Temer defende harmonia entre Poderes para não gerar “inconstitucionalidade”

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Sem mencionar a coerção a Lula ou diretamente o governo Dilma, o discurso de Temer foi interpretado pela imprensa como mais uma crítica à gestão – o que, contudo, não ocorreu
 
 
Jornal GGN – Em novo auge da crise política, após a condução coercitiva de Luiz Inácio Lula da Silva, o vice-presidente Michel Temer voltou a falar em “harmonia entre os Poderes”. Sem mencionar diretamente o caso ou o aproveitamento da oposição para trazer novo fôlego ao impeachment da presidente Dilma Rousseff, Temer falou que o governo tem de recuperar a confiança dos brasileiros e que o país precisa de uma sociedade “pacificada”.
 
Apesar de ser a terceira vez que o vice-presidente menciona “desarmonia” do governo federal, em plena crise de popularidade da imagem de Dilma, dessa vez, Temer alertou para um viés diferente, levando as críticas não mais para o Executivo, mas para os três Poderes, incluindo, aí, o Judiciário.
 
“Não somos donos do poder, somos meros exercentes do poder. Hoje eu vejo muita desarmonia entre o Legislativo e o Executivo e, às vezes, o Judiciário. […] Toda vez que há uma desarmonia, está havendo uma inconstitucionalidade”, disse, citando a determinação da Carta Magna de que os Poderes devem ser “independentes”, mas “harmônicos entre si”.
 
A declaração do vice ocorreu na manhã deste domingo (06), na cidade do interior de São Paulo, Tietê, para a comemoração do aniversário do município onde nasceu. 
 
Apesar do discurso proferido trazer algumas semelhanças a outros em que citou a “unidade”, no ano passado – em agosto, quando houve a ameaça da abertura de um processo de impeachment na Câmara, e em dezembro, quando o impeachment estava em curso e Temer enviou uma carta com queixas à Dilma -, as manchetes enfatizaram um possível tom de crítica do vice, sem que o mesmo tenha ocorrido.
 
A reportagem da Folha de S. Paulo, por exemplo, publicou: “No momento em que a possibilidade de impeachment da presidente Dilma Rousseff ganha novo fôlego por causa da Operação Lava Jato, o vice-presidente, Michel Temer (PMDB), pregou ‘unidade'”. O discurso “de pacificação” do vice é destaque no jornal ao lado da reportagem “Lula pode ser alvo de ação civil de improbidade administrativa na Lava Jato, que tem como uma das punições a proibição de disputar eleições”.
 
Mais relacionado ao projeto do PMDB, com a Caravana da Unidade, Temer tentou apaziguar os ânimos da crise política, mas ainda mais mencionando a econômica, com a sua fala. “Hoje, o que o país mais precisa é de unidade, de reunificação, um instante em que todos têm que dar as mãos para tirar o país da crise”, disse. “Vamos unir esforços, o Legislativo, o Executivo, o Judiciário, os setores produtivos, porque é inadmissível que um país como o Brasil hoje tenha milhões e milhões de desempregados. É a iniciativa privada, prestigiada pelo poder público, que pode gerar empregos”, completou.
 
Ao final do discurso, o peemedebista saiu sem falar com a imprensa e não quis comentar sobre a mais recente fase da Operação Lava Jato, nesta sexta-feira (04).
 
 
Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

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