Por que Ecosofia?, por Luiz Alberto Melchert

Li Worldly Phylosofers de Robert Heilbroner e me apaixonei pelo pensamento econômico como construção filosófica.

Ecosofia

Por que Ecosofia?

por Luiz Alberto Melchert de Carvalho e Silva

Muitos perguntam por que o grupo que criei para expor minhas ideias recebeu esse neologismo como nome, que passa a nomear também esta coluna. Para entender isso, é preciso voltar um pouco no tempo e lembrar os anos 1970, quando comecei a estudar Economia. Naquele tempo, definia-se esse ramo de estudos como a “ciência das opções”. Claro, o mundo já se debatia, havia mais de cem anos, com as questões propostas por Marx e as respostas dadas pelo pensamento capitalista. Nada de novo até então. Foi com o passar da minha experiência profissional, seja como empresário, seja como acadêmico, que me veio a compreensão que as opções vêm do pensamento. As opções podem ser infinitamente mais profundas do que escolher entre manteiga e canhões, como exemplificava Samuelson, ou entre loiras, ruivas ou morenas, como propunha Mário Henrique Simonsen. As escolhas são construídas pelo pensamento. Foi então que li Worldly Phylosofers de Robert Heilbroner e me apaixonei pelo pensamento econômico, não como matéria acadêmica, mas como uma construção filosófica. Deu até vontade de completar a obra, posto que o autor já se foi.

Primeiro, é preciso entender as opções como passos em um caminho. Um caminho só existe se soubermos aonde pretendemos ir. É então que vem o segundo conceito, o de liberdade. A liberdade reside na possibilidade de escolher o destino e quais serão os passos intermediários. Ora, uma ciência não se pode resumir a passos, ela tem que ir mais além, tem que estudar fenômenos completos, mesmo que eles se manifestem como preocupações como o bem-estar social ou o aproveitamento dos recursos naturais.

Liberdade não é o que se nos impõe como pensamento cinematográfico como em Free Willy, ou em Elza, a Leoa. Sempre que esse conceito nos é introjetado pela mídia, dá-se a ideia de amplidão, de não destino, de cabelos ao vento, de movimento para lugar algum. É que esse pensamento coaduna com a ideia de “laissez-faire” preconizada pelo capitalismo mais radical, que se recusa a ser domado, a ser civilizado e, de tempos em tempos, ressurge como ameaça às instituições, algumas vezes como ultraliberalismo, outras como anarcocapitalismo, sempre com uma aura de  conservadorismo. Então, na escola, nos vendem que a liberdade pode ser representada pela  restrição orçamentária e que é natural que ela seja mais generosa para uns do que para outros.

A liberdade é poder optar entre viver numa sociedade do ter, ou numa sociedade do usar. Esse é o embate que nos é imposto pela finitude dos recursos e pela infinitude das necessidades humanas. Numa sociedade do ter, o bem-estar vem da possibilidade de se possuir o maior número possível de bens, visando maximizar a satisfação, como quer a teoria da utilidade. Na sociedade do usar, a satisfação vem de ser possível tirar proveito do que a sociedade oferece sem, contudo, ser-se obrigado a comprar tudo o que possa ser útil. Consequentemente, o bem-estar vem da possibilidade de o indivíduo ter garantida sua dignidade pela possiblidade de desfrutar minimamente o aparato social.

É de se supor então que a Economia seja a ciência que estuda a vida material do ser humano, o que, forçosamente, pressupõe a tarefa árdua de pensar, daí misturar Economia e Filosofia.

Luiz Alberto Melchert de Carvalho e Silva é economista, estudou mestrado na PUC-SP, é pós-graduado em Economia Internacional pela Columbia University (NY) e doutor em História Econômica pela USP. No terceiro setor, sendo o mais antigo usuário vivo de cão-guia, foi o autor da primeira lei de livre acesso do Brasil (lei municipal de São Paulo 12492/1997), tem grande protagonismo na defesa dos direitos da pessoa com deficiência, sendo o presidente do Instituto Meus Olhos Têm Quatro Patas (MO4P). Nos esportes, foi, por mais de 20 anos, o único cavaleiro cego federado no mundo, o que o levou a representar o Brasil nos Emirados Árabes Unidos, a convite de seu presidente Khalifa bin Zayed al Nahyan, por 2 vezes.

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Luiz Alberto Melchert de Carvalho e Silva

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