O deslocamento do centro político brasileiro à esquerda

Por Ney Henrique

Comentário ao post “A hora de reconstruir os partidos

“a oposição está estraçalhada no Brasil, devido ao modelo de estruturação dos partidos, que os deixou reféns da gerontocracia. Matou-se a democracia interna dos partidos bloqueando a renovação.”

Querido Nassif e Queridos leitores

A forma de organização partidária é certamente um dos motivos do atual estado de saúde da oposição no Brasil. Mas existem outros fatores somados a isso.

É certo que os movimentos da história se dão de forma pendular. Mas esse movimento não é harmônico, assim como o centro da oscilação também não é fixo. De tempos em tempos algum fato extra-ordinário desloca o centro dessa oscilação. 

No Brasil moderno, o centro do pendulo deslocou-se pela primera vez com a revolução de Getúlio Vargas. Acabando com o madato das oligarquias agrárias e inaugurando o trabalhismo, Vargas deslocou moveu o centro político brasileiro à esquerda. Tanto é verdade que o mesmo Vargas voltara a ser presidente pelo voto anos depois, e mesmo um direitista conservador como Janio Quadros elegia-se presidente sob uma sigla “trabalhista” – ao menos no nome PNT.

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Os 20 anos de ditadura trataram de deslocar o centro do pendulo de volta à direita. A idéia de condicionar o social ao bom desempenho economico enraizou-se – primeiro temos que fazer o bolo crescer, dizia Delfim.

Esse deslocamento à direita foi a comum à toda América Latina – influenciada pela onda de ditaduras que ali se instalou – e apenas nela. No resto do mundo ocidental, o pós-guerra trouxe uma era de valorização dos estados de bem estar social (welfare state). Nos EUA por examplo, mesmo republicanos como Richard Nixxon e Gerald Ford expandiram as políticas de bem-estar social do democrata Lyndon Johnson (the Great Society). Na Europa a escolha era entre o Estado de bem-estar social e o comunismo soviético.

Tanto na Europa quanto nos EUA, a depressão de 30, as duas grandes guerras e a existência do comunismo soviético deslocaram o centro do pendulo pra esquerda (como resultado final). A instalação de ditaduras da America Latina seguiam a lógica geopolítica de Washington, mas não sem estar na contra-mão da própria história dos EUA.

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Quando os choques do petróleo e os gastos militares do EUA colocaram os Estados nacionais numa crise de solvência, atacar o Estado de bem-estar social virou um poderoso mote-político. O Neoliberalismo tornou-se força no mundo desenvolvido (Reagan e Tatcher).

No Brasil, os choques aceleraram o processo de abertura política. Mas com uma esquerda marginalizada durante 20 anos, não ouve nenhum deslocamento no centro do pendulo. O Brasil continuou oscilando entre direita e ultra-direita. No mundo inteiro, a queda dos regimes socialistas deram um impulso extra ao pendulo – em direção à direita – o que no Brasil contribuiu para o fortalecimento dos esteriótipos relacionados à esquerda política.

Olhando pra trás, a situação no Brasil foi bizarra: Na contra-mão por 20 anos, a política foi liberada para se deslocar justamente quando os ventos do norte voltavam s soprar pra direita.

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Assim sendo, a direita no Brasil nunca teve ou prescisou de organicidade. Esteve lá por 40 anos lá, ou por força dos generais ou pelos ventos externos do Neoliberalismo.

Fala-se muito do PSDB, mas saído de um partido fisiológico e que nunca teve um conteúdo programático, também o PSDB nunca teve um conteúdo programático. Foi desde o início uma soma de quadros descontentes com o Quercísmo. Quando os bons quadros do PSDB se foram ( Montoro, Covas, etc … ) ficaram os maus quadros. O Nassif mesmo conta que foi o Covas que impediu o PSDB de cair no colo do Collor. Sem conteúdo programático e sem a chance de ser o fiel da balança – como o PMDB vêm sendo – o PSDB viveu enquanto tinha cargos na máquina governamental. Igualzinho ao PFL.

Grupamento político sem suportando na marra por uma elites financeiras por décadas, PFL e PSDB morrem simplismente por não terem nenhuma conecção com a realidade do brasileiro. De uma oposição estéril dessas ninguém prescisa mesmo.

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Mas e o PT?

Havia sido oposição e sifrido o estigma do medo desde sua fundação. 2002 foi, antes de mais nada um momento de ruptura na história do Brasil.

Eleições majoritárias são sempre decididas no centro. Elitista, abraçado com os oligarcas do PFL e dislumbrado com os ventos externos do neoliberalismo, o governo FHC puxou o pendulo tão forte pra direita que conseguiu fazer todo mundo descontente – exceto o grupo de novos milhonarios escolhidos no plano  Real. Conseguiu rachar o centro.

Momentos de transição são sempre momentos em que forças opostas se equivalem. Em verdade, uma em ascenção e outra em declínio, mas equivalentes na transição. A frase ” A esperança venceu o medo ” retrata bem o sentimento de ruptura do centro em 2002.

Ai começa o inferno da direita: Depois de 40 anos de demonização ( o que também fez com que o PT se desloca-se mais para o centro ), o centro descobriu que o diabo vermelho não era tão feio quanto pintavam. Pior … descobriram que a vida começou a melhorar. Os que votaram em Lula, não se sentem traídos. Os que não votaram, por mais que não sejam lulistas de carteirinha, não são mais tão sucetíveis a tática da demonização.

Por pelo menos uma geração, Lula engordou o eleitorado da esquerda e estreitou o centro.  

Pela primeira vez desde Getúlio Vargas, Lula deslocou o centro do pendulo de volta para a esquerda.  

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Com isso em vista, o diagnóstico é simples: A oposição de direita é fraca por que o não-projeto de direita não existe e mesmo se existisse não encontraria eco na siciedade. Lembre-se, foram 40 anos de direita segurados na marra!

E não há oposição forte na esqueda por que existe ainda muito espaço de confluência. É a crítica do Stadile à esquerda sectária. O Gap de políticas sociais ainda é tão grande que ainda há mais motivo pra união do que pra briga.

QUanto tempo isso ainda dura? Só deus sabe … mas o PT não está parado. E Ai a incorporação da eficiência da gestão pública em conjunção ao social é a jogada de mestre!

Dilma, Haddad, Marcio Porchmann … reparem na cara que o novo PT está començando a ter!

Fixando-se como partido do social E da gestão eficiente, o PT estará por muito tempo no centro da sociedade!

É esse o espaço que a oposição vai ter que dividir com o PT … não apenas em um lado como quer o PSOL, e não apenas em no outro como quer o PSDB. É por isso que a oposição há de nascer da base … ou do PDT ou do PSB … ou dos dois!

De qualquer forma, a nova oposição vai estar a esquerda da oposição de hoje. Se não estiver, já nasce morta!

Luis Nassif

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