A notícia da não vitória, por Matê da Luz

por Matê da Luz

Domingo aqui em casa foi dia de encontro. A família por parte da mãe se reuniu antes de votar e, broches #ForaTemer no peito, caminhou pela região da Paulista, cada uma ou duas em direção ao colégio eleitoral. Estava na cara: a gente era Haddad.

A gente era, não. A gente é. Porque mesmo que ele não tenha tido a menor chance na batalha contra o “não-político” João Trabalhador Dória, a gente sabe o que ele fez pela nossa cidade e, tomara Deus e todas as forças naturais e sobrenaturais, continue brilhando no que conquistamos, especialmente nós, as livres de alma.

Quem é livre de alma, como algumas das mulheres da minha família, sabe o valor que tem uma ciclovia. Pra andar de bicicleta, de patins, de skate. Pra ver gente que quer sair na rua e, veja bem!, agora tem segurança e um motivo a mais – pessoas que se encontram de verdade, na vida real, oras bolas, quer melhor projeto de reurbanização pra uma cidade imensa como São Paulo? 

A Paulista fechada aos domingos, ah, que delícia. “Ah, mas isso porque você não tem que blablabla…”. Sim, eu tenho. Onde moro, pra ir pra quase qualquer lugar, eu preciso passar por aquela redondeza e, nem mais nem menos, nao me atrapalhou em nada refazer a rota. Especialmente em comparação às tardes deliciosas que passamos por lá, caminhando debaixo pra cima, vendo e convivendo com pessoas. De novo, um projeto de uso efetivo da cidade, que faz com que gente encontre gente e, claro, se humanize. 

“Fica fácil falar quando a gente não mora na periferia”. Pois é, fica mesmo. A vida deve ser muito mais simples pra mim e pra você do que pra quem mora nas margens da cidade grande, de fato. E por uma questão chamada sororidade, só posso dizer que dos projetos periféricos que mais aprecio e que foram implementados pelo Haddad estão o ônibus que para fora do ponto para mulheres e idosos e o ônibus da madrugada, algumas linhas que rolam enquanto o metrô não abre. Além disso, andei lendo, tem wi-fi em praça pública e o passe livre que, ao meu ver, expande os horizontes da molecada – bem como assegura o direito de ir e vir, o que já é lindo. A outra coisa que eu mais gosto nessa gestão é a questão da velocidade, essa coisa que alguns chamam de indústria da multa (ao invés de respeitar a lei de trânsito e não ser multado, tão simples, não parece?) – meu cunhado tem moto e atesta que a segurança triplicou na rotina de quem circula por ali e acolá. Os dados de acidentes e trânstio também não mentem, né, não estou olhando somente para o meu umbigo – algo em torno de 30% menos vítimas fatais em ocorrências de trânsito numa cidade maluca como SP é para ser celebrado. Ou não, nunca entendi o questionamento “dos outros” sobre o quanto é ruim a velocidade mais baixa…

Bem, a gente votou e voltou. Voltou pra almoçar tarde, um almoço gostoso de domingo, quando a primeira pesquisa de boca de urna estourou na TV: com quase 50% dos votos, Dória estava abocanhando a prefeitura dessa São Paulo tão querida. Foi fazer o café e puft, pronto, ganhou, primeiro turno, “calma, é verdade isso?”, fato ou especulação, oi, só mais um minuto, não, peraí, como assim “já ganhou?!”. 

Ganhou. E a gente aqui em casa ficou com aquela cara de não entendi nada que fica quem ama muito e vê indo embora. Sabe como é, esse amor pro qual não existe nem comparação, porque o que você viveu foi tão bom, tão mágico e feliz que acaba duvidando que outro alguém pode superar. Ah, Dória, veja bem, a gente até tem um ou dois motivos pra argumentar contra, mas entenda que o principal, que é o charme de entregar uma cidade de troca, uma troca justa, gostosa, de convivência e cidadania, poxa vida, isso a gente sabe que não vai mais ter. E não há alegria de domingo que resista a um rompimento anunciado desse. 

Até logo, Haddad. A gente ainda – e sempre! – vota em você. 

Mariana A. Nassif

2 Comentários

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  1. Uma pena

    Da uma pena mesmo ver um quadro como o Haddad perder para uma tranqueira vestida de Prada, mas é isso ai, bora para frente. O Haddad é jovem e vai agora ter tempo de pensar no que fazer de sua vida politica. Quem perdeu mesmo é a cidade de SP. Mas escolhas são escolhas.

  2. Texto típico de uma

    Texto típico de uma analfabeta política. Calma, calma, cara Matê, não estou partindo para a ofensa não, também sou um analfabeto político e vou explicar. Todos nós que nos acreditávamos politizados estávamos errados e navegamos na fantasia, sem entender o real significado do momento político. “Não vai ter golpe”, dizíamos, e estávamos surdos aos nossos contrários, “não vai ter golpe, vai ter impeachment”. “O impeachment não passará no Supremo”, garantia um renomado jurista, também analfabeto, dizendo que um determinado Ministro ficaria falando sozinho, quando já estava conversando com todos, pois “está tudo na Constituição”, quando muito “um tropeço”. “Não há crime para embasar o impedimento”, diz o analfabeto advogado de defesa, ignorando que no novo estado de direito isso não é mais necessário. E sem querer elencar todas as provas de nosso analfabetismo, partindo para o assunto de seu post, Haddad é bom, pois construiu hospitais, ousou combater o automóvel com pistas exclusivas para ônibus, diminuiu a velocidade nas marginais, fechou a Paulista, etc., etc.. apedeutas que somos, não percebemos que o paulistano não quer essas coisas, quer velocidade, não quer andar de ônibus, não quer espaço público para convivência de pessoas. “São midiotas lobotomizados” dizíamos do alto de nossa ignorância, ao não percebermos que a midia é muito mais o canal dos seus anseios e menos o agente de seus atos. São Paulo é onde pobre vota em rico, negro é contra cotas e favorável à “meritocracia”, não há preconceitos, pois todos até têm um filho que é amigo de um  nordestino e muitos até gostam de uma empregada “de cor”.  São Paulo é autêntica, assume isso tudo, sabe o que quer e sabe o que não quer. Como somos ignorantes e até um pouco arrogantes dizemos que eles não sabem votar ou que sofrem influência na hora do voto. Erro grande, eles sabem votar. Eles realmente acreditam que o plutocrata é rico por méritos enquanto o pobre assim o é por culpa. Há sim as exceções, cara Matê. Podemos citar você e sua família, conforme seu relato. E eu até tenho um amigo que é tambem uma exceção. Grande abraço.

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