Cientista questiona serviço de inteligência israelense: “O que é pior? Não saber dos ataques ou saber e não fazer nada?”

Carla Castanho
Carla Castanho é repórter no Jornal GGN e produtora no canal TVGGN
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Após renúncia do diretor do serviço de inteligência, Pedro Costa Jr. analisa o debate global sobre a falta de eficácia do sistema israelense

A bandeira de Israel. Taylor Brandon/Unsplash

A guerra entre Israel e Hamas teve um novo desenvolvimento que atraiu a atenção da mídia na última segunda-feira (22/04), quando o diretor do serviço de inteligência militar israelense, General Aharon Haliva, renunciou após assumir a responsabilidade por não detectar o ataque do Hamas em 7 de outubro e pelo desencadear da guerra que já vitimou mais de 30 mil pessoas apenas na Faixa de Gaza.

O grande questionamento feito globalmente sobre os serviços de inteligência de Israel aponta para dois caminhos: O que é pior? Um serviço de inteligência sofisticado como o de Israel não saber dos ataques ou saber e não fazer nada?

“Estava acompanhando a CNN Internacional e o grande questionamento é o seguinte. O que é pior? Um serviço de inteligência tão caro como o de Israel, tão sofisticado, badalado, não saber dos ataques ou saber e não fazer nada? Esse debate alcançou o mundo”, afirma o cientista Pedro Costa Júnior em entrevista ao TVGGN 20 Horas [assista abaixo].

Na visão de Costa Júnior, a demissão indica uma certa fragilidade do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, por desmentir a eficácia do serviço de inteligência de Israel, considerado um dos melhores do mundo até então.

“É o primeiro alto escalão que renuncia desde os ataques do Hamas no dia 7 de outubro do ano passado, e que expôs o famoso, famigerado serviço de inteligência de Israel, dito como o serviço de inteligência mais sofisticado do mundo. Basta ver o que Israel destina do seu orçamento público para esse serviço de inteligência”, observa.

O fracasso de Benjamin Netanyahu: “Em apenas seis meses transformou o capital político em pó”

O serviço de inteligência israelense é posto em xeque a partir do momento em que a inteligência egípcia alertou o Estado de Israel sobre o risco de um ataque terrorista por forças externas e nada foi feito – intencionalmente ou não – explica Pedro Costa Júnior.

“Desde o primeiro momento nós falamos isso. Uma semana antes do ataque isso era especulado, cinco dias antes as coisas começaram a ficar claras, e três dias antes o serviço de inteligência do Egito avisou o serviço de inteligência de Israel. E isso está publicado”, relembra.

Para o cientista político, Benjamin Netanyahu fracassou em suas duas principais missões na guerra, “de maneira solar, olímpica, para usar o termo que vai entrar muito nos próximos dias”.

Primeiro: é amplamente reconhecido por estudiosos de terrorismo e contraterrorismo que não se pode simplesmente eliminar um grupo terrorista, como se viu com a Al-Qaeda, que ainda mantém influência em território afegão mesmo após os esforços para erradicá-la. A abordagem mais eficaz é enfraquecê-lo ao longo do tempo.

“Você não extermina um grupo terrorista, você pode até fortalecê-lo e no longo prazo torná-lo mais robusto. A proposta já errou ao sair, seis, sete meses depois da guerra o Hamas não foi eliminado”.

A pressão sobre Netanyahu piora quando abarca os reféns israelenses e a promessa ainda não cumprida pelo político de trazer todos de volta a Israel – pressão que não se limita apenas aos judeus reféns, mas também aos familiares e ativistas que protestam constantemente.

“Parentes fazem protestos o tempo todo, o dia todo, e tem repercussão na mídia, tem voz na mídia israelense, fora da mídia israelense. Ele falhou, não consegue fazer isso”.

O fracasso de Netanyahu é ainda mais visível se rebobinarmos para o dia 7 de outubro, dia do ataque do grupo Hamas, período em que Israel detinha uma posição privilegiada de apoio internacional. “Em apenas seis meses transformou o capital político em pó”.

“Netanyahu estava com a bola na na mão, com a bola no pé, porque havia uma comoção internacional depois do dia 7 de outubro, naquele momento pró-Israel, o mundo todo estava pró-Israel, havia um consenso. E ele conseguiu, em seis meses, transformar tudo isso em nada, em pó. Pelo contrário, hoje 30 mil pessoas foram assassinadas inocentemente pelos assassinos dessa guerra colonial que ele presta contra a Palestina. São mais de 30 mil vítimas civis. Ele colocou todo esse capital político que ele tinha na mão contra Israel, jogou contra o próprio, o que tem aumentado inclusive o antissemitismo pelo mundo”, explica o cientista.

Assista à entrevista completa abaixo:

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Carla Castanho

Carla Castanho é repórter no Jornal GGN e produtora no canal TVGGN

3 Comentários

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  1. Existe um “faz de conta” corrente geral nas mídias sobre o tema do ataque terrorista do Hamas. Um serviço de inteligência como o de Israel com absoluta certeza sabia de tudo e todos os detalhes, muito provável que seus agentes tenham até colaborado. Tudo não passa de uma estratégia de estado para dizimar a nação palestina e o ataque do Hamas seria necessário para que a opinião publica mundial apoiasse o que ocorre hoje. Um governo com este viés estava no comando, portanto tudo foi facilitado e o plano segue em frente.

  2. Quando a gente fala dessa situação entre Israel e Palestina, o sistema de comunicação viciado ocidental, leva para uma análise errônea do problema. Só uma analogia simples, ao mesmo tempo que condenam ocupações legais do MST, defendem invasão de Israel na palestina, ao mesmo tempo que condenam atos terroristas no mundo, não condenaram Israel e os EUA por matarem no Iraque o ministro da defesa do Irã, não condenaram o ataque na embaixada do Irã na Síria, está muito estranho a mídia nessa época digital. Volto a salientar, as pessoas hoje tem muito mais noção de geopolítica que a maioria dos jornalistas hoje na mídia, viraram pastores impostores da informação falsa e da enganação de incautos, viraram terraplanistas da notícia.

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