As mulheres e o mercado de trabalho

Do Marcha Mundial das Mulheres

A realidade das mulheres no mercado de trabalho brasileiro

*por Jéssika Martins Ribeiro

As brasileiras já são mais da metade da população, estudam mais que os homens, ganham menos trabalhando nas mesmas funções que eles e ocupam os piores postos. Apesar de a cada ano mais mulheres ingressarem no mercado de trabalho brasileiro o patamar do desemprego feminino mantém-se mais elevado que o masculino. Outro indicador que reflete a maior precariedade do emprego feminino é a posição na ocupação: enquanto as mulheres estão concentradas nas posições sem carteira assinada os homens tem um peso relativamente maior nos empregos estáveis com melhores benefícios.

O processo de inserção das mulheres no mercado de trabalho é orientado pela divisão sexual do trabalho. Esse conceito é central para explicar as dinâmicas específicas das mulheres no mercado de trabalho. Essa divisão posiciona as mulheres nos postos menos prestigiados por elas terem que conciliar vida familiar e vida profissional. Essa conciliação é um dos aspectos relativamente recentes das novas configurações da divisão sexual do trabalho. Chama-se bipolarização do emprego feminino e é resultado dos processos que ocorrem na esfera educacional. Quando as mulheres são mais instruídas e diplomadas que os homens, provoca-se uma concentração delas em determinados postos no mercado de trabalho.

Desenvolve-se assim um polo de mulheres executivas e profissionais com diplomas de nível superior e outro com mulheres assalariadas. A consequência política desse efeito é o aumento das desigualdades sociais e do antagonismo do interior do grupo social das mulheres. Nos últimos anos, de acordo com dados do Censo Demográfico 2010 realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a distribuição de renda melhorou, mas a desigualdade entre homens e mulheres ainda é muito significativa.

Uma análise comparativa feita por uma pesquisa acadêmica apontou que o rendimento médio real das mulheres brasileiras passou de R$ 982 para R$ 1.115, entre 2000 e 2010, respectivamente, obtendo crescimento de 13,5%. O salário dos homens, por sua vez, cresceu 4,1%, passando de R$ 1.450 para R$ 1.510 no mesmo período. Apesar do aumento registrado, elas ainda ganham menos que eles. Em 2010, as mulheres passaram a ganhar em média 73,8% do salário dos homens; em 2000, esse percentual era 67,7%. Isso mostra uma leve tendência de melhora ao longo do tempo. Apesar desse avanço os cruzamentos realizados mostraram que as mulheres continuam concentradas nos estratos de renda mais baixos. Do contingente mais mal remunerado, que tem rendimento de até ¼ de salário mínimo, 71% são mulheres e 29% são homens. O dado mostra que a inserção laboral mais fragilizada é das mulheres, bastante influenciado pela forte concentração feminina nos chamados serviços domésticos. No Brasil cerca de 90% dos “trabalhadores domésticos” são mulheres. No topo da pirâmide, no estrato salarial com rendimentos superiores a 20 salários mínimos, a situação se inverte e as mulheres alcançam apenas 21% enquanto que os homens chegam a 79%. Esse dado sugere que os postos mais valorizados do mercado continuam concentrados na população masculina. Ou seja, constata-se ainda que as mulheres tenham tido significativa inserção no mercado de trabalho elas estão longe de alcançar de forma igualitária com os homens os melhores postos e remunerações.

Somada a toda essa jornada de trabalho mercantil as mulheres ainda continuam trabalhando mais horas semanas do que os homens no trabalho doméstico e de cuidados dos filhos e da família, em média 22 horas semanais e eles somente 9,5 horas, segundo dados da OIT (Organização Internacional do Trabalho). Assim se faz necessário que o Estado desenvolva políticas incisivas no sentido de fomentar a divisão igualitária, entre homens e mulheres, das tarefas de reprodução social. Como exemplo deste tipo de política destacam-se creches, licenças maternidades, redução da jornada de trabalho masculina e feminina.

Por fim, a divisão sexual do trabalho profissional não pode mudar sem que haja mudanças na divisão sexual do trabalho doméstico, do poder e conhecimento da sociedade. Desse modo, é necessário à organização das mulheres e a implementação de políticas públicas e sociais que garantam de fato a igualdade.

Jéssika Martins Ribeiro é estudante de Ciências Sociais da UFRuralRJ e militante da Marcha Mundial das Mulheres.

Luis Nassif

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