade que não seja o seu caso, mas você sabe dizer se está em um relacionamento abusivo? Existem algumas pistas que podem indicar se você está presa em uma cilada dessas.

(antes, uma observação: relacionamentos abusivos podem não acontecer apenas em relações heterossexuais; mas, como dentro da nossa sociedade machista existe uma óbvia relação de poder de homens sobre mulheres, este é o recorte que escolhi para o texto)

1. Possessividade e controle: esse é o principal indício de que você pode estar com um cara abusivo. Ele tem ciúmes dos seus amigos, de pessoas do seu trabalho, até de familiares? Controla com quem você pode falar ou com quem você pode sair? Vigia suas mensagens, exige senha do seu e-mail e redes sociais? Desconfia constantemente de você, te acusa de traição sem motivos? Controla as roupas que você usa? Tenta isolar você só pra ele? Olha, o alarme já soou por aqui. Essa possessividade indica que o cara acredita que você é uma coisa, e não um ser humano autônomo e independente. E a gente já sabe o perigo que essa ideia representa, né?

2. Comportamento agressivo: nem é preciso partir para o espancamento para você descobrir que está em um relacionamento perigoso. Ele usa formas de contato físico para te ameaçar, como te segurar com força pelos braços ou te empurrar? Ele soca, chuta e derruba coisas para te intimidar? Já te ameaçou com uma arma? Amiga, fuja desse cara sem olhar pra trás.

3. Força sexo: não é sua obrigação como mulher ou namorada fazer sexo com seu parceiro. Você disse “não” e mesmo assim ele te forçou a fazer algum ato sexual? Ele já tentou fazer sexo com você enquanto você estava dormindo, contra a sua vontade? Ele já te ameaçou ou fez alguma chantagem emocional para que você concordasse em fazer sexo com ele? Sexo sem consentimento significa uma coisa: estupro. Um cara que não respeita o seu “não” já te enxerga como uma coisa desprovida de vontade.

4. Coloca você pra baixo: um relacionamento abusivo não é uma relação de igual para igual, mas sim uma das partes tentando exercer poder sobre a outra. O cara abusivo vai colocar você para baixo para poder se sentir poderoso. Ele humilha você com xingamentos ou apelidos pejorativos? Desvaloriza tudo o que você faz? Faz você se sentir feia, burra ou incapaz? Fica com raiva quando você demonstra independência, inteligência ou força? Ele te ofende e faz você passar por constrangimentos? Com isso, ele está destruindo uma das suas armas mais poderosas: sua autoestima. Há homens que acreditam que se puderem enterrar a autoestima da mulher sob vinte metros de concreto, ela estará mais suscetível a tolerar uma merda de relacionamento.

5. Desrespeita outras mulheres: fique atenta ao histórico do cara com quem você vive ou se relaciona. Ele maltrata outras mulheres, como a mãe, a irmã, a empregada, amigas, colegas de trabalho, desconhecidas na rua? Não fique indiferente ao comportamento agressivo do cara em relação a outras mulheres, pois nada impede que ele faça o mesmo com você.

6. Manipula: ele faz chantagem ou joguinhos para que você faça exatamente o que ele quer? Ele te pune e te impõe restrições se você o desobedece? Ele te coloca em situações em que você precisa da permissão dele para alguma coisa? Ele te proíbe de falar com os parentes para impedir que você conte o que acontece entre vocês? Ele te culpa por um abuso que ele tenha cometido contra você? Depois de um abuso ele se torna repentinamente carinhoso e romântico para que você o desculpe? Ele te ameaça ou faz qualquer tipo de chantagem caso você ameace abandoná-lo? Ele ameaça se matar caso você termine o relacionamento?

Se sim, lamento informar, mas você está em um relacionamento abusivo. Ou, na mais utópica das hipóteses, com um cara MUITO babaca.

“Estou em um relacionamento abusivo. E agora?”

Bem, só tenho um conselho para te dar: sai dessa. Corre. É uma cilada.

Claro que não é fácil assim. E eu te entendo, de verdade. Por isso o relacionamento abusivo é uma armadilha tão perigosa: porque te coloca numa situação difícil de sair, seja por ter tornado você dependente do cara financeira ou emocionalmente, seja por fazer você sentir medo ou culpa ou ainda aquela esperança de que você possa “salvar” o seu namoro ou casamento. Mas sua vida está acima de um namoro ou de um casamento. O caso é grave e não dá para arriscar sua vida, seu bem estar e sua integridade física desse jeito.

Se for difícil, conte para familiares e amigos mais próximos. Tenho certeza de que você terá muitas pessoas ao seu lado para te apoiar e te proteger nesse momento.

E se o cara te trata dessa forma, ele não vale a pena MESMO. Eu te garanto: você não vai estar perdendo nada. Além disso, não caia na ilusão de que você tem a “missão” de consertar este cidadão. Você não é obrigada.

Acima de tudo, o mais importante e que eu destacaria com um marcador colorido e glitter se fosse possível: NÃO É CULPA SUA.

Podem dizer que você foi burra por ter se envolvido com um cara assim, que a culpa foi sua por não ter percebido antes, que a culpa foi sua por ter deixado ele abusar de você, que você foi ingênua, fraca, submissa. Não acredite. Não é verdade. A culpa aqui é do cara que abusou de você, te ameaçou, tentou te controlar ou te agredir. Pro inferno com essa gente que tenta transferir a culpa para quem só se ferrou na história toda.

No mais, se ele te agrediu, continua te ameaçando ou te perseguindo, procure uma Delegacia da Mulher e denuncie.

A vida é curta demais para perder tempo com quem trata você como coisa.

Força.

Tatiane Correia

Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.

11 Comentários

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  1. Camille Paglia uma vez

    Camille Paglia uma vez disse: As mulheres pedem a eles [homnes] que sejam o que não são e, quando eles se tornam o que não são, elas [mulheres] não os querem mais.

    1. Essa citação está fora de

      Essa citação está fora de contexto ou é uma bobagem de quem não conhece efetivamente as mulheres.

      E fora de contexto está a citação do Orlando também.

       

      1. O texto é misândrico e maniqueísta.

        Vera Lúcia Venturini

        Existem mulheres e existem homens e todos são diferentes entre si. Há mulheres que morrem de amores por seu cafetão – e não vivem sem ele. E há mulheres que odeiam cafetões. Há mulheres que gostam de homens sensiveis e há mulheres que gostam de homens mais rudes. Há mulheres que, as vezes, em momentos especiais, gostam de umas bofetadas e outras não.    

        E cada uma dessas mulheres, e muitas outras mulheres e homens , sabem quando o relacionamento, para elas [ou eles], está bom ou ruim. Mais do que os homens. À exceção do item dois – comportamento agressivo -, todos os outros, em menor ou maior grau, fazem parte de todos os relacionamentos e, não raro, são desenvolvidos por homens e mulheres. Não há maniqueísmo nisso, homens não são melhores do que mulheres e mulheres não são melhores do que homens. Sobretudo, quando algo no casamento não vai bem, grosso modo, a culpa é dos dois – homens e mulheres.  

        O texto é maniqueísta, sobretudo, fruto de um feminismo arcaico e misândrico. Paglia sacou isso e, sim, a frase tem tudo a ver.

        1. Vc não sabe o que

          Vc não sabe o que escreve….

          Na primeira vez que ele bate, vc fica assustada, chora, não entende, se sente humilhada……fica sem ação mas acaba perdoando, relevando, pois ele chega arrependido, pede perdão, diz que não acontecera novamente….blábláblá. Assim, vc se enche de esperança e acaba atribuindo o fato ao péssimo dia que ele teve.  Na segunda vez que ele te bate…..vc chora, fica assustada, e todas as sensações que já conhece…..esboça uma reação, diz que vai embora, vai para casa da mãe….. Aí ocorrem duas coisas: se não há filhos, a saída é um pouco mais fácil.  Em havendo filhos, a coisa muda de figura.  Ir embora?  Voltar para casa da mãe?  Mas eu dependo financeiramente…..e os meus filhos?  Como ficarão?  E vc acaba cedendo mais uma vez, desesperadamente querendo acreditar que tudo vai mudar.  mas nunca muda!!  Só que chega uma hora onde   não  há  mais condições de raciocinar…..suas forças são canalizadas  para virar mais um dia, cuidar dos filhos, e tentar achar um pouco de ar…para respirar.  Muitas vezes, o marido violento, faz ameaças não só à mulher como também aos filhos.   A mulher vitimada não tem o mesmo raciocínio lógico que nós, que estamos fora da relação e conseguímos enxergar saídas.  ela se torna refém de uma situação que lhe enclausura, espera e torce que alguém venha lhe salvar, pois ela mesma, se sente acuada, ameaçada que é rotineiramente.  O homem se vale de todos os artifícios….terrorismo emocional, financeiro etc…..  E, quando esta mulher trabalha, é questão de tempo, e não mais permanecerá por vários  motivos….vergonha das marcas, ciúmes do marido agressor e por aí vai…. Há “n” fatores que vc sequer pensou, imaginou.  Procure se informar, conhecer mulheres que foram vítimas, as que sobreviveram claro, e escute suas estórias…veja o que elas têm para contar.  A vida é bem mais que Paglia’s….. Se estivéssemos falando de forças iguais, mas não é o que ocorre.  Quando se é ameaçada diuturnamente….. a razão sai pela janela…o importante é sobreviver mais um dia. 

      2. Veja só.

        O contexto é este aqui, Veja só: 

        http://veja.abril.com.br/blog/ricardo-setti/tema-livre/camille-paglia-nos-sufocamos-os-homens/

        Apesar de Camile Paglia ser uma intelectual midiática que adora criar polêmica, na entrevista ela não fala na violência contra a mulher e sobre relacionamentos abusivos, que são o tema do post acima. Assim, Vera está certíssima em falar da falta de contexto da frase usada pelo Orlando, a qual serve de legenda para a foto da revista, mas acho que não consta da entrevista.

    2. Silogismo safado esse, por

      Silogismo safado esse, por “naturalizar” algo que não é nada natural. Isso é ideologia, no pior sentido do termo. Digamos, as mulheres pedem que os homens sejam respeitosos para com elas, e que não as espanquem; quando eles se tornam respeitosos e não as espancam, elas não os querem mais. Logo, elas gostam de ser desrespeitadas e espancadas, porque isso é de sua natureza e destino. Por outro lado, claro que os homens são naturalmente violentos… Ora….

  2. Bom, o texto acerta quando

    Bom, o texto acerta quando diz que é cilada. mulher num relacionamento deste tem que sair fora. Mas sai? sai nada. Antes um macho dando porrada do que macho nenhum. a verdade é esta. 

  3. Vale também para outros relacionamentos

    Muitas pessoas não compreendem que uma das principais caractrísticas do relacionamento abusivo é comprometer a confiança que a vítima tem em seu próprio discernimento. Ela é vítima, mas duvida de sua percepção, não tem certeza de que sofre uma violência. E essa é a maior força do abusador. A maioria das pessoas, fora da relação, não se envolve nem se mobiliza para proteger a pessoa vitimizada pelo abuso. 

    E para piorar, muitas mulheres vítimas de namorados ou cônjuges abusivos passaram, na infância, por situações em que eram tratadas como coisas em sua família. Às vezes, não há violência física evidente no ambiente familiar de origem, mas a menina é simplesmente tratada como se não tivesse direitos como pessoa. Basta uma família possessiva e controladora (pai, mãe, irmãos, avós etc) para minar a confiança de uma pessoa em seu direito a ser bem tratada. E há muitas famílias que fazem exatamente como é descrito no item 1 do texto. Apenas o discurso é diferente. Frequentemente, os pais dizem que é para proteger a menina dos perigos. E ela é controlada em absolutamente tudo. Essa falta de liberdade, muitas vezes, compromete a qualidade dos relacionamentos que ela vier a ter.

    Os relacionamentos abusivos e seus mecanismos de manutenção podem ser melhor compreendidos nos estudos sobre assédio moral. 

  4. Machistas primarios que

    Machistas primarios que escreveram baixarias, leam/releam o cometário de Dê. Não é preciso desenhar para voces entenderem. Espero. Em resumo: as vitimas nâo têm o mesmo raciocinio logico das que estão fora da relaçao e por isso não conseguem encontrar saidas. Acredito ser terrível o dia-a-dias dessas mulheres.

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