O presidente Lula (PT) assume, nesta terça-feira (4), a liderança do Mercosul, com objetivo de destravar o acordo de livre comércio com a União Europeia (UE). O petista afirmou, no entanto, que o bloco latino-americano prepara uma resposta às condições “inaceitáveis” impostas pelos países europeus.
“Estamos aqui para discutir o futuro do Mercosul, o aprimoramento das relações entre Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai e Bolívia. E nós queremos também preparar aqui a proposta de acordo para a União Europeia. Eles fizeram uma proposta, fizemos uma resposta. Mandaram uma carta para nós impondo algumas condições. Não aceitamos a carta. Estamos, agora, preparando uma outra resposta”, pontuou Lula.
“Queremos fazer uma política de ganha-ganha. A gente não quer fazer uma política em que eles ganham e a gente perca. Por exemplo: eles querem que a gente abra mão de compras governamentais, ou seja, aquilo que o governo compra das empresas brasileiras. Se a gente abrir mão das empresas brasileiras para comprar de empresas estrangeiras, a gente simplesmente vai matar pequenas e médias empresas brasileiras, pequenos e médios empreendedores e vamos matar muito emprego aqui no Brasil”, acrescentou.
O documento adicional da UE ao Mercosul, citado por Lula, prevê sanções em questões ambientais. O presidente ressaltou que as medidas fogem da regra e a América do Sul não irá ceder, apesar dos esforços para concluir o acordo, firmado após 20 anos de negociações, mas ainda em fase de revisão devido à resistência dos setores agrícolas de alguns países europeus.
“Queremos discutir um acordo, mas não queremos imposição para cima de nós. É um acordo de companheiros, de parceiros estratégicos. Então, nada de um parceiro estratégico colocar espada na cabeça do outro. Vamos sentar, vamos tirar nossas diferenças e vamos ver o que é bom para os europeus, para os latino-americanos, para o Mercosul e para o Brasil”, disse Lula.
“Para todos eles, eu disse que a carta era inaceitável. Tal como ela foi escrita, ela era inaceitável e é inaceitável. Você não pode imaginar que um parceiro comercial seu pode impor condições. ‘Se você não fizer tal coisa, eu vou te punir. Se você não cumprir o acordo de Paris, eu vou te punir.’ Acontece que os países ricos não cumprem um dos acordos. Não cumpriram o Protocolo de Kyoto, as decisões de Copenhague, do Rio 2002 e não vão cumprir o Acordo de Paris”, concluiu o presidente.
No último mês, durante visita ao Brasil, a presidente da Comissão Europeia Ursula Von Der Leyen prometeu diversos investimentos no País e afirmou que chegou a hora de concluir acordo. Agora, em julho, Lula visita Bruxelas, na Bélgica, para discutir o caso.
Protagonismo em energia limpa
Durante o programa, Lula avaliou que nenhuma nação tem autoridade moral para discutir a questão da energia limpa com o Brasil e que o país ainda sofre as consequências do governo anterior.
“Obviamente que nós tivemos a grosseria de um governo que desrespeitava o desmatamento, que não respeitava as terras indígenas, não respeitava as reservas florestais, mas tudo isso acabou. Nós vamos diminuir o desmatamento, respeitar os indígenas, vamos cuidar das nossas reservas florestais, vamos respeitar as terras quilombolas“, afirmou.
“Da sua matriz energética, 87% da energia [elétrica] brasileira é renovável. O mundo só tem 27%. Se você pegar a matriz energética como um todo, envolvendo combustível, o Brasil tem 50% de energia limpa. O mundo tem 15%. O Brasil tem muita autoridade moral para cuidar corretamente da preservação da nossa floresta”, continou Lula.
Seis meses para “começar a pensar em outras coisas”
As declarações de Lula foram dadas durante o programa semanal “Conversa com o Presidente“, conduzido pelo jornalista Marcos Uchôa, da TV Brasil.
A edição foi transmitida de Puerto Iguazú, na Argentina, onde Lula participará de cerimônia para receber a presidência rotativa na 62ª Cúpula de Presidentes do Mercosul.
O Brasil assume a liderança do bloco um dia após a reunião do Conselho do Mercado Comum (CMC), um encontro entre os ministros do Exterior e da Economia do Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai. O mandato brasileiro na presidência do bloco vai até o fim de 2023.
“Eu quero fazer uma presidência exemplar. Quero me dedicar para que, nesses seis meses, a gente possa, inclusive, concluir o acordo com a União Europeia e começar a pensar em outras coisas“, assegurou Lula.
Colaborou Isadora Costa.
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