This is us, uma série pretensiosa e descuidada
por Carolina Maria Ruy
This Is Us começa bem. O capítulo 1 é cativante. A primeira temporada não decepciona. Olhando em retrospectiva, entretanto, vemos que o encanto inicial se deve muito ao encontro entre Randall (Sterling K. Brown) e William (Ron Cephas Jones), criando um contraponto à típica família pequeno-burguesa que a série apresenta. Com a saída de William, os problemas sobressaem.
Vista por muitos como “comovente”, This Is Us (produzida pela NBC entre 2016 e 2022 e transmitida pela Amazon Prime e pelo Star +) é uma série de muito sucesso. Mas vi com outros olhos. Outras séries famosas são muito mais críticas, inteligentes e até sensíveis. House MD, Breaking Bad, Mad Men, Lista Negra e Sopranos, por exemplo, sustentam uma ideia disruptiva e questionadora da sociedade. This Is Us, porém, é pró-sistema.
Ela quer soar como Anos Incríveis (1988), mas, em diversos momentos de suas seis temporadas, lembra Succession (2018), aquela da odiosa família bilionária.
This Is Us lembra Succession não só pela concepção egoísta e autocentrada de família. Lembra pela centralidade do patriarca, pela simbiose entre os irmãos, pelas conversas onde quem não é da família tem que se retirar, pela noção de que vale tudo em nome da família e pela alienação quanto a todo o resto. Só que há uma diferença fundamental: em Succession somos convidados a odiar os Roys e em This Is Us somos incitados a amar os Pearsons.
A série aborda temas sociais, como a questão racial, a homossexualidade, a obesidade, a adoção, traumas de guerra e o Alzheimer. Mas, ao mesmo tempo em que a família de Randall lida com situações sensíveis como a adoção de uma moça já criada, e ao mesmo tempo em que fala em “microagressões”, ele e a esposa Beth rejeitam o relacionamento da filha com um rapaz que mora no bairro pobre porque “não é gente do nível dela”.
Também não condiz com a imagem que a série quer passar, a maneira como os animais são tratados. A ideia de que salvar o cachorro da família de um incêndio é apenas um capricho que se desdobra em um erro, por exemplo, é uma grosseria. Ou a ideia de que a morte dos peixinhos das crianças foi uma “bobagem”. Ou, que esmagar o mini lagarto de estimação da filha deveria ser “engraçado”. Os criadores da série foram descuidados ou foi intencional reforçar a mensagem de que os animais são como objetos descartáveis?
Engraçado que até em séries mais violentas, como Sopranos e Lista Negra, ou mais cínicas, como House, os animais são tratados com mais dignidade.
A série flui bem, é bem amarrada e os personagens são bem construídos. E isso é um problema porque envolve o espectador em um grande fetichismo do American way of life, com todos os vícios que a expressão possui, inclusive o papel do homem como provedor e “pai de família” e da mulher como cuidadora e “procriadora”.
O final, pensado para ser grandioso e catártico, é entediante e conservador como um especial de fim de ano da Rede Globo. A série exalta momentos de união familiar como se isso fosse uma verdade universal. Como se da porta pra dentro, a família americana – o pai, que é o esteio, a mãe, idealista, e os três filhos, a menina, o bonito e o inteligente – fosse a força capaz de irradiar ondas de felicidade até atingir a paz mundial.
Sabemos, contudo, que não só esse não é um modelo realista, como ele pode ser muito opressor, dada a complexidade da natureza humana, da relação com a sociedade e com o mundo natural.
This Is Us está mais para uma novela com um roteiro batido, do tipo que gira em torno da expectativa de quem vai casar com quem. É bem produzida, mas sua essência passa longe da qualidade criativa e intelectual das grandes séries.
Carolina Maria Ruy é jornalista e coordenadora do Centro de Memória Sindical
O texto não representa necessariamente a opinião do Jornal GGN. Concorda ou tem ponto de vista diferente? Mande seu artigo para [email protected]. O artigo será publicado se atender aos critérios do Jornal GGN.
Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.
Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.
Eu simplesmente amei a série, sabe eu acredito que quem quer assistir séries, está MT pouco interessado com o que e real, séries Críticas e que mostrem realidade, queremos mesmo é descontração, entretenimento. Eu sinto muito que os roteiristas produtores e sei lá o que tenham que se preocupar com a complexidade da natureza humana. Se eu quiser ver realidade eu assisto o jornal. Me peguei querendo recomendar a série p uma amiga e pensei em dizer o seguinte: amiga estou assistindo uma série MT boa, um pouco fantasiosa as vezes,pq as pessoas lá sabem sempre o q dizer , e na maioria das vezes acaba tudo super bem rsrs mas é bem boa p vc pq sei que vc se permite ser boba, chorona e sensível assim como eu. Viva a fantasia!
Acredito que o que você compreende da série é muito subjetivo, concordo que muitas situações são romantizadas e chegam a ser irreais, mas o que carreguei pra mim foi sobre “tentar tirar momentos bons, de momentos ruins”, a série retrata diferentes situações que podem fazer parte da realidade de muitos, mas ainda assim é uma obra fictícia e deve ser tratada como tal.
Concordo que a compreensão da série se faz de forma subjetiva, mas ao meu ver a matéria ignora alguns pontos que me fizeram questionar se a reporter realmente a assistiu. Insistir em uma visão de ‘patriarcado’, quando a série transborda de mulheres fortes, que inclusive são protagonistas incríveis; simplificar questões como “não é gente do nível dela”, ou “homem como provedor e “pai de família” e da mulher como cuidadora e “procriadora” me parece ser uma forma desproporcional de desmerecer a série. O texto me deixou a sensação de se forçar a criticar os pontos de melhoria para ganhar visibilidade. A SÉRIE atende perfeitamente ao que se propõe, e se preferir a realidade sugiro apenas desligar a TV.