2014 : ainda mais difícil para o PSDB

“… e responsabilizava José Serra pela derrota de 2010.”

Aqui e ali vemos essa explicação para o 3º insucesso do PSDB em eleições presidenciais. Mas há controvérsias. Esta frase relata a hipótese de que o PSDB teria reais perspectivas de vitória para eleições presidenciais em 2010, que faltou “um pouco” (6%) e que Serra foi o obstáculo. Fico com a sensação que um auto-engano vem sendo realimentado.

Porém, há a hipótese alternativa, pouco explorada.

As coisas não andavam boas (para o PSDB) para essa eleição. O cenário era claramente continuista (como sói ser no Brasil e em qualquer lugar quando não há um problema grave em pauta), pesquisas espontâneas mostravam uma vitória do campo governista desde o início de 2009 (antes até do nome Dilma surgir, do nome Ciro sair da disputa, da novela em torno de Aécio.) Após o começo da campanha pela TV (agosto/2010) as perspectivas eram de vitória de Dilma em 1º turno.
A obtenção de 8 governadores deu-se de modo bem mais apertado que em 2006. Exceto MG, nos demais estados ficou-se com até 56%, ante resultado mais folgado anos antes. O decréscimo no número de deputados e senadores evidencia uma redução na expressão da sigla (mas o grande beneficiário não foi o antagonista PT, que recuperou/repetiu o desempenho de 2002, antes foram outros partidos como PP, PMDB, PSB.)

Não havia um programa do PSDB para o governo federal, nem uma ideia melhor em qualquer aspecto mais relevante. O partido precisava manter os dois principais governos estaduais e fez o certo para esse fim, não se opondo visceralmente ao governo federal. Serra até que se esforçou em realçar ou inventar algumas diferenças (muito pouco críveis seus discursos de “indução cambial” ou “governos sul-americanos contrabandeando drogas”, mas vá lá.) Aécio iria se apresentar tão continuista e conciliador que, como candidato principal, com ou sem Ciro, sumiria frente à candidatura “de marca” (a “não genérica”.) E qualquer debate evidenciaria isso. Na pior das hipóteses para o PT, Lula se licenciaria para fazer campanha. E muito provavelmente é assim que será em 2014 (com Aécio apenas acumulando visibilidade para 2018, ajudando na eleição de governador de MG e mantendo a cadeira de senador.) Aécio, se candidato como vice, também não alteraria a correlação de preferências e de rejeições e ainda dificultaria ou impediria a estratégia de Serra que foi até (eleitoralmente) bem sucedida.

Se Serra logrou 44% (vis-a-vis os 41% de Alckmin no 1º turno de 2006) foi justamente, por esta leitura e paradoxalmente, em função da campanha “horrível”. O crescimento não se deu nos estados do Sul, Sudeste e Centro-Oeste, apesar do apoio midiático (nesses estados o desempenho de Dilma foi muito pouco menor que o de Lula em 2006), mas nos estados menos desenvolvidos (incluindo interior de MG) onde a propaganda pelo “promessômetro” poderia ter mais apelo. Misturaram-se aqui mensagens subliminares de cunho religioso, boatos de última hora e conseguiu-se em vários estados de Norte/Nordeste tanto um resultado 50% maior que em 2006 no 2º turno como que parte dos votos se dirigisse à candidatura com menor rejeição (Marina), empurrando-se a eleição para 2º turno.
A estratégia de “desconstrução” do adversário, principalmente quando é um nome ainda pouco lembrado, usando-se de artifícios até pouco éticos, pode dar certo (como de fato muitas vezes dá e até resultou na postergação da campanha e ajudou em eleições estaduais – vide algumas eleições apertadas para governador e senador.) Mas tem um problema : ela é indicada para eleições de apenas um turno, daí seu uso comum nos EEUU.

Fizesse Serra uma campanha “bonita”, não haveria 2º turno, ficaria tão distante de Dilma quanto Lula ficou de FHC em 1994 (outra situação em que um ministro-chave de um governo bem avaliado se elegeu frente a um nome reconhecido.) Como optou-se por um “tudo ou nada”, foi assim possível chegar aos 44 milhões de votos que, no entanto, obtidos de modo tão artificial, assemelham-se muito mais a uma miragem que a um patrimônio (ao contrário de tantas especulações de M A Villa.)
O aprendizado que fica é que, sem programa e sem propostas melhores que as em andamento, não se convence o eleitor por muito tempo. Também na ausência de uma crise o eleitor fica ressabiado com mudanças, mesmo que se as prometam. Em 2014 Dilma já será um nome bem reconhecido e uma desconstrução sem fundamentos não dará certo. Não há modo da economia no Brasil caminhar pior que a do mundo nestes próximos anos, com tantas obras a inaugurar, com tantas cartas a jogar (qualquer coisa que o governo faça, como aumento na oferta de crédito, proteção à indústria, melhoria na gestão, redução no aperto fiscal, será claramente pró-cíclica.)

Uma outra questão é que, apesar disso ser contrário às expectativas dos setores mais conservadores do Brasil, o governo de coligação dos últimos 9 anos governou, de fato, como uma continuidade (melhorada) de um projeto centrista e liberal, como uma social-democracia “à antiga”, mas avançando ativamente na correção de imensas distorções em questões sociais (às quais o PSDB enquanto governo anterior poderia e deveria ter dado atenção.) Não houve nenhuma mudança significativa no arcabouço jurídico e tributário, mas uma utilização (bem mais) engenhosa do orçamento e atuação dos ministérios com vistas à inclusão e ao desenvolvimento do mercado de massas. Fosse o governo federal do PSDB no período a partir de 2003 (provavelmente) teria havido um aproveitamento da valorização de matérias-primas para uma redução de carga tributária e a manutenção de um modelo econômico um pouco mais concentrador. Mas o ponto fulcral é que a gestão atual não é exatamente fácil de contestar “pela direita”.

Ainda que haja atualmente, no nível federal, vários aspectos de gestão, segurança e modelo tributário a melhorar, pouco uma oposição conservadora poderá oferecer de melhor, ainda mais em um mundo que permanece questionando os modelos neoliberais, em que as economias melhor sucedidas estão sendo as “capitalistas de estado”. Os grandes problemas do Brasil, como a dificuldade do Estado em reduzir gargalos de infraestrutura, a necessidade de se contrapor à valorização da moeda em função de demanda por matérias-primas (e com o Pré-sal vindo), a precariedade em educação e saúde, a ainda muito presente (e histórica) questão fundiária, todos possivelmente receberão propostas e oposição do que se costuma chamar “campo de esquerda”. Ou, pelo menos, proposições não-ortodoxas.

Como o PSDB poderá lograr resultados melhores em 2014 se…

… parte dos quadros não se pode opor assertivamente ao governo federal pelos interesses regionais;
… campanhas eleitorais negativas terão menor repercussão (ou haverá espaço para um fenômeno como “Jânio Quadros/UDN 1960” no futuro próximo?);
… os maiores espaços para questionamento do governo estão no campo diametralmente oposto;
… não há um sentimento oposicionista a captar na maioria dos segmentos empresariais (a não ser o evidente setor de comunicações);
… o candidato “óbvio” não estará disposto a um arrivismo eleitoral inconsequente, posto que pode ganhar muito mais à frente com uma postura apenas de jogador participante…

Como mudar um cenário ainda tão continuista? Quem se iludirá?

Redação

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