Immanuel Kant e a guerra perpétua dos EUA e Israel, por Fábio de Oliveira Ribeiro

Kant imaginou vários princípios para garantir a paz perpétua. Um deles é a necessidade dos Estados em preservar a confiança na paz futura

Immanuel Kant e a guerra perpétua dos EUA e Israel

por Fábio de Oliveira Ribeiro

Publicado em 1795, “A paz perpétua  – um tratado filosófico” é um texto curto e vigoroso. Através dele Immanuel Kant forneceu alguns princípios que ajudaram a construir a Liga das Nações, a Organização das Nações Unidas e mais recentemente a União Europeia. Todavia, esse texto parte de um pressuposto fundamental: a de que a guerra pode ser encerrada mediante um acordo de paz e que os conflitos armados podem ser evitados.

Desde a invasão do Iraque ordenada por George W. Bush Jr., o império da violência politicamente organizada dominou totalmente a economia e a sociedade norte-americanas, deformou o jornalismo e corrompeu as instituições estatais até envenenar mortalmente a democracia nos EUA. Israel segue o exemplo do seu principal parceiro diplomático, militar e econômico.

Sem ambições diplomáticas ou perspectivas civilizatórias, esses dois países perambulam de um conflito militar para outro porque a guerra virou uma continuação dos lucros privados dos fabricantes de armamentos por outros meios. Em algum momento será impossível evitar a III Guerra Mundial e o circo de horrores administrado por Joe Biden e Benjamin Netanyahu chegará ao fim provocando a extinção da vida no planeta.

O sonho neurótico de colonizar outros planetas, financiado com oceanos de dinheiro público enquanto uma parcela crescente da população norte-americana empobrece e passa fome, completa o cenário de terra devastada. Ele é apenas uma maneira bizarra que o governo dos EUA encontrou para desviar a atenção do público reconhecendo implicitamente que já não é mais possível sequer imaginar que nosso planeta poderá ser salvo da insanidade transformada em método governamental por republicanos e democratas.

Em seu pequeno e precioso tratado, Kant imaginou vários princípios para garantir a paz perpétua. Um deles é a necessidade dos Estados em guerra preservar a confiança mútua na paz futura. Ao fundamentar esse princípio, o filósofo diz que “… uma guerra de extermínio, na qual se pode produzir o desaparecimento de ambas as partes e, por conseguinte, também de todo o direito, só possibilitaria a paz perpétua sobre o grande cemitério do gênero humano. Logo, não se deve de modo algum permitir semelhante guerra nem também o uso dos meios que a ela levam.”

Os governantes norte-americanos já parecem aceitar a inevitabilidade da perpetuação da guerra porque isso garante os lucros das empresas que fornecem armamentos às forças armadas dos EUA. As exportações de armamentos sempre aumentam quando os prepostos da Casa Branca estão em guerra com seus vizinhos. A guerra perpétua é paradoxal.

De maneira geral, um conflito nuclear cataclísmico precisa ser evitado. Mas isso não significa que ele poderá ser realmente evitado se Israel e Irã entrarem em guerra por causa dos palestinos. Nesse caso, os EUA poderá ser obrigado a intervir em defesa de Tel Aviv o que o colocará em rota de colisão com a Rússia e a China. Enquanto a III Guerra Mundial vai sendo preparada por ucranianos nazistas na Europa e por pilotos israelenses que cometem crimes de guerra em Gaza os demais Estados se comportam como se pudessem sobreviver em paz à guerra nuclear que provocará o extermínio da humanidade em todo o planeta.

A guerra permanente (uma coisa obviamente indesejada por Immanuel Kant e programaticamente rejeitada pelas instituições internacionais que as ideias dele ajudaram a construir) é um fenômeno paradoxal. Se mantida dentro de certos limites ela pode ser extremamente lucrativa apesar de desumana. Mas se o ponto de não retorno da guerra nuclear entre potências hegemônicas for atingido, os donos das fábricas de armamentos também não poderão desfrutar os lucros que eles amealharam enquanto povos distantes eram estraçalhados por bombas e mísseis convencionais produzidos para ser vendidos em grande quantidade com o maior lucro possível.

Nesse exato momento, Israel está reduz Gaza a escombros para controlar o petróleo palestino. Os lucros imediatos da guerra são colhidos nos EUA, na Inglaterra e na Alemanha pelos fabricantes dos mísseis e bombas impiedosamente despejados sobre o território palestino. Israelenses e norte-americanos estão certos de que sobreviverão a esse conflito. Mas eles provavelmente também são capazes de imaginar que sofrerão muito se as coisas saírem de controle.

Felizmente para todos nós, iranianos, chineses e russos têm demonstrado um grande autocontrole emocional. Eis aqui outro aspecto paradoxal da guerra permanente “made in USA” e “made in Israel”. A perpetuação dos lucros através da agressão militar israelense contra Gaza depende fundamentalmente da tolerância, da civilidade e da passividade de três povos que a imprensa ocidental retrata diariamente como inimigos da paz perpétua.

O foco da imprensa europeia, norte-americana e brasileira já está concentrado no Oriente Médio. Mas muitos jornalistas ocidentais apenas se esforçam para garantir o prosseguimento da agressão de Israel à Gaza. Alguns deles aplaudem a destruição do futuro da Palestina como se isso fosse algo legítimo ou desejável. Agora que os israelenses estão matando palestinos os russos malvados podem exterminar soldados nazistas ucranianos?

No livro mencionado no início, Kant faz referência a um artigo secreto que ajudaria a garantir a paz perpétua:

«As máximas dos filósofos sobre as condições de possibilidade da paz pública devem ser tomadas em consideração pelos Estados preparados para a guerra.»

Os EUA e Israel usam a guerra para garantir os lucros dos fabricantes de armamentos. Ao planejar e desencadear conflitos, os governos desses dois Estados não fazem quaisquer considerações acerca da possibilidade da paz nem tampouco levam em conta as máximas dos filósofos. O que garante a maximização dos lucros dos mercadores da morte e a perpetuação dos “negócios como de costume” representados por líderes belicosos como George W. Bush Jr., Joe Biden e Benjamin Netanyahu  é a guerra e não a filosofia.

Justamente por estar certo, Immanuel Kant deve ser ignorado. O show de horrores tem que continuar… até que em algum momento ele saia de controle e afete todo mundo os cidadãos desses dois Estados que se dizem civilizados.

Fábio de Oliveira Ribeiro, 22/11/1964, advogado desde 1990. Inimigo do fascismo e do fundamentalismo religioso. Defensor das causas perdidas. Estudioso incansável de tudo aquilo que nos transforma em seres realmente humanos.

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Fábio de Oliveira Ribeiro

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