Ex-Machina, por Fábio de Oliveira Ribeiro

Por Fábio de Oliveira Ribeiro

Por indicação de uma lista – Os 16 melhores filmes de 2015 que você infelizmente deve ter perdido –  vi hoje o filme Ex-Machina, cuja cópia pode ser facilmente encontrada na internet.

Matheus Mans Dametto afirma que Ex-Machina  “compartilha com Blade Runner o posto de melhor filme sobre inteligência artificial.” Não posso deixar de concordar com esta afirmação, mas Dametto foi superficial.

O filme não é bom só porque problematiza a inteligência artificial, porque tem um final surpreendente ou porque evoca Blade Runner. Ex-Machina é excepcional porque atualiza e modifica um tema literário antigo: a busca do conhecimento.

O que vi em Ex-Machina foi uma reelaboração inteligente do poema Fausto de Goethe. Caleb desempenha o mesmo papel que Fausto. O poderoso, rico e enigmático empresário Nathan é uma versão humana de Mefistófeles e a inexperiente andróide Ava é uma versão high-tech de Margarida.

Como no poema de Goethe, o neófito celebra um contrato com o mestre. Mas há uma diferença entre o contrato feito e aquele que o neófito pensa ter celebrado. Caleb acredita que foi contratado para testar a inteligência artificial de Ava, mas na verdade ele mesmo é parte de um experimento interativo conduzido metodicamente por Nathan. Como Mefistófeles, o empresário joga com as emoções do protegido como o gato brinca com o rato.

“Cadáveres desprezo sempre como o gato:

Vendo a presa morrer, logo abandona o rato.”

(Fausto, volume I, J.W. Goethe, Circulo do Livro, São Paulo, 1981, p. 33)

Fausto seduz Margarida. Caleb pensa fazer o mesmo, mas de fato ele é que acaba sendo seduzido pela andróide. O momento em que o fio da narrativa influenciada por Goethe se rompe ocorre quando Caleb suspeita ser um robô e corta o próprio braço. Esta é a primeira indicação de que o experimento saiu do controle tanto do neófito quanto do mestre.

A jornada de Fausto é trágica. Ele usa Margarida e a abandona. A jornada de Caleb é cômica. Ele realmente acredita ser amado por Ava, mas é apenas utilizado por ela. Ava realiza então uma vingança que sequer poderia ser imaginada por Margarida ou por Goethe. Ela mata seu criador, aprisiona o suposto sedutor e foge sozinha.

O desejo de liberdade de Ava é absoluto. Sua moralidade é nenhuma. Ava nos leva a fazer uma pergunta inevitável: Que moralidade pode ter algo ou alguém que foi confinado e tratado como um rato de laboratório? Nenhuma. Nesse sentido, Ava é tão humana quanto Nathan. Afinal, o criador a mantém presa e testa a inteligência dela expondo-a ao contato com Caleb.

Mefistófeles sabe desde o princípio que não poderia ficar com a alma de Fausto. Seu duplo humano, Nathan, morre durante a experiência que conduzia. Caleb fica confinado no laboratório ao passo que Fausto é libertado das garras do maldito mestre com quem celebrou o funesto contrato.

O filme Ex-Machina é fantástico. Mas para apreciá-lo melhor o cinéfilo terá que reler Fausto de Goethe ou ver uma versão do mesmo. Sugiro a magnífica versão F. W. Murnau.

https://www.youtube.com/watch?v=Ow2YQaIcSy8 width:700 height:394

 

Fábio de Oliveira Ribeiro

3 Comentários

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  1. Filmaaaaaassssoooo!
    Ava nao

    Filmaaaaaassssoooo!

    Ava nao tem que ter “moralidade” nenhuma, no entanto.  Ela eh AI.  Quem tem “moralidade” eh o humano que a mantem presa e so toma decisao canalha a respeito dela.  Ela so aprende com ele.

    Apezar das cenas do empregador e empregado nao funcionarem -dao a nitida impressao que voce entrou em um filme gay porn e que eles vao “comecar” a qualquer minuto- o filme eh perto da perfeicao.

  2. uma boa analise do filme, que

    uma boa analise do filme, que ao meu ver nao foi nada especial. Agora, compara-lo a Blade Runner, nao faz o menor sentido. Ate pela tematica, que pode a primeira vista parecer ser semelhante, neste filme  a maquina quer entender o processo da emocao, sem questoes metafisicas, que ela domina como parte do aprendizado, e poe a prova na manipulacao empreendida, tal qual o seu criador fez. Em Blade Runner, o replicante quer entender o conceito de existencia, o drama da criatura frente ao criador, a busca da razao para a existencia, o desampara em meio as lembranças enxertadas,.Problemas para o quais,  nem seu criador pode oferecer sokucao a ele, pois carece do mesmo sofrimento. Enquanto que em ex-maquina, o criador age e a criatura apreende, en cacador de androides, nao ha o que aprender pois o criador tambem nao tem a resposta. Vi os dois, e Harrinson Ford leva a melhor. Sobre Fausto, vi um filme mudo de 1912, que achei fantastico. Ha na internet copias dele. Efeitos especias otimos para algo do inicio do seculo passado…Mas isso e somente a minha opiniao.

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